ALPHONSUS DE GUIMARAENS


O outro nome máximo do Simbolismo brasileiro, Alphonsus de Guimaraens (1870-1921), forma latinizada de Afonso Henriques da Costa Guimarães, nasceu em Ouro Preto, filho de pai português, sendo sua mãe sobrinha materna de Bernardo Guimarães. Aos dezessete anos, período em que escreve os primeiros versos, começa a namorar sua prima Constança, filha do autor d'A escrava Isaura, que vem a falecer, tuberculosa, no final do ano seguinte, 1888. Esse fato marcará toda a obra do poeta, indubitavelmente o grande poeta da morte na literatura brasileira, e o maior poeta católico da língua portuguesa. (Alexei Bueno, Uma história da poesia brasileira)

HÃO DE CHORAR POR ELA OS CINAMOMOS... (na minha modesta opinião, o mais bonito soneto da língua portuguesa)

Hão de chorar por ela os cinamomos,
Murchando as flores ao tombar do dia.
Dos laranjais hão de cair os pomos,
Lembrando-se daquela que os colhia.

As estrelas dirão – “Ai! nada somos,
Pois ela se morreu silente e fria...”
E pondo os olhos nela como pomos,
Hão de chorar a irmã que lhes sorria.

A lua, que lhe foi mãe carinhosa,
Que a viu nascer e amar, há de envolvê-la
Entre lírios e pétalas de rosa.

Os meus sonhos de amor serão defuntos...
E os arcanjos firão no azul ao vê-la,
Pensando em mim: – Por que não vieram juntos?”

Um comentário:

  1. Sem desmerecer o ssneto acima e sendo apenas um mero leitor de poesias, ponho aqui os dois sonetos que me parecem máximos na Língua Portuguesa, o primeiro de Mário Faustino, o outro de Bruno Tolentino.

    ESTAVA LÁ AQUILES, QUE ABRAÇAVA

    Estava lá Aquiles, que abraçava
    Enfim Heitor, secreto personagem
    Do sonho que na tenda o torturava;
    Estava lá Saul, tendo por pajem
    Davi, que ao som da cítara cantava;
    E estavam lá seteiros que pensavam
    Sebastião e as chagas que o mataram.
    Nesse jardim, quantos as mãos deixavam
    Levar aos lábios que o atraiçoaram!
    Era a cidade exata, aberta, clara:
    Estava lá o arcanjo incendiado
    Sentado aos pés de quem desafiara;
    E estava lá um deus crucificado
    Beijando uma vez mais o enforcado

    Escapávamos a esse lugar e, de repente,
    uma mulher que poderia ter cinqüenta
    ou vinte e poucos anos, tanto a dor aparenta
    os extremos que toca, ao passar-nos à frente,

    toda despenteada pelo vento, entredentes
    disse-nos, com um olhar de soslaio: ‘É cinzenta
    a hora da amargura, cai do céu sobre a gente…’
    Não estava embriagada nem louca, estava atenta
    àquele instante em que a insistente ventania
    ameaçava ceder o palco à chuvarada:
    olhos postos no temporal que Alexandria
    havia décadas não via, desgrenhada,
    tinha algo de grotesco, uma hiena que ria.
    Sofria, era evidente. Trocamos de calçada.
    (Poema I-174, Imitação do amanhecer de Bruno Tolentino)

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