STELLA LEONARDOS

A obra poética de Stella Leonardos da Silva Lima Cabasse é multiforme, rica na experimentação de várias linguagens, tendo se dedicado, nos últimos tempos, ao romanceiro, cancioneiro e a rapsódia, onde o histórico e as tradições populares, dos vários recantos do Brasil, lhe servem de substrato para o que alguns críticos literários já chegaram a situar como seu neotrovadorismo. [...]

Varias vezes premiada, homenageada com medalhas e outras distinções, a atividade literária e cultural de Stella Leonardos começa na década de 50, quando lança Poesia em três tempos (1956), que conquista o Prêmio Olavo Bilac da Academia Brasileira de Letras. E durante as quatro décadas seguintes não parou mais, em destaque outros livros de poesia: Rio cancioneiro (1960), Cancioneiro de Natal (1964), Cantares na antemanhã (1970), Cancioneiro romeno (1972), e daí em diante desenvolvendo seu Projeto Brasil, ou seja, dedicando a cada estado um cancioneiro ou uma rapsódia. (Da quarta capa de Saga do planalto.)



ERNESTO ROQUE: TE LEMBRAS?

(Nota: Ernesto Roque dos Santos foi um seresteiro de Diamantina.)

Nas noites de Diamantina
entre serestas sonhantes
passa o jovem Juscelino.

Lento passo, devaneando.

(Morena da luta nova!

"Quem ama para dar provas
Deve três cousas cumprir:
Tocar violão, fazer trovas,
Havendo luar não dormir".

Morena da lua nova!

Não me põe assim à prova,
não despreza meu sentir.
Deste amor não te dou prova?
Três coisas não sei cumprir?
Ao violão não faço trova?
Se faz lua: vou dormir?)

Nas noites de Diamantina
passa o jovem Juscelino
na passada largoandante,
o coração seresteando.

No céu: lágrimas? diamantes?

(Do livro Saga do planalto)

MENINO ARRIEIRO

Por uma antiga vereda
que envereda em bosque verde
vem vindo o menino arrieiro:

— Minha lua, luazinha,
luz um pouco esse teu luar,
luz uma luz pequenina,
luz capaz de me enluarar!

Bandos de sombras espiam,
conspiram pelo caminho,
vão perseguindo o menino.

— Eu trago dois cavalinhos
que não podem ser roubados:
são pequenos e retintos.
Padre Vlad há de comprá-los.

Um clarão arde no muro,
bruxoleia e tenta, bruxo,
tornar o menino mudo.

— Arreda, lua, o perigo!
Eu te darei de penhor
à entrada de meu redil,
uma fresca manjedoura...

Surge vulto mal-assombro.
Vovô Cotoaranza assoma?
O canto menino some.

Mas — sorriso que alumia —
a lua vem aclarar.
Dilui o bruxo sombrio.
E o menino ri ao luar.

(Do livro Cancioneiro romeno)

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