América - Campeão Mineiro - 1948. Em pé : Humaitá , Lazzarotti, Esteves, Aldo Gaia, Lusitano. Agachados: Valinho, Nandinho, Fernando, Celso, Murilinho |
Refiro-me a Nandinho e Tuta, dois jogadores grapiúnas que brilharam na elite do futebol brasileiro, na época do pré-estádio do Maracanã. Os jogos mais importantes no Rio eram realizados até então em São Januário, o maior estádio de futebol carioca. O futebol nacional vivia a transição do amadorismo para o profissional.
O jogador Nandinho atuou no Flamengo, formando com Zizinho e Pirilo o célebre trio do primeiro tricampeonato do rubro-negro carioca. No entanto, deu seus primeiros passos no caminho do futebol jogando pelada no campo das pastagens de Berilo Guimarães, em Itabuna. Foi para Salvador e ingressou no time juvenil do Bahia onde mais tarde faria parte da equipe profissional. Sagrou-se campeão no time profissional do tricolor baiano em 1940. Quando retornava a Itabuna, treinava para manter a forma no Campo da Desportiva. Do Bahia transferiu-se para o Flamengo. Depois de passagem destacada no rubro-negro carioca foi jogar no América mineiro onde se sagrou campeão e se tornou ídolo em várias temporadas.
O jogador Tuta veio de Uruçuca, antiga Água Preta. Atuou no futebol de Ilhéus e de Itabuna, onde vestiu a camisa da Associação, poderoso time que dominou o futebol amador do Sul da Bahia na década de 40. Foi jogar em Salvador no Bahia e, no tricolor baiano, sagrou-se também campeão. De lá chegou ao Vasco da Gama, na época em que o esquadrão de São Januário formou um dos times mais importante de sua história, conhecido como Expresso da Vitória. Nessa equipe lendária, jogavam Barbosa, Augusto, Ely, Danilo, Friaça, Ademir Menezes e Chico, que foram servir à Seleção Brasileira de 1950, vice-campeã mundial.
Vasco da Gama – Torneio dos Campeões – Minas Gerais - 1948. Em pé: Rafanelli, Barbosa, Augusto, Ely, Jorge e Danilo; Agachados: Djalma, Maneca, Friaça, Tuta, Chico e o massagista Mário Américo. |
Importa lembrar que o grande derby do futebol mineiro era América e Atlético até meados de 1960. O Cruzeiro ainda não havia surgido como uma potência do futebol brasileiro, com aquele famoso time integrado pelo goleiro Raul, os craques Tostão e Dirceu Lopes, Natal, Zé Carlos e Euvaldo. O América chegou a se sagrar dez vezes campeão na época que o seu grande rival era o Atlético.
Para comemorar a reinauguração do Estádio da Alameda, modernizado e ampliado em março de 1948, de cinco mil para 15 mil espectadores, o América promoveu um torneio quadrangular, que ficou conhecido como o Torneio dos Campeões. A disputa reuniu os campeões estaduais de Rio de Janeiro (Vasco), de São Paulo, representado pelo São Paulo, Minas Gerais pelo Atlético, campeão dois anos antes, além do anfitrião América, que se sagrou campeão do torneio e de Minas Gerais, no final daquele ano.
Nandinho fez parte do esquadrão do América, campeão mineiro em 1948, que tinha como técnico o polêmico Yustrich. Já Tuta jogou no Vasco da Gama, que tinha como técnico Flávio Costa, no Torneio dos Campeões , realizado naquele mesmo ano em Belo Horizonte.
Enquanto isso, em 1949 o time do Arsenal, o mais popular da Inglaterra, fez uma excursão ao Brasil onde em São Paulo enfrentou o Corinthians, derrotando-o, e o Palmeira, que conseguiu um empate a duras penas. Restava enfrentar o Vasco e o Flamengo no São Januário, o gigante da colina. Na noite de 25 de maio de 1949, uma quarta-feira, São Januário recebeu o maior público de sua história, no amistoso entre o Vasco e o Arsenal.
A excursão do time britânico era cercada de grande expectativa. Havia uma mística, que corria no tempo, alardeando que o time britânico era o melhor do mundo, e os próprios ingleses julgavam-se os donos do futebol, pois foram eles os inventores desse esporte. Por tudo isso, a partida entre Vasco e Arsenal foi cercada de um interesse enorme, adquirindo até um sabor de decisão de mundial de clubes, uma vez que, no ano anterior, o Vasco havia conquistado o título de campeão sul-americano invicto, no torneio realizado no Chile. Para enfrentar o time da Inglaterra, o Vasco (foto abaixo) entrou em campo com uma das formações mais fortes da sua história, saindo vencedor da partida por um a zero, gol de Nestor aos 33 minutos do segundo tempo. E o baiano grapiúna Tuta participou desse time lendário do gigante da colina.
Time do Vasco da Gama que Derrotou o Arsenal em 1949. Em pé, Eli, Augusto, Jorge, Danilo, Barbosa e Sampaio; agachados, Mário Américo (massagista), Nestor, Maneca, Ademir, Ipojucan e Tuta. |
*Grapiúna é o nascido no Sul da Bahia, na época da conquista da terra e do povoamento. E o que se identifica com uma civilização singular forjada pela lavoura do cacau, ao longo dos anos.
** Cyro de Mattos é ficcionista e poeta. Membro efetivo do Pen Clube do Brasil e Academia de Letras da Bahia. Premiado no Brasil, Portugal, Itália e México. Tem livro publicado em Portugal, Itália, França, Alemanha e Espanha. Doutor Honoris Causa pela Universidade Estadual de Santa Cruz (Bahia)
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