Na página 86 do volume 3 de Vida e obra de Machado de Assis, de R. Magalhães Júnior, lemos: Em janeiro de 1886, chegava ao Rio de Janeiro o poeta e diplomata Luís Guimarães Junior, um dos mais velhos amigos de Machado de Assis. [...] O viúvo recente chegara ao Rio de Janeiro trazendo um retrato da esposa, a fim de que seu busto fosse modelado em bronze pelo estatuário Rodolfo Bernardelli, que convivera com o casal em Roma,. quando bolsista do governo imperial. Trazia também a segunda edição dos Sonetos e rimas [...] e de vários sonetos inéditos dedicados à esposa. Logo depois, a Revista Ilustrada transcreveria um deles, “A Morta”.
Uma curiosidade: a expressão "depois de um longo e tenebroso inverno" é de um verso do poema "Visita à casa paterna" desse importante poeta romântico.
A MORTA
Meu amor! meu amor! hirta, gelada,
Dormes o sono que amedronta e aterra:
Ó meu franzino bogari da serra!
Ó minha rosa pálida e magoada!
A alma gentil, a essência imaculada
Que teu corpo encerrou, meu corpo encerra,
Pois quando foste para a imensa terra
Num beijo eu te sorvi a alma adorada.
Pastam os vermes no teu colo airoso,
E sobre os lábios teus, Anjo saudoso,
As negras larvas funerais se agitam...
Mas, ó milagre! dentro do meu peito
Convulso, aflito, exânime, desfeito,
Sinto dois corações e ambos palpitam!
Dormes o sono que amedronta e aterra:
Ó meu franzino bogari da serra!
Ó minha rosa pálida e magoada!
A alma gentil, a essência imaculada
Que teu corpo encerrou, meu corpo encerra,
Pois quando foste para a imensa terra
Num beijo eu te sorvi a alma adorada.
Pastam os vermes no teu colo airoso,
E sobre os lábios teus, Anjo saudoso,
As negras larvas funerais se agitam...
Mas, ó milagre! dentro do meu peito
Convulso, aflito, exânime, desfeito,
Sinto dois corações e ambos palpitam!
Nenhum comentário:
Postar um comentário