HAICAIS


O haicai (haiku em japonês) é um poema de forma fixa, com três versos com cinco, sete e cinco sílabas, sem rima como toda poesia japonesa. No site do Grêmio Sumaúma de Haicai lemos: “O haicai deve oferecer um momento de reflexão, de forma que cause no leitor uma sensação de descoberta. Esse momento está para o haicai assim como o satori está para o zen e o nirvana está para o budismo.” (Do meu livro Manual do poeta, editado pela Ciência Moderna.)

Seca

Corvos
Nos galhos curvos:
Únicas folhas.
(Cláudio Feldman)

O poeta e o aviador

Entre teu céu
e o meu
leve sussurro de asas
(Olga Savary)

"Anch'io"

Na poça de lama
como no divino céu,
Também passa a lua.
(Afrânio Peixoto)

O Haikai

Lava, escorre, agita
A areia. E enfim, na batéia,
Fica uma pepita.
(Guilherme de Almeida)

duas folhas na sandália
o outono
também quer andar
(Paulo Leminski)

Na poça da rua
O vira-lata
Lambe a lua
(Millôr Fernandes)

Em cima do túmulo,
cai uma folha após outra.
Lágrimas também...
(Masuda Goga)

Outono

Folhas. Ventania.
Cajus se despencam nus:
apodrece o dia.
(Adriano Espínola)

Meteorologia

Nublado dia:
de vez em quando
o sol o espia.
(Jamil Damous)

H. DOBAL


No imprescindível Uma história da poesia brasileira, escreve Alexei Bueno: "Poeta digno de maior reconhecimento nacional, pela qualidade de sua obra, é o piauiense H. Dobal, o lírico mais importante do seu estado na segunda metade do século XX."

Escreve Carlos Machado em poesia.net: "O poeta H. Dobal — ou, no registro civil, Hindemburgo Dobal Teixeira — nasceu em Teresina, em 1927. Advogado, foi funcionário do Ministério da Fazenda. O poeta publicou um bom punhado de livros, mas os críticos consideram sua primeira obra, O tempo conseqüente, de 1966, um dos momentos mais marcantes de seu trabalho. [...] Estranho — e injusto — é que um poeta como H. Dobal tenha uma obra praticamente desconhecida. Não há livros do poeta no mercado."

OS RIOS

Ai rios do Piauí, água rica de peixe
de couro e de escama.

De todos os rios sobra uma cantiga
de bem viver. Um rio preguiçoso
se compraz no seu curso. Outro rio
subterrâneo se afunda no peito.

Campo de areia, água viva nos pés,
água pesada na memória.
Senhor das dimensões um rio segue
suas margens renovadas, ribanceiras
movediças. Um rio move
seus habitantes, seus destinos.

          Dodó das Cabeceiras
          conhecedor dos rios
          com eles aprendeu
          a plenitude da vida.

Seu ritmo irregular um rio instala
faz a sua própria força. Cava os seus canais
seus tributários arrecada.

Água de beber, água de lavar,
água de nuvem, água do chão.
Móvel. Migrante. Um rio.
Jamais o mesmo.

          De O dia sem presságios (1970)