O QUE SE PASSA NA CABEÇA DOS CACHORROS, de Malcolm Gladwell

TRADUÇÃO DE IVO KORYTOWSKI


TRECHO DE "TALENTOS MADUROS: POR QUE ASSOCIAMOS A GENIALIDADE À PRECOCIDADE" DA PARTE III DO LIVRO:

A genialidade, no conceito popular, está associada à precocidade — estamos inclinados a pensar que fazer coisas realmente criativas requer o vigor, exuberância e energia da juventude. Orson Welles produziu sua obra-prima, Cidadão Kane, aos 25 anos. Herman Melville escreveu um livro por ano em torno dos 30 anos, culminando, aos 32, com Moby Dick. Mozart compôs seu revolucionário “Concerto para Piano no 9 em mi bemol” aos 21 anos. Em algumas formas criativas, como a poesia lírica, a importância da precocidade se tornou lei. Que idade tinha T. S. Eliot quando compôs “A Canção de Amor de J. Alfred Prufrock” (“Envelheço...envelheço...”)? Vinte e três anos. “Os poetas atingem o auge na juventude”, sustenta o pesquisador da criatividade James Kaufman. O professor de psicologia Mihály Csíkszentmihályi concorda: “Os versos líricos mais criativos foram escritos por jovens.” De acordo com o psicólogo de Harvard Howard Gardner, uma importante autoridade em criatividade, “a poesia lírica é o domínio onde o talento é descoberto cedo, brilha intensamente e depois se extingue numa idade prematura.”

Alguns anos atrás, um economista da Universidade de Chicago chamado David Galenson decidiu descobrir se esse pressuposto sobre a criatividade era verdadeiro. Ele vasculhou 47 importantes antologias poéticas publicadas desde 1980 e listou os poemas que figuravam com mais frequência. Algumas pessoas, é claro, criticariam a ideia de que o mérito literário pode ser quantificado. Mas Galenson queria apenas consultar uma amostragem de acadêmicos literários para saber quais poemas consideravam mais importantes no cânone norte-americano. Os 11 primeiros foram, na ordem: “Prufrock”, de T. S. Eliot, “Skunk Hour” (Hora do gambá), de Robert Lowell, “Stopping by Woods on a Snowy Evening” (Parando nos bosques numa noite de neve), de Robert Frost; “Red Wheelbarrow” (Carrinho de mão vermelho), de William Carlos Williams, “The Fish” (O peixe), de Elizabeth Bishop, “The River Merchant’s Wife” (A Mulher do Mercador do Rio), de Ezra Pound, “Daddy” (Papai), de Sylvia Plath, “In a Station of the Metro” (Numa estação de metrô), de Pound, “Mending Wall” (Consertando o muro), de Frost, “The Snow Man” (O boneco de neve), de Wallace Stevens e “The Dance” (A Dança), de Williams. Esses 11 poemas foram compostos nas idades, respectivamente, de 23, 41, 48, 40, 29, 30, 30, 28, 38, 42 e 59. Não há indício, concluiu Galenson, do conceito de que poesia lírica é um passatempo de gente jovem. Alguns poetas realizam seu melhor trabalho no início da carreira. Outros se destacam décadas mais tarde. Dos poemas de Frost que constam de antologias, 42 foram escritos após os 50 anos. No caso de Williams, o índice é de 44%. No de Stevens, 49%.

O mesmo vale para os filmes, observa Galenson em seu estudo “Old Masters and Young Geniuses: The Two Life Cycles of Artistic Creativity” (Velhos mestres e jovens gênios: os dois ciclos de vida da criatividade artística). Sim, houve Orson Welles, cujo auge como diretor foi aos 25 anos. Mas existiu também Alfred Hitchcock, que dirigiu Disque M para matar, Janela indiscreta, Ladrão de casaca, O terceiro tiro, Um corpo de cai, Intriga internacional e Psicose — uma das maiores sequências de êxitos de um diretor na história — entre os 54 e 61 anos. Mark Twain publicou Aventuras de Huckleberry Finn aos 49 anos. Daniel Defoe escreveu Robinson Crusoe aos 58.

Os exemplos que Galenson não conseguia tirar da cabeça, porém, eram Picasso e Cézanne. Ele era um apaixonado pela arte e conhecia bem suas histórias. Picasso foi o prodígio incandescente. Sua carreira como artista sério começou com uma obra-prima, Evocação: O enterro de Casagemas, produzida aos 20 anos. Num curto período, ele pintou muitas das maiores obras de sua carreira — incluindo Les Demoiselles d’Avignon, aos 26 anos. Picasso se encaixa perfeitamente em nossas ideias usuais sobre genialidade.

Cézanne não. Se você for à sala de Cézanne no Musée d’Orsay, em Paris — a melhor coleção de Cézanne do mundo — encontrará ao longo da parede posterior uma sequência de obras-primas que foi pintada ao final de sua carreira. Galenson fez uma análise econômica simples, comparando os preços pagos em leilões por pinturas de Picasso e Cézanne com as idades em que aquelas obras foram criadas. Uma pintura feita por Picasso em torno dos 25 anos valia em média quatro vezes mais do que outra que ele fez aos 60 anos. Com Cézanne ocorria o inverso. As pinturas que ele criou em torno de 65 anos valiam 15 vezes mais do que as de sua juventude. O vigor, a exuberância e a energia da juventude pouco ajudaram Cézanne. Ele foi um talento maduro — e por alguma razão em nossa explicação da genialidade e criatividade nos esquecemos de enquadrar os Cézannes do mundo.

E JÁ QUE FALAMOS EM CACHORROS, VOCÊ ESTÁ CONVIDADO A VER MEU VÍDEO SOBRE O CLÁSSICO A REVOLUÇÃO DOS BICHOS (ANIMAL FARM) DE GEORGE ORWELL:

MANÉ GARRINCHA, de JOÃO SALDANHA


Uma vez, durante uma excursão do Botafogo que duraria uns quinze dias pelo interior e como o Mané [Garrincha] andasse um pouco gordo, o Dr. Gosling e eu combinamos fazer um controle alimentar no cobra. O doutor prescreveu o regime e todo o dia Mané comparecia à balança. Os dias iam passando o Garrincha não diminuía um grama sequer. E olhem que além do regime, havia jogos quase que de três em três dias.

Hilton Gosling passou a sentar junto do Mané, mas mesmo assim, nada. Até que numa cidade (Goiânia), o Neivaldo ficou no mesmo quarto com Garrincha e observou: — "O Garrincha tá tomando uma garrafa de mel toda a noite. Não é ele que está fazendo regime?"

O doutor coçou a cabeça e foi falar com Garrincha sobre o mel. A resposta veio pronta do mais sonso dos jogadores de futebol que já existiram: "É verdade, sim. Mas é que eu estou com uma tossezinha e mel é o melhor remédio para isto..."

O Mané é assim mesmo. Não estava fazendo o regime porque não achava oportuno, e pronto. De outra feita, no Campeonato Sul-Americano de 59 em Buenos Aires, Mané estava redondo como uma bolinha. Então eu perguntei a um companheiro de clube e que também fazia parte do selecionado, o que o Garrincha andava comendo que não devia e me foi respondido que Mané gostava muito de uvas e estava comendo uns dois quilos de uvas argentinas (até parecem jabuticabas de tão grandes) por dia. Mas a verdade é que como na época o Mané tinha andado machucado, acharam que o Dorval era melhor do que ele. Não se interessou absolutamente pelo resto.

De maneira que o Paulo Amaral não deve ficar agastado com as críticas em torno do peso do Mané. Nem que o Paulo se rache de verde e amarelo, conseguirá tirar um grama do Garrincha, se Garrincha não quiser. As críticas são no sentido de aviso e são para o Garrincha.

Evidentemente, continuarão. O Mané é muito maroto e jogador igual a ele, todo torto, todo simples, condenado pela ciência como atleta, não há nada nos compêndios que explique claramente como levá-lo. A do mel, por exemplo, não estava no livro que o Dr. Gosling tinha estudado. (Do livro de João Saldanha Meus amigos publicado em 1987 pela Editora Nova Mitavaí)

ANTISSIONISMO VERSUS ANTISSEMITISMO



Quem ainda duvida de que sob a fachada do antissionismo (uma posição política defensável) se abriga muitas vezes o antissemitismo (uma forma execrável de racismo) deveria visitar o HoloCartoons "dedicado a todos que foram mortos sob o pretexto do Holocausto".