Colorido de batuque no meio da Avenida. Brilho de alvorada quando se faz noite, centelha a percorrer os corpos. Ao grito de guerra na concentração, o espocar de fogos.
Momento de arrepio. Incendeia-se a harmonia ao apito do mestre. Entusiasmo que transcende o encantamento e evolui em cadência ardente, coração do ritmo quase a explodir. Fruição constante vibrante crescente.
Molejos e rodopios, levitar dos passos. Farfalhar de saias, dourados turbantes, rodas de cetim. São elas, baianas, deslizando o transe em suas sandálias.
Ao movimento das alas, vai passando a escola. Coeso esforço, lúdico empenho que, tão mágico, acontece. Intenso pulsar contagia o asfalto, amplia-se, espraia-se. Do estribilho, o retorno, voz do povo, redenção.
Consagram-se aplausos à coreografia, ao samba de enredo que desce o morro sonhando o canto do inda possível. Com mestre-sala, porta-bandeira, a homenagem, honra e louvor às raízes. Credo e paixão. Sublimidade.
Exaure-se a volúpia ao suor de gestos e requebros. O ser uníssono que se agiganta, asas conquista e se evade. Entre os astros, chão e telhado de almas lavadas. Rastro de divindade.
E a vida, alegoria do tempo, irrompe o eterno, traduz-se em essência.
Transforma-se em Arte.