"No mundo só há de verdadeiramente interessante Paris e Londres, e todo o resto é paisagem" (Lord Beaconsfield, segundo Eça de Queirós em Ecos de Paris)
PREPARATIVOS
Comecei a preparar a viagem quase um ano antes. Primeira providência, condição sine qua non: passagem de avião. Os economistas previam alta acelerada do dólar em 2014. Previsão de economista é como previsão do tempo ou de astrólogo: índice de erros supera o de acertos, mas falam com tamanha convicção que você acredita e se preocupa. No decorrer dos meses (na medida das possibilidades do meu fluxo de caixa) fui reservando, via Internet, hotéis — geralmente rede Accor, preços palatáveis, quartos despojados mas confortáveis & asseados & situados perto de algum metrô — comprei passe de trem no site Rail Europe, moeda estrangeira etc. Nos dias que antecederam a viagem, ansiedade, hipertensão, acupuntura pra dar uma acalmada... Qual a lógica? Não fomos condenados à guilhotina! Medo de uma coisa boa? Vai entender a mente humana! Dias antes da viagem, tragédia do voo da Malasian Airways sobre a Ucrânia.
A VIAGEM
Viagem de KLM tranquila, nenhuma turbulência e o tradicional serviço de bordo nota dez dessa simpática companhia aérea holandesa — Holanda, não Cuba, deveria servir de modelo aos nossos reformadores sociais. Mas dormir no aperto da classe econômica, impossível para mim e Mi, embora a quase totalidade do restante dos passageiros consiga. Espantoso!
Viajar, no sentido pleno da palavra, é como a transmigração da alma: você deixa para trás uma rotina de vida, entranhada, arraigada, e "reencarna" em uma realidade nova (sem Facebook, sem e-mail, sem ler as notícias, assim que deve ser).
Chegada em Amsterdam vinte minutos antes do planejado, tempo bom, à tarde choveu, tempo aqui é variável: dia seguinte amanheceu com sol, por volta do meio-dia choveu torrencialmente, à tarde voltou o sol... Tem que sair munido de jaqueta e guarda-chuva, SEMPRE.
Check-in no hotel (Ibis Amsterdam Centre Stopera, perto do metrô Waterlooplein, antes de partir vi direitinho no street view como chegar lá) que custou 131 euros por noite mais imposto municipal de €18,83, café da manhã não incluído). Mesmo com sono, a mente, excitada, pede passeio: corte transversal, sentido noroeste, pelo centro de Amsterdam: Waag, Oude Kerk, red light district, Dam, Joordan, até desembocarmos nas chamadas Ilhas Ocidentais, bairro composto de três ilhotas artificiais que abrigavam originalmente depósitos e estaleiros, atualmente um recanto, calmo, sem hordas de turistas.
Café da manhã no hotel era caro (€16 per capita), não tinha nada de excepcional, mais racional comprar salada de frutas e iogurte no supermercado próximo e ir comer num banco de praça. Primeiro programa: Amsterdam Museum, que além de conduzir o visitante pela história da cidade — as primeiras construções com longas fundações de estacas de madeira, a guerra de oitenta anos com a Espanha no contexto do conflito entre católicos e protestantes, a época de ouro da expansão colonial e comercial, a ocupação nazista, os loucos anos sessenta... — possui um bom acervo de pinturas.
Centraal Station |
Depois passamos uma hora na Centraal Station aguardando chegar a nossa senha para reservarmos lugares no trem para Praga. O plano A, viajar no trem noturno de segunda-feira para amanhecer em Praga na manhã de terça, gorou. O trem estava lotado, de modo que tivemos de adotar o plano B: viagem diurna na terça e dormir uma noite a mais em Amsterdam. Nada mal.
Museu Willet-Holthuysen (jardim) |
Em seguida museu Willet-Holthuysen, bonita residência mostrando como viviam os comerciantes abastados na Amsterdam no passado. Fim de tarde no Vondelpark. Lá nos detivemos & deleitamos no coreto onde se expunham e vendiam lindas tulipas. Compra de saladas no supermercado para nossa ceia no hotel e caminhada ao final da tarde - no verão aqui só escurece lá pelas dez fazendo o dia render — da Centraal Station via bairro da luz vermelha até o nosso hotel.
O Rio lotou de turistas na Copa. Lota no Réveillon, no Carnaval. Amsterdam lota, e ponto. Sempre. Cidade parque de lazer. Sábados aos magotes de turistas juntam-se os locais de folga: restaurantes, bares, coffeeshops (onde se vende e fuma maconha), ruas de comércio pululando de gente. Barquinhas com amsterdameses festivos percorrem os canais. O astral descontraído faz com que mesmo a segunda-feira pareça feriado, no Centro. Ninguém de terno e gravata. Será que não se trabalha por aqui?
Previsão de chuva para a segunda-feira fez com que transferíssemos para este dia o Rijksmuseum e resolvêssemos passar o domingo no Artis, o charmoso e antigo zoológico de Amsterdam, que já visitáramos em nossa primeira viagem para cá juntos, em 2007. Visita num domingo de sol a um zoológico de um pais estrangeiro, uma boa oportunidade de ver as crianças, aqui todas de cabelos clarinhos. Os casais são muito jovens e as crianças não ficam fazendo manha e algazarra como as de cá, nem os pai as ficam tolhendo, cerceando. O Artis é um dos melhores zoos da Europa, coleção de animais incrível — tem até estufa de borboletas onde matamos saudades do calor e da flora dos trópicos. Os cercados dos animais procuram reproduzir, na medida do possível, seus habitats. Mesmo assim, alguns maiores, predadores, se neurotizam, exibem "tiques nervosos", comportamentos repetitivos, caso do urso preto e até do elefante (que realizava um bailado com as patas). O urso polar que vimos na visita anterior, repetindo mecanicamente o mesmo percurso circular, morreu e agora se eternizou em sua encarnação empalhada. Desde 2009 o Artis não exibe mais ursos polares e colabora com projeto de conservação de seu habitat.
Conforme a previsão, amanheceu chovendo, torrencialmente. Cadê o guarda-chuva? Esquecemos ou sumiu no avião? Assim como é impossível publicar um livro sem erro tipográfico, impossível fazer malas sem esquecer um item. [Nota após a viagem: Quando voltamos constatamos que não os esquecemos, mas que sumiram da mala... misteriosamente!]
A Ronda Noturna de Rembrandt |
Ainda no Rio pela Internet compramos os ingressos do Rijksmuseum. Minha filosofia é espalhar as despesas da viagem pelo máximo de meses possível, em vez de concentrá-las. O Rijksmuseum recentemente reabriu após dez anos de restauração. Abriga a maior coleção de arte holandesa do mundo: pinturas, esculturas, artes decorativas (mobília, relógios, estatuetas de porcelana, etc.) A Ronda Noturna de Rembrandt é quase tão concorrida aqui como a Mona Lisa no Louvre.
Almoço leve no Bagels & Beans.
Instabilidade do tempo: se de manhã choveu uma chuva de alagar a Praça da Bandeira no Rio a ponto de eu me arrepender de não ter trazido o colete (a jaqueta, esta sempre trago, e olha que estamos no verão), à tarde o tempo abriu e dei graças a Deus por não tê-lo trazido, que àquela altura se tornaria um peso morto por carregar.
Rijskmuseum: Relógio de chaminé de Sèvres da década de 1780 |
O Rijksmuseum é enorme, como são os museus das capitais europeias. Se no Louvre, Hermitage e Kunsthistorisches Museum predominam as coleções da realeza, aqui predomina a arte encomendada pelos burgueses abastados, dai a profusão de retratos, individuais ou de grupos. Gente hoje morta, como a longo prazo todos nós também, como afirmou Lorde Keynes, referindo-se à única certeza da ciência econômica.
Vista da janela do Museu van Loon |
À tarde visita ao Museum van Loon, em mansão do século XVII na Keizergracht, com a coleção particular reunida pela família, além da rica decoração e mobília.
Madrugamos (5:30) para pegar o trem das sete a Berlim, para de lá prosseguirmos, após baldearmos para outro trem, umas duas horas depois, até Praga. Agora sim vimos a classe trabalhadora de Amsterdam, negros, emigrantes, no primeiro metrô matinal (começa a funcionar às seis). Na viagem em parte dormimos, em parte atualizamos o diário,
Em Berlim já não encontramos o clima festivo de Amsterdam, muito pelo contrário. Nos fundos da estação fumantes (dentro é proibido fumar) e gente estranha, aspecto de viciados, vendendo uns jornalecos, pedindo trocados, numa abordagem um pouco agressiva. Da Berlim turística o máximo que se vislumbra é a cúpula de vidro do Reichstag (o Parlamento, aquele que Hitler mandou incendiar para pôr a culpa nos comunistas) com a bandeira alemã tremulando.
A via férrea de Berlim a Praga a partir de certo ponto passa a percorrer a margem do Rio Moldava, aquele que atravessa Praga e inspirou um dos movimentos do poema sinfônico Minha Pátria de Smetana. Os morros cobertos de pinheiros e cidades balneárias compõem uma bela paisagem — o que não é comum quando se viaja de trem, geralmente as paisagens são monótonas. Chegada a Praga, troca de cem euros na estação (a uma comissão extorsiva; melhor trocar o mínimo ao chegar e deixar o grosso do câmbio para uma dessas casas de câmbio "without comission"). Primeira caminhada, ao cair da noite, de reconhecimento de Praga.
Sentado na amurada da boca do metrô da Praça da República, uma ampla área de pedestres coberta de paralelepípedos cortada pelo bonde em intervalos de poucos minutos, ao som de um conjunto de artistas de rua bolivianos em trajes típicos (desses que às vezes aparecem lá na Atlântica), tendo em frente o Kings Court Hotel em majestoso prédio em estilo renascentista francês, suponho, e à sua esquerda a Casa Municipal, teatro ícone da arquitetura art nouveau (Praga é um dos centros do art nouveau do mundo), um casal ao meu lado consultando um mapa da rede de transportes da cidade e falando uma língua que não consigo distinguir, eu tendo provado pela primeira vez (por mais que se viva sempre restam coisas novas) uns minigoles de uma garrafinha de absinto, a mística bebida com sabor de anis e altíssimo teor alcoólico que inspirava os impressionistas e que só aqui em Praga se consegue comprar (em outros países existe um teto para a quantidade de álcool, suponho), sentado na amurada da entrada do metrô, dizia eu, procuro rememorar tudo que visitamos aqui a fim de registrar no diário de bordo.
Velho cemitério judaico de Praga |
No primeiro dia começamos pelo Museu Judaico de Praga, o complexo de sinagogas, salão de cerimônias e cemitério, testemunhos da rica vida judaica que praticamente foi extirpada pela barbárie hitlerista. Primeira parada, Sinagoga Pinkas, originalmente fundada em 1479, várias vezes reconstruída no decorrer dos séculos e agora servindo de memorial aos 77.297 judeus assassinados pelos nazistas, cujos nomes e datas de nascimento e falecimento estão inscritos nas paredes. Atrás da sinagoga, o antigo cemitério judaico superlotado de lápides com inscrições em hebraico, pois por três séculos esse espaço limitado foi o único de que dispunham os judeus para seus enterros. A gótica Sinagoga Antiga Nova, nova na época em que foi construída, agora a mais antiga da Europa e até hoje funcionando como local de culto. A belíssima Sinagoga Espanhola, que exteriormente lembra o Grande Templo carioca. Erguida em 1868, seu interior ricamente adornado com arabescos mouriscos evoca o Castelo de Manguinhos, da Fiocruz.
Morangos, amoras, framboesas |
Ainda no mesmo dia atravessamos o Rio Moldava (que em tcheco se chama Vltava) e caminhamos até o Loreto, magnífico santuário barroco de 1626 que abriga uma réplica da Santa Casa. A original, local da Anunciação, segundo a crença teria sido transportada, pelos anjos, de Nazaré para a cidade italiana de Loreto.
De manhã pegamos o bonde e depois subimos de funicular (usando o mesmo bilhete) ao Parque Petrin, num morro na margem esquerda do Moldava. Lá ergue-se uma réplica da Torre Eiffel, que já havíamos avistado de baixo, com um quarto da altura da torre original e duas plataformas de observação, uma a meia altura (até onde fomos) e outra no topo (onde a vertigem nos impediu de subir) que se atinge por escadaria em espiral e de onde se descortina amplo panorama da cidade.
Igreja de São Lourenço no Monte Petrin |
Descemos a pé a encosta noroeste do morro, surpreendidos por belas vistas da cidade, indo parar no mosteiro Strahov, que não visitamos internamente (não dá para ver tudo) e depois transpusemos a velha Ponte Carlos — atualmente de pedestres, lotada de turistas, com alguns artistas de rua e orlada de estátuas de pedra de santos — passamos para a Cidade Velha e depois continuamos andando, andando, andando como é de nosso costume. Jantar no Burger King.
Longa caminhada o dia inteiro pela Cidade Nova (onde estamos hospedados num Accor cujo quarto tem layout idêntico ao de Amsterdam), Cidade Velha e Bairro Judaico, completando lacunas, ou seja, vendo o que faltou: Museu Dvořák (só por fora, sem entrar), Museu Nacional, Ópera Estatal, Praça Venceslau, Jardim Franciscano, a Praça da Cidade Velha, o Convento de Santa Agnes com magnífica exposição de arte medieval: pinturas em têmpera sobre madeira com vivacidade de cores que perdura até hoje, todas de temática religiosa (Anunciação, Natividade, Adoração dos Reis Magos, Paixão, Ressurreição, Ascensão e Madonas com o Menino Jesus que depois fariam a fama de Rafael) e esculturas em madeira que impressionam pelo detalhamento. Percorremos um trecho da margem do Moldava e comemos comida "rústica"' local, nas barracas da Praça da República, arrematada com salada no Burger King.
A arquitetura de Praga merece uma digressão à parte: na segunda metade do século XIX, época de afirmação nacionalista boêmia, ergueram-se prédios monumentais (tão típicos das antigas capitais imperiais europeias) no estilo neorrenascentista tcheco, como o Teatro Nacional e Klementinum. Nas primeiras décadas do século XX, quando a recém-surgida (das cinzas da Grande Guerra) Tchecoslováquia despontou como nação industrial (desenvolvimento esse depois abortado pela ocupação nazista e mais à frente pelo fracasso do socialismo real de molde soviético), o velho gueto judaico foi botado abaixo e a cidade recebeu reformas modernizantes à Haussman e Pereira Passos, surgiu uma belíssima geração de prédios art nouveau, art déco, historicistas etc. A isso se juntam as construções tradicionais, as igrejas, palácios e palacetes góticos, barrocos, rococó etc. Uma festa para o amante da bela arquitetura.
De manhã saímos com toda a antecedência do proverbial mineiro que não perde o trem à estação ferroviária, mas em vão: somente cinco minutos antes do horário marcado apareceu no quadro de partidas o número da plataforma de embarque, e logo um bando de passageiros debandou até lá. Como não fizemos reserva de poltronas a fim de poupar uns euros (o Global Pass dá direito a viagens ilimitadas de primeira classe pela Europa mas não garante os assentos) tivemos de embarcar correndo no vagão para disputar os poucos lugares livres, e mesmo assim Mi e eu, por um trecho da viagem, ficamos em poltronas separadas. Ainda tentei negociar com meus vizinhos de poltrona que trocassem de lugar com ela, mas aqui não é Brasil onde para tudo tem um jeitinho.
Johann Strauss |
Alguém disse que a Áustria é uma Alemanha bem-humorada. Em Viena nos hospedamos num Ibis Budget (mesmo hotel onde nos hospedáramos na viagem anterior mas então sob a bandeira Etap), hotel bem econômico (quatro noites a €176,40) mas situado em área periférica, cheia de prédios industriais e corporativos, perto dos gasômetros de Viena, mas com estação de metrô próxima de modo que em dez minutos estamos no Centro Histórico.
Na noite anterior, estudei o guia e fiz uma lista de locais que gostaríamos de visitar em Viena: Museu dos Relógios, Ópera, Belvedere, Museu de Artes Decorativas, conhecido pela sigla MAK, Schönbrunn, Prater, Hofburg e Catedral. Começamos pelo Uhren Museum, o museu dos relógios, não muito distante da Stephanplatz, a praça da catedral gótica. O museu exibe uma impressionante coleção de relógios de todas as épocas, do mais antigo de 600 anos atrás (os relógios naquela época só marcavam as horas) aos relógios de quartzo dos anos setenta. Vimos relógios de pêndulo, relógios de molas, cucos, miniaturas de relógio (um deles cabendo num dedal), relógios (de verdade) fazendo parte de pinturas, enormes mecanismos de relógios de torres de igreja, os relógios de bolso que antecederam os de pulso, relógios astronômicos que indicam o nascer e pôr do sol, as fases da lua, eclipses, estações do ano... Os relógios ficam parados, sem corda, visando a preservação, mas acabamos grudando em um empregado do museu que estava mostrando o funcionamento de algumas peças a um amigo. Vendo que eu arranhava um alemão, acabou indo com a nossa cara (perguntou se viemos do Brasil remando) e nos mostrou coisas do arco da velha.
Ópera de Viena |
Seguiu-se visita guiada (em inglês - há visitas de hora em hora) à Ópera de Viena. O monumental prédio em estilo eclético na acepção da palavra (mescla idiossincrática e controvertida na época, tanto que um dos arquitetos se suicidou e outro enfartou) foi parcialmente incendiado no fim da Segunda Guerra e restaurado nos dez anos seguintes, o exterior tal e qual fora antes, o interior mais despojado, sem a exuberância anterior. A temporada de ópera e balé se estende por dez meses com espetáculos todas as noites (cinquenta montagens de óperas e dez de balés) exceto durante o baile de gala na época do Carnaval, e durante o verão, fora da temporada, a Ópera é aproveitada para concertos turísticos.
Fim de tarde no parque de diversões Prater, um dos mais tradicionais do mundo, com alguns brinquedos remontando ao século XIX, como o carrossel de pôneis, com cavalos de carne e osso, e a roda gigante mais antiga da Europa. Temerosos de brinquedos radicais, alguns dos quais chacoalham as pessoas e as deixam de cabeça para baixo e outros as elevando a grande altura, optamos pelo passeio inofensivo no trenzinho Liliput pelos bosques do Prater.
Café Sacher |
As tortas vienenses são irresistíveis, comemos várias por dia: Sachertorte (que você pode saborear na requintada Konditorei do Sacher Hotel onde foi originalmente criada), Schwartzwälder (Floresta Negra), com qualidade suprema e abundância de chantilly fresquissimo. As salsichas, vendidas num quiosque junto à catedral, acompanhadas de um pão preto macio como nenhum no Rio e uma mostarda de primeira, também compõem nosso nada saudável menu vienense. Mas depois, no Rio, a gente volta aos trilhos.
Resolvemos aproveitar nosso Global Pass e o fato de estar a apenas três horas de trem de Viena para dar um rolezinho em Budapeste. O aplicativo Rail Europe informou que o trem iria à estação Kelenfoe, e de lá retornaria, mas na verdade o ponto final é a estação central, a Keleti, bem mais convenientemente localizada. Lá aportando, compramos numa maquininha, usando o mesmo cartão de débito com que fazemos compras no Pão de Açúcar ou Mundial, passagens de metrô e pegamos a linha 4 até Ferenc Ter, de onde caminhamos até a margem do Duna (o Danúbio) pertinho, percorremos o calçadão até a velha Ponte das Correntes, atravessamos para o lado de lá do rio, a antiga cidade de Buda, que depois se juntou a Pest formando a atual Budapeste, e subimos até o Castelo de Buda, magnífico complexo de velhos palácios barrocos de onde se tem um vista privilegiada da cidade.
Danúbio cortando Budapeste & Ponte das Correntes |
Na ida o trem saiu com uma hora de atraso, algo que não se espera na proverbialmente pontual Europa Central. Voltamos no trem noturno destinado a Zurique, cheio de jovens tresloucados, um deles enrolando um baseado em uma cabine, um grupo sendo apreendido por uma dupla de policiais (o que será que estavam aprontando?) Executivos e classe média pegam avião ou o trem-bala (ICE, TGV), e não os nostálgicos trens noturnos. Grande parte da viagem de volta passamos no vagão-restaurante, contemplando o poente magiar, uma meia lua embaçada, a paisagem indistinta deslizando pela janela ao lusco-fusco, um ambiente retrô, de tempos idos.
Estação Keleti |
Eu já estivera em Budapeste nos anos oitenta, na era do comunismo, quando uma enorme estátua de Lênin, depois derrubada, dominava uma das praças centrais e os turistas eram predominantemente de Cuba e das nações socialistas do leste europeu. A julgar pelo comércio variado & sofisticado, hotéis das grandes redes, amenidades como Mac Donald's e Burger King e intenso movimento de turistas, parece que o capitalismo fez bem ao país.
Começamos nosso último dia vienense comprando pães e frios no supermercado e preparando sanduíches para a jornada. Enquanto a Mi comprava óculos escuros na Forever 21, pois os anteriores quebrei sentando neles no trem, acomodei-me num banco da Catedral de Santo Estevão para redigir o diário de Budapeste. Manter um relato de viagem requer disciplina. Depois fomos à Westhbahnhof fazer a reserva de lugares para o trajeto Zurique-Paris. O Eurail Global Pass é muito prático e econômico na medida em que você viaja nos trens convencionais, mas nos trens de alta velocidade a reserva de assentos é obrigatória, e aí você pode levar um susto, pois a reserva custa dinheiro, às vezes uma quantia salgada (uma espécie de "golpe", porque em princípio o passe, que não custa barato, deveria cobrir o grosso da despesa).
Belvedere |
Visitamos o Belvedere, conjunto de dois palácios barrocos construídos no período de apogeu que se sucedeu à derrota dos turcos no assédio a Viena: o Belvedere Superior e Inferior, com um jardim barroco entre eles. Optamos por visitar o Belvedere Superior (€12,50 por adulto) que abriga uma coleção de pinturas de artistas austríacos, de diferentes épocas. Depois pegamos um bonde até o Ring e percorremos parte dele (vendo no percurso as estátuas de Strauss e Schubert) até o MAK, o museu de artes decorativas, que nas terças após 18 horas tem entrada grátis.
Uma observação econômico-sociológica: a Áustria é uma nação de Primeiro Mundo com alta renda per capita e sem mazelas sociais aparentes: não se veem sinais explícitos de miséria (com raras exceções de alguns alcoólatras), nem "meninos de rua", nem passa pela cabeça que alguém vá praticar um assalto a mão armada numa rua erma de Viena. O que leva alguns países a atingir esses píncaros da abastança? Nas minhas Minhocas na Cabeça indago por que tamanho fascínio dos intelectuais pela experiência cubana e nenhum pela experiência holandesa (que me parece bem melhor sucedida). Ao submeter o texto à oficina do mestre Ivan cerca de uma década atrás, ele respondeu que a Holanda se locupletou de séculos de colonialismo. Será só isso?
Entardecer em Viena |
Pelo que percebo, os europeus centrais são eficientes: as filas andam, os transportes públicos cumprem horários, os atendentes atendem (não ficam de bate-papo enquanto você espera ser atendido). Em suma, acho que o caminho para a afluência passa pela eficiência, esforço e livre iniciativa.
De VIENA a ZURIQUE (6/8)
É preciso estar atento ao embarcar: não basta consultar a plataforma e entrar na composição que lá está parada. O trem que pegamos em certo ponto da viagem se dividia, uma parte seguindo para Bregenz, a outra para Zurique. Claro que nos instalamos com mala e cuia no vagão errado e depois tivemos de atabalhoadamente mudar. De Viena a Zurique passa-se por Salzburg (deu até para relancear o castelo no alto da colina) e Innsbruck e por uma paisagem alpina com florestas de pinheiros nas encostas das montanhas (que imaginamos cobertas de neve no inverno), vales, riachos de águas límpidas, igrejinhas de torres pontiagudas, plantações e, já na Suíça, um grande lago que se estende até Zurique.
A certa altura da viagem o trem atravessa o Liechtenstein, principado que você nunca imagina que um dia irá ver. Chegando em Zurique, após a perplexidade inicial (no Google Maps tudo é claro e distinto, mas quando você chegá-la...) levamos a bagagem, no bonde 4, até o hotel (Ibis Zurich City West: 79,80 francos a diária, pré-pagos), e fomos dar um rolê no centro histórico.
Zurique: Centro Histórico |
A Suíça, esse Paraíso Perdido, no alto das montanhas da Europa Central, resiste em sua fortaleza às mazelas do mundo. Nem Napoleão, nem Hitler ousaram invadi-la. O ar é fresco, as águas do rio que banha Zurique são cristalinas, as pessoas falam baixinho, parecem serenas. Uma sul-mato-grossense com quem conversamos no bonde elogiou o sistema de transporte público, que funciona qual mecanismo de relógio. Outro brasileiro que também conhecemos, por breves minutos, e que viveu perambulando mundo afora diz que por Zurique se apaixonou e aqui deseja morrer.
Viagem no TGV (o trem de alta velocidade) de Zurique a Paris. Almoço a bordo, que nem avião, mas frio — estranho. Se soubéssemos não precisaríamos ter trazido a "matula". Hospedagem no mesmo hotel da vez passada: Alfa Nation, na Rue Guénot, pertinho da Place de la Nation. Baratíssimo, 53 euros por noite, com uma noite grátis (fiquei nove, paguei oito). Achamos que, saltando na estação de metrô da praça, lembraríamos o caminho fácil, fácil. Só que Paris tem uma estrutura de ruas concêntricas, convergindo para uma praça circular, das quais a mais famosa é a Place de l'Étoile, com o Arco do Triunfo. Acabamos como baratas tontas, desorientados, não lembrando em qual daquelas ruas, todas iguais, entrar. O mapa tampouco ajudou, pois a Guénot é uma ruela que sequer consta dele. Mas a boa memória da Mi acabou nos livrando da enrascada. Após uma temporada de Accord's "clean", um hotel no velho estilo das espeluncas onde viajantes low budget, na época pré-redes tipo Accor, se acomodavam.
Arco do Triunfo |
Fizemos uma longa caminhada de "reconhecimento" idêntica à de quando chegamos aqui na viagem de três anos atrás, subindo a Rue du Faubourg de St Antoine (onde descobrimos um Carrefour grandão no número 220 aberto até as 22 horas) até a ampla Place de la Bastille, Place des Vosges, Rue de Rivoli, Louvre, Jardin du Luxembourg, a elegante Avenue des Champs Elysées e o Arco do Triunfo, onde pegamos o metrô de volta. Após percorrermos os países ideais, as Xanadus sem máculas da Europa saxônica, enfim voltamos a um país latino com todas as mazelas das nações humanamente normais: pedintes, burburinho, avisos constantes no alto falante do metrô para nos precavermos contra os pickpockets, um bêbado urinando na galeria do metrô, camelôs vendendo DVDs piratas, mistura de raças típica de uma antiga potência colonialista.
Aproveitamos os últimos dias de validade do Global Pass para irmos de trem (a meia hora de Paris) ao berço do creme de Chantilly, local do castelo deslumbrante onde se casou o Ronaldinho e (ao que descobrimos lá) um centro europeu de equitação. Embora bem menos conhecido que o badalado Versalhes e recebendo uma fração dos turistas que invadem o antigo palácio dos reis de França, o Castelo de Chantilly, com sua decoração suntuosa, coleção de obras de arte reunidas nos vinte anos de exílio do duque de Aumale, filho do rei Luís Filipe, além dos amplos jardins em estilo francês e inglês e um bosque, vale uma visita. O castelo é uma espécie de microcosmo de Versalhes e a visita deve se encerrar com chave de ouro no rústico restaurante Le Hameau, onde comemos torta de morango e torta de maçãs acompanhadas de café e chocolate, tudo profusamente coberto do autêntico creme de Chantilly.
Creme de chantilly |
PARIS - Primeiro dia (9/8)
Para visitar o Marché aux Puces de St. Ouen, o famoso Mercado de Pulgas, que funciona de sábado a segunda, pega-se o metrô até Porte de Clignancourt, no extremo norte, transpõe-se o Mercado Malik, espécie de camelódromo com produtos baratos e piratas, lotado predominantemente de parisienses de origem africana e árabe, para então adentrar esse imenso conglomerado de vários mercados, alguns mais tradicionais, outros mais modernos, compostos de carreiras, às vezes labirintos, de lojas ou estandes dos produtos mais diversos. Em uns mercados predominam quinquilharias, aquilo que normalmente achamos em brechós, livros, discos e gravuras antigas. Um deles, o Biron, vende para os milionários de hoje objetos que pertenceram aos nobres de outrora, aquelas preciosidades — móveis de época, porcelanas, quadros, relógios artisticamente trabalhados — que você achava que só existiam em museus.
Mercado Malik, o "camelódromo" parisiense |
Depois pegamos o metrô até a estação Trocadéro com o intuito de subir a Tour Eiffel. Os gramados em aclive do Jardim do Trocadéro, com os respingos refrescantes de seus repuxos e canhões d'água, proporcionam um cenário para um romântico piquenique de croissants (previamente comprados em alguma boulangerie a um euro) e camembert. O entorno da Eiffel nesse dia de sábado, um formigueiro humano, uma Babel de gente dos quatro cantos do mundo (com destaque para os chineses que invadiram a Europa, como em décadas passadas ocorrera com japoneses e americanos). Perante as filas quilométricas para a subida na torre, que pode ser feita por elevador ou escadas, preferimos adiá-la e continuar o passeio. Atravessamos o Campo de Marte até a Escola Militar e de lá percorremos o pequeno trecho até o impressionante conjunto do Dôme/Hôtel dês Invalides/Museu do Exército que a gente via ao longe da Ponte Alexandre III mas do qual nunca havíamos nos aproximado. Terminamos a jornada à beira do Sena, num trecho transformado em vasta área de lazer (quem não tem praia caça com Sena), em frente ao Musée D'Orsay comendo uma salada e tabule comprados de um mini-Carrefour próximo e bebendo vinho rosé, como muitos outros franceses e turistas que lá curtiam seu sábado.
Começamos o dia percorrendo um desses passeios a pé por áreas menos turísticas recomendados pelo Guia Visual da Folha (a tradução brasileira do Eyewitness Travel Guide - p. 272) na aprazível Butte-aux-Cailles, uma colina nas imediações da Place d'Italie, na parte sul da cidade, com suas ruas tranquilas, ruelas com calçamento de pedras e velhos lampiões, conjuntos de casas casadas, uma fonte onde as pessoas vêm com garrafas pegar água mineral, uma piscina pública, a Villa Daviel, uma vila com casinhas ajardinadas.
Butte-aux-Cailles: tranquilidade |
De lá pegamos o metrô até a Opéra Garnier. Dizem que o Municipal se inspirou na Garnier; em verdade, é uma miniatura dela. A Garnier é a maior sala de ópera do mundo, concebida para ser um templo da música, e como aqui em Paris tudo é exuberante, descomunal, a cidade conta com um segundo teatro de ópera, do tempo da modernização de Paris por Mitterand no bicentenário da Revolução, de desenho moderno, construída na Place de la Bastille para "des-elitizar" esse gênero de arte que remonta à Grécia Antiga (o teatro grego com seu coro), ressurgiu no Renascimento, constituiu o principal evento social dos nobres e ricaços do séc. XIX, que lá iam exibir suas joias, arranjar partidos para as filhas, verem e serem vistos, em suma, tudo menos assistir à própria ópera, e que, mesmo com o advento de sua filha do séc. XX, o musical, e mais contemporaneamente do show de rock, ainda consegue lotar teatros. A Ópera foi construída na década de 1870, época em que Victor Hugo escrevia Os Miseráveis, por ordem de Napoleão III, após sofrer um atentado no teatro antigo de madeira — Paris teve algumas Óperas antes da Garnier, que eram de madeira, por proporcionar melhor acústica, e que por isso acabavam pegando fogo. A ornamentação interna da Ópera segue o princípio do "crescendo", o mesmo do Bolero de Ravel: a suntuosidade vai aumentando, conforme se adentra o teatro, culminando no estonteante foyer e na impressionante plateia, com suas poltronas forradas de veludo vermelho-cereja — pagam-se 200 euros para assistir a uma opera lá. A visita pode ser livre ou guiada, esta em inglês ou francês.
Opéra Garnier: teto do foyer |
Opéra Garnier: poltronas |
Depois de tanto deslocamento, uma autêntica pizza italiana no Pizza Pino do Boulevard des Italiens, onde o garçom dá as boas vindas no idioma de Dante. Depois mais caminhada pela elegante Avenue de La Paix, passando pela Place Vendôme — que preserva a arquitetura do século XVIII mas cuja estátua de Napoleão no alto de uma coluna estava em restauração —, atravessando o Jardin des Tuilleries com seu Parque de Diversões e enfim cruzando a ponte com as grades laterais abarrotadas de "cadeados do amor" até a margem oposta do Sena, para melhor digerir nossa grande bouffe, comilança.
Para visitar a casa e jardins do pintor impressionista Monet em Giverny, pega-se um trem na Gare Saint-Lazare com destino a Vernon e lá, bem na frente da estação, a navette (ônibus) até Giverny. De lá faz-se um pequeno percurso a pé (é só seguir o bando de chineses, que nunca erram) e espera-se uns vinte minutos na fila para comprar as entradas. Convém trazer um litro d'água e uns croissants de Paris pois aqui os preços são meio "turísticos". O jardim de Monet deve ser um dos mais graciosos do mundo, jardim de flores, os mais diversos tipos nas mais belas combinações de cores (coisa de artista impressionista) — pela biblioteca de Monet em sua casa vê-se que apreciava a horticultura e floricultura — e um jardin d'eau com o famoso laguinho das ninfeias (étang des nymphéas) e a ponte japonesa celebrizada em seus quadros. A casa do artista, um aconchego, com vistas para o jardim, cores das paredes diferentes em cada aposento e profusão de gravuras japonesas e reproduções de quadros de Monet e outros impressionistas.
Laguinho de ninfeias na casa de Monet em Giverny |
Após umas três horas contemplando jardins e casa, breve caminhada pela aldeia de Giverny até a velha igreja em cujo adro repousa a família Monet, e navette de volta à estação de trem, onde intensa tempestade "tropical" fez com que tivéssemos de nos "comprimir" contra a parede da plataforma de embarque para não nos molharmos.
Flores |
De volta à Gare Saint Lazare, achamos que um hamburgão no Burger King faria bem à nossa fome e bolso (€10), só que filas enormes se formavam diante de cada caixa. O fast food é estranho aos hábitos gastronômicos refinados dos franceses, de modo que são poucos os MacDonald's e Burger Kings em comparação com outras capitais europeias, mas a julgar pela multidão que esperava trinta minutos para ser atendida, também aqui o American way of life conseguiu conquistar alguns corações e mentes.
Igrejinha de Santa Radegunda em cujo adro está enterrada a família Monet |
Forrado o estômago, a sobremesa, na refinada confeitaria Ladurée, na Champs Elysées: doces finíssimos à base de rum e os tradicionais macarrons. Très chic!
DISNEYLAND PARIS (12/8)
O visitante em Paris vê-se diante do dilema: visitar ou não a Disneylândia local? Afinal, você vem a Paris para desfrutar a cultura francesa, os museus, a arquitetura, a culinária, o cancan se for endinheirado. Assim, na ultima viagem para cá, não fomos à Disneylândia. Por outro lado, ela fica tão pertinho, e só Deus sabe quando se terá a oportunidade de ir à original americana. Já que estamos aqui, não custa nada ir — ou por outra, custa bem carinho. Comprei os ingressos para um dia nos dois parques pela Internet antes da viagem por 74 euros per capita, quase quinhentos reais pela brincadeira mas... tudo vale a pena se a alma não é pequena, e passar um dia da vida brincando num mundo da fantasia, esquecendo que você é um mortal com contas a pagar e outras adultices & caretices não tem preço.
A Disneyland Paris compõe-se de dois parques: o Disneyland Park — que é a Disneylândia clássica com castelo da Bela Adormecida (Lê Chateau de la Belle au Bois Dormant, em francês tudo soa mais bonito), uma grande parada vespertina das princesas, e cinco "mundos": Adventureland, Frontierland, Main Street, Fantasyland, Discoveryland — e Walt Disney Studios, com temática em torno da sétima arte. O número de visitantes é descomunal, parece que sempre chega mais gente — e olha que fomos lá numa terça achando que seria mais tranquilo. Em algumas atrações mais populares o tempo de espera pode ultrapassar uma hora, mas nada que não se possa enfrentar com um Kindle à mão (desde que pisei no avião no Rio venho lendo a clássica versão inglesa das Mil e Uma Noites de Richard Burton), e o sistema de filas, labirínticas e ziguezagueantes, faz com que estejamos sempre em movimento e cercado de uma ambiência sugestiva — não é a fila clássica das repartições que parece que não anda. São muitos os brinquedos e atrações. Para se ter uma ideia, viajamos na nave espacial do Star Wars, entramos no submarino Náutilus, outra nave espacial em que viajávamos foi atingida por um asteroide, percorremos uma casa mal-assombrada, estivemos no covil dos piratas do Caribe, vimos como funcionam alguns efeitos especiais do cinema e assistimos à filmagem de cenas de perseguição e tiroteios envolvendo motos e carros.
Disneyland Paris |
A Disneyland Paris compõe-se de dois parques: o Disneyland Park — que é a Disneylândia clássica com castelo da Bela Adormecida (Lê Chateau de la Belle au Bois Dormant, em francês tudo soa mais bonito), uma grande parada vespertina das princesas, e cinco "mundos": Adventureland, Frontierland, Main Street, Fantasyland, Discoveryland — e Walt Disney Studios, com temática em torno da sétima arte. O número de visitantes é descomunal, parece que sempre chega mais gente — e olha que fomos lá numa terça achando que seria mais tranquilo. Em algumas atrações mais populares o tempo de espera pode ultrapassar uma hora, mas nada que não se possa enfrentar com um Kindle à mão (desde que pisei no avião no Rio venho lendo a clássica versão inglesa das Mil e Uma Noites de Richard Burton), e o sistema de filas, labirínticas e ziguezagueantes, faz com que estejamos sempre em movimento e cercado de uma ambiência sugestiva — não é a fila clássica das repartições que parece que não anda. São muitos os brinquedos e atrações. Para se ter uma ideia, viajamos na nave espacial do Star Wars, entramos no submarino Náutilus, outra nave espacial em que viajávamos foi atingida por um asteroide, percorremos uma casa mal-assombrada, estivemos no covil dos piratas do Caribe, vimos como funcionam alguns efeitos especiais do cinema e assistimos à filmagem de cenas de perseguição e tiroteios envolvendo motos e carros.
Café da manhã especial no Le Pain Quotidien, padaria-bistrô perto do Hôtel de Ville, no Marais, onde você pode comprar ou degustar pães orgânicos, geleias e pastas sentado a uma grande mesa retangular coletiva (table communale) à maneira dos Biergarten alemães. Pedimos uma cesta de pães da casa à partager (para dividir entre dois, e de fato de cada espécie de pães, a maioria pretos, vinham duas fatias). Se você for sociável pode puxar conversa com as pessoas próximas e compartilhar com elas as geleias e pastas (cada casal recebe três potinhos; nós, por exemplo, recebemos uma geleia de figo, outra de ruibarbo e morango e uma pasta de speculos, gosto de avelãs, parecida com Nutella.
Louvre |
À tarde, o Louvre. Visitar Paris sem uma passagem pelo Louvre é, digamos, um sacrilégio (seria como visitar a Alemanha e não comer salsichas). No diário de viagem de três anos atrás escrevi sobre a vastidão do Louvre, sua configuração etc. [Para ler os diários anteriores clique na guia viagens no menu superior.] Ver tudo que tem no Louvre seria como dar a volta ao mundo em um dia: você acaba não vendo nada direito. E tem o fenômeno do embotamento: depois de digamos duas horas contemplando a beleza sua sensibilidade estética declina. Optamos por um conjunto de salas recém-instaladas da seção de objets d'art, as artes decorativas, com os diferentes estilos de decoração do período de Luis XIV, o Rei Sol, a Luis XVI, o rei que perdeu a cabeça na guilhotina. Suntuosidade. Não foi à toa que o povo se rebelou...
Ladurée |
À noite, voltamos ao Ladurée para saborear novos doces: Divin, éclair de chocolate e Harmonie. Cada doce, uma surpresa. O casal de franceses ao nosso lado parecia observar o êxtase com que degustávamos as maravilhas. Ao final, puxei conversa. Elogiei a culinária francesa, as artes, os palácios. Aqui é o Velho Mundo, temos história, disseram. Perguntaram de onde vínhamos. Do Brasil, respondi. Quiseram saber sobre o legado da Copa. Otimismo, respondi. Não sabíamos que tínhamos um pais tão maravilhoso. Foi preciso que os estrangeiros nos dissessem.
Vitória. Conseguimos subir l'escalier (as escadas) até o segundo pavimento da Tour Eiffel. A torre possui três plataformas (a 57, 115 e 276 metros) às quais se pode subir de elevador, ou então se vai até a segunda plataforma pelas escadas (+ barato) com a opção de prosseguir de lá ao topo no elevador. Ao último andar da torre, a quase trezentos metros de altura, nunca tive e acho que nunca terei coragem de subir. Da última vez, fomos até o primeiro andar, mas no meio da subida ao segundo deu um acesso de "cagaço" e desistimos. Mas hoje conseguimos! E que vista! Paris aos seus pés.
Assim Roland Barthes definiu a Tour Eiffel: "Spectacle regardé et regardant, édifice inutile et irremplaçable, monde familier et symbole héroïque, témoin d’un siècle et monument toujours neuf, objet inimitable et sans cesse reproduit, elle est le signe pur, ouvert à tous les temps, à toutes les images et à tous les sens" — Traduzindo: "Espetáculo contemplado e contemplante, construção inútil e insubstituível, mundo familiar e símbolo heroico, testemunha de um século e monumento sempre novo, objeto inimitável e sem cessar reproduzido, ela é o signo puro, aberta a todos os tempos, a todas as imagens e a todos os sentidos".
Panorama do segundo andar da Torre |
Assim Roland Barthes definiu a Tour Eiffel: "Spectacle regardé et regardant, édifice inutile et irremplaçable, monde familier et symbole héroïque, témoin d’un siècle et monument toujours neuf, objet inimitable et sans cesse reproduit, elle est le signe pur, ouvert à tous les temps, à toutes les images et à tous les sens" — Traduzindo: "Espetáculo contemplado e contemplante, construção inútil e insubstituível, mundo familiar e símbolo heroico, testemunha de um século e monumento sempre novo, objeto inimitável e sem cessar reproduzido, ela é o signo puro, aberta a todos os tempos, a todas as imagens e a todos os sentidos".
Delícias parisienses |
De manhã, havíamos comprado os deliciosos croissants au beurre do Les Temps des Délices, a boulangerie perto do nosso hotelzinho, para comer com camembert sentados confortavelmente no Starbucks próximo da Bastille. Para os três últimos dias de Cidade Luz compramos um ticket Mobilis que nos permite ziguezaguear à vontade. O problema do camembert é que, sem geladeira, começa a emitir um mau cheiro, mesmo protegido num plástico e enfiado na bolsa. Após o desjejum havíamos dado uma volta por Barbès, um reduto de africanos e afrodescendentes, e passamos pelo Moulin Rouge para nos informarmos do preço de um show de cancan. Muito caro, o preço mínimo, sem jantar nem champanha, uns cem euros por pessoa.. Idem Lido.
A caminho da Torre Eiffel, subitamente um grupo de negros dispara rua e calçada afora, qual maratonistas quenianos. Deviam ser vendedores de miniaturas da Torre Eiffel (cinco por um euro), que pululam nos locais turísticos, fugindo do rapa, ou mesmo imigrantes ilegais. Chegando na Torre vimos soldados supostamente da Guarda Nacional armados como policiais do Bope prestes a invadir o Morro da Pedreira. Ao descermos da torre os guardas não mais lá estavam, e os camelôs haviam retornado. Igualzinho aqui no Rio!
Sacre Coeur |
Na volta da Eiffel pegamos a Avenue Rapp, em cujo número 29 nos embasbacamos com o bonito prédio art nouveau com vista para a torre (endereço nobre), transpusemos a Pont d'Alma e seguimos pela elegante Avenue George V, com suas embaixadas, sedes de grifes famosas, lojas requintadas, uma delas ostentando na vitrine trajes na casa dos milhares de euros, até a Champs Elysées, onde jantamos na Pizza Pino de lá, mesma qualidade da filial da Opéra, mas menos romântica, mais apinhada. Na saída, surpreendidos pela chuva. Se na canção do Chico uns dias chove noutros dias bate sol, aqui em Paris faz tudo no mesmo dia. Não dá para sair sem guarda-chuva, ouviu?
Último dia em Paris. De manhã subimos Montmartre, seguindo um roteiro alternativo (que não aquele das hordas de turistas) do Guia Visual (p. 266). Na descida pretendíamos comer uma omelete num bistrô, mas estava fechado. Rumamos até o Paul (uma casa de sanduíches de baguete de qualidade fundada em 1889) mais próximo, igualmente fechado. Muitas lojas de portas cerradas. Será que os franceses enforcam as sextas? Um lanche no Brioche Dorée decepcionou. Não vá lá! Só à tarde, quando fomos pedir informações sobre uma linha de ônibus, descobrimos que era jour férié, feriado: Dia da Ascensão. Nas viagens é bom consultar a tabela dos feriados locais. De tarde voltamos ao Parc de Bagatelle, cenário de uma passagem de Proust, onde estivéramos na viagem anterior, com seu mimoso jardim de rosas ostentando dezenas de "espécies" diferentes, obtidas por cruzamentos, pouco visitado por turistas por ser fora de mão, num recanto do enorme Bois de Boulogne, uma espécie de Floresta da Tijuca parisiense. No diário de viagem anterior dou o caminho das pedras. À noite despedida de Paris na Champs Elysées.
Viagem no trem Eurostar, de altíssima velocidade (num trecho em que passou rente à estrada deixou os carros todos para trás), de Londres a Paris, em pouco mais de duas horas, passando sob o Canal da Mancha (milagres da engenharia moderna) — com a vantagem de que o fuso horário londrino é uma hora mais cedo que o da Europa Continental. Pega-se o trem na estação Paris Nord, onde montaram uma "fronteira" simulada (a Grã-Bretanha não assinou o Acordo de Schengen que permite a livre circulação interfronteiras como o resto da Europa): você mostra o passaporte na "polícia de fronteira" da França e depois "entra" no Reino Unido com todos os controles rigorosos tão comuns nos aeroportos: passagem pelo detector de metais, controle de passaporte, revista corporal e o interrogatório para detectar potenciais imigrantes ilegais — o que você vai fazer no Reino Unido, já esteve lá antes, onde vai se hospedar? Ao guarda de fronteira, citei a frase célebre de Dr. Johnson de que o homem que está cansado de Londres está cansado da vida.
Carregamos nossos Oysters (espécie de RioCard local, carregar um cartão aqui se diz "top up"), pegamos o onipresente metrô londrino (aonde quer que você vá acaba esbarrando com uma estação), acomodamos-nos no nosso bed & breakfast de costume, o Limegrove Hotel (pelo qual paguei antecipadamente, meio ano atrás, £390 por seis noites) e partimos em nosso primeiro passeio no Centro da cidade, com seus teatros, cassinos, praças, pubs e comércio lotados de gente, feito formigueiro, neste início de noite de sábado.
Amigos londrinos (Sue & Ilan) aos quais mostramos o Rio no ano anterior ao das Olimpíadas de Londres levaram-nos a Oxford, a uma hora de carro de Londres por uma ótima estrada com três pistas em cada mão. Fizeram uma reserva para um walking tour oficial organizado pelo escritório de turismo municipal. Tendo chegado em Oxford duas horas antes, deu para visitar a coleção de arte europeia do Ashmolean Museum e para comer um fish & chips num pub local, Far From the Maddening Crowd. Fica a dica: nos pubs ingleses come-se "comida di buteco" honesta num ambiente bem British. Seguindo o exemplo do Ilan, bebi meia bitter localmente produzida: medianamente amarga e servida na temperatura local, ou seja, uma cerveja estupidamente gelada aqui só mesmo no inverno ao ar livre. O guia, ex-estudante de Oxford, conduziu-nos, sempre contando fatos curiosos e interessantes, num impecável inglês britânico, pelas faculdades oxfordianas, incluindo (ao que ficou retido na minha memória) o velho pub onde se bateu o recorde mundial de bebedeira de cerveja (um copázio descomunal em 17 segundos) e onde Bill Clinton teria fumado seu único joint, baseado, na vida; a Bodlean Library, que devemos a um tal de Bodlean que se casou com uma viúva rica e se dedicou a construir em sua ex-universidade uma biblioteca que desde então recebe todos os livros publicados na Inglaterra, tantos que teve de construir novos anexos; um refeitório obra-prima da arquitetura gótica não-religiosa. Grandes estadistas e escritores estudaram nas 38 faculdades de Oxford espalhadas pelo centro histórico da cidade — não existe propriamente um campus unificado. Aqui e ali o guia perguntava: alguém de vocês é fã de Lewis Carrol, C.S.Lewis, Tolkien, etc. e arrematava: ele estudou aqui. O processo de seleção é rigorosíssimo, a anuidade pesada, mas os alunos desfrutam um contacto constante com um "tutor" inexistente nas outras instituições de ensino superior do mundo. Os prédios seguem o estilo gótico, com exceções, alguns adornados com gárgulas, nem todas medievais — algumas são recentes, alusivas a ex-alunos ou outras brincadeiras.
À noite gostoso jantar regado a bons vinhos na aconchegante "casinha" de "subúrbio" de nossos amigos, decorada num estilo europeu de antigamente, com tapetes persas, quadros e os livros tão em falta nos lares tupiniquins, como era o apartamento de minha vovó em Sampa ou de minha titia no lar de idosos em Kronberg.
Por ser um palácio em utilização, e não um palácio-museu tipo Versalhes ou Schönbrunn, ou o Museu Imperial de Petrópolis, achei que a rainha não se dignaria a receber plebeus lá. Ledo engano. Do final de julho ao final de setembro, os state rooms do Palácio de Buckingham estão abertos ao público (após passar por rigorosa revista tipo aeroporto e pagar £19,75). Embora relativamente recente em relação aos seus congêneres (a Rainha Vitória foi a primeira monarca a lá residir) não fica devendo nada em termos de pompa, incluindo uma pinacoteca com valiosa coleção de renascentistas, flamengos, holandeses (Van Dyck viveu seus últimos anos aqui pintando para o rei Carlos I e recebeu o título de Sir) etc.
Intalação "Blood Swept Lands and Seas of Read" no fosso da Torre de Londres |
Depois fomos ver a velha Torre de Londres, um pedaço da Londres medieval em meio à modernidade, em cujo fosso uma instalação de papoulas de cerâmica dos artistas Paul Cummins e Tom Piper homenageia os soldados ingleses mortos na Grande Guerra, começada cem anos atrás.
De lá andamos até o Shard, o pontiagudo prédio pôs-moderno quase da altura da Torre Eiffel que contemplamos só de baixo para cima porque para ver a vista lá do alto teríamos de desembolsar uma quantia salgada (a subida precisa ser reservada com hora marcada no site).
The Shard |
Enfim o popular Jack the Ripper walking tour do London Walks que procura desmistificar e desglamourizar a história desse misterioso e cruel assassino que atacou prostitutas londrinas durante um curto período para depois sair de cena e nunca ser desmascarado. Hambúrguer num clima retrô dos anos 50, ao som de velhos rock-and-rolls, no Ed's (Easy Dinner).
Enquanto a Mi fazia compras na Primark — uma rede de grandes lojas de departamentos de roupas com preços populares — percorri meio que a esmo a National Gallery, detendo-me nas salas dos pintores ingleses (34 a 36): Gainsborough, o melhor de todos; o paisagista Constable; Turner com seus jogos de luz e reflexos; o impressionante cavalo Whistlejacket de Stubbs; Hogarth e outros. Depois de nos reencontrarmos e tomarmos um café da tarde no Starbucks (um refúgio conveniente nas viagens, pois lá você pode se sentar calmamente e escrever o diário, usar o Wi Fi, fazer um pipi etc.), caminhamos até a estação Temple, ponto de encontro de um dos London Walks, The Hidden Pubs of Old London Town, percorrendo velhos pubs — velho pub aqui é coisa de trezentos, quatrocentos anos — e meandros & quebradas que sem um guia jamais descobriríamos. Além do prazer de ouvir uma série de "causos" e anedotas num delicioso "londrinês".
Repetidas alusões à vida e hábitos de Charles Dickens — o pub que frequentava, como transformava pessoas com quem topava em personagens de seus romances — no passeio guiado de ontem nos motivaram a visitar o Museu Charles Dickens, instalado na casa que o escritor habitou quando estourou literariamente, ainda jovem, com seu folhetim ilustrado The Pickwick Papers. O museu reúne objetos, mobília e iconografia alusivos à vida e obra do grande folhetinista que em obras como Great Expectations (que está na lista de meus romances preferidos) e Oliver Twist retratou a sociedade (com suas mazelas) e os tipos humanos de sua época como os folhetinistas televisivos hodiernos retratam a sociedade brasileira de hoje (a novela de TV é a nossa verdadeira literatura contemporânea: eis a tese que, se eu fosse um crítico literário badalado, defenderia). Depois um chocolate quente com panini e muffins no Costa Café nos fizeram observar mais uma vez a eficiência da mão-de-obra europeia: dois funcionários somente davam conta do recado, um na caixa, outro preparando as bebidas e pratos, servindo e, nos momentos de trégua (quando não aparecia nenhum freguês) recolhendo os pratos e xícaras nas mesas e, como de hábito aqui, jamais batendo papo em serviço. Uma mão-de-obra assim eficiente pode ser regiamente remunerada, e uma nação com uma mão-de-obra assim pode alcançar uma alta renda per capital. Eficiência e produtividade: eis o segredo da afluência. O resto é marxismo barato para boi dormir.
Lampião a gás, velha tradição londrina |
Depois fizemos algo que só é possível em cidades seguras e civilizadas: saímos andando a esmo com a intenção de nos perdermos e, aí, olharmos no mapa onde fomos parar. Fomos dar num ponto de ônibus onde, à semelhança do moderno sistema BRT que nosso ousado prefeito tenta implantar, placas informavam quais linhas por lá passavam, seus itinerários e quando os próximos ônibus chegavam — uma boa forma de ver o movimento de Londres (e filmar com a câmera) é do segundo andar de um ônibus. Turistas estrangeiros que visitam nosso pais devem estranhar a falta de informações em nossos pontos de ônibus.
London by night |
Finalmente visitamos a megaloja de departamentos Harrods, sentamos-nos por meia hora no Hyde Park e fomos jantar magníficos hambúrgueres no nosso pub londrino favorito, o Sussex, perto de Leicester Square (pronuncia-se "Lester Square").
Após quase um mês na estrada, saudades de minha rede, de minha praia. De manhã, um dos passeios do Visual Guide pelo Battersea Park e arredores (A Three-Hour Walk in Chelsea and Battersea - pág. 266). A vantagem desses passeios é que o levam por lugares onde você jamais iria normalmente, fora dos roteiros turísticos convencionais. A desvantagem é que as indicações nem sempre são claras e você pode até se meter numa furada, como quando entramos, instruídos pelo guia, nos jardins de um hospital que estavam fechados para o público e fomos advertidos por dois operários (You shouldn't be here). Depois fui rever (e mostrar para Mi) os quadros de pintores ingleses na National Gallery. Finalmente um desses ghost tours repleto de "causos" sobre aparições em velhos teatros e outros locais nesta que é a cidade mais assombrada (haunted) do mundo. E uma pizza no Pizza Hut com salada grátis para repor as energias.
LONDRES VERSUS PARIS
Uma digressão sobre o perfil arquitetônico de Londres versus Paris: Londres conserva basicamente o traçado pós-Grande Incêndio de 1666, quando foi reconstruída. Não tem os grandes espaços e bulevares da Paris de Napoleão III. Londres não teve um Barão Haussman que a reconfigurasse na segunda metade do século XIX. Mas tem seu acervo de monumentais construções vitorianas, e seu núcleo medieval (a Torre de Londres) supera o de Paris. E enquanto Paris conserva intacto seu centro histórico do século XIX e empurra a pós-modernidade à periferia, em Londres surge, entremeada à velha cidade, uma geração de construções pós-modernas de desenhos ousados, dos melhores arquitetos — o Gurkin, o Cheese Grater, o Shard, mais alto prédio europeu — que daqui a cinquenta anos farão de Londres a capital europeia da arquitetura pós-moderna. Qual é mais bonita, Paris ou Londres? São estilos diferentes, não dá para comparar. Você precisa visitar as duas.
LONDRES VERSUS PARIS
Uma digressão sobre o perfil arquitetônico de Londres versus Paris: Londres conserva basicamente o traçado pós-Grande Incêndio de 1666, quando foi reconstruída. Não tem os grandes espaços e bulevares da Paris de Napoleão III. Londres não teve um Barão Haussman que a reconfigurasse na segunda metade do século XIX. Mas tem seu acervo de monumentais construções vitorianas, e seu núcleo medieval (a Torre de Londres) supera o de Paris. E enquanto Paris conserva intacto seu centro histórico do século XIX e empurra a pós-modernidade à periferia, em Londres surge, entremeada à velha cidade, uma geração de construções pós-modernas de desenhos ousados, dos melhores arquitetos — o Gurkin, o Cheese Grater, o Shard, mais alto prédio europeu — que daqui a cinquenta anos farão de Londres a capital europeia da arquitetura pós-moderna. Qual é mais bonita, Paris ou Londres? São estilos diferentes, não dá para comparar. Você precisa visitar as duas.
Começamos a viagem em Amsterdam e aqui terminamos, já sem as malas, despachadas em Londres para serem apanhadas no Rio amanhã. Desde que aportamos em solo europeu, só viajamos de trem: as estações são centrais, inexistem controles de fronteira (com exceção do trecho Paris-Londres) e mesmo após quatro, cinco, seis horas de deslocamento você chega sempre bem disposto. Avião é um estresse: para um voo com a duração de um Rio-São Paulo tivemos de chegar uma eternidade antes, passar pela revista, e depois que aterrissamos em Amsterdam uma chuvarada fez com que tivéssemos de aguardar mais meia hora dentro da aeronave até que pudessem iniciar os procedimentos de desembarque.
Heineken |
Para esta noite pegamos um excelente Accor perto da Centraal Station com vista panorâmica, cinematográfica. E desde ontem os nossos cartões de débito e crédito começaram a entrar em pane, ora um, ora outro, sem muita lógica, expondo-nos a sustos e constrangimentos. Ligar para o telefone internacional do Itaú, missão impossível. Fica a lição: próxima vez, levar também um pré-pago de um banco americano. E trazer um pouco mais de papel moeda.
Último passeio por Amsterdam, última Heineken. Amanhã atravessamos o oceano de voltamos à pátria amada.
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4 comentários:
Adorei sua viagem!!! Viajei junto!
que delícia! thanks for sharing :)
Delícia de descrições no seu estilo primoroso, quase dá para sentir o sabor e os sons! E que escolhs de locais a visitar...! Planejar é essencial, dando tempo ao tempo, pagando na forma desejada. Estou mais uma vez espantada, ou melhor, encantada, com o prazer vivenciado por vocês. Abração, Lucilia
Narração maravilhosa.
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