Estava o cordeiro a beber num córrego, quando apareceu um
lobo esfaimado, de horrendo aspecto.
– Que desaforo é esse de turvar a água que venho beber? —
disse o monstro arreganhando os dentes. Espere, que vou castigar tamanha má-criação!…
O cordeirinho, trêmulo de medo,respondeu com inocência:
– Como posso turvar a água que o senhor vai beber se ela
corre do senhor para mim?
Era verdade aquilo e o lobo atrapalhou-se com a
resposta. Mas não deu o rabo a torcer.
– Além disso — inventou ele — sei que você andou falando mal
de mim o ano passado.
– Como poderia falar mal do senhor o ano passado, se nasci
este ano?
Novamente confundido pela voz da inocência, o lobo insistiu:
– Se não foi você, foi seu irmão mais velho, o que dá no
mesmo.
– Como poderia ser meu irmão mais velho, se sou filho único?
O lobo furioso, vendo que com razões claras não vencia o
pobrezinho, veio com uma razão de lobo faminto:
– Pois se não foi seu irmão, foi seu pai ou seu avô!
E — nhoc! — sangrou-o no pescoço.
MORAL DA HISTÓRIA: Contra o PT, digo a força não há
argumentos.
Em: Fábulas, Monteiro Lobato, São Paulo, Ed.
Brasiliense:1966, 20ª edição.
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