Os avarentos não acreditam numa vida futura, o presente é
tudo para eles. Esta reflexão joga uma horrível clareza sobre a época atual em que, mais que em qualquer outro tempo, o dinheiro domina as leis, a política e
os costumes. Instituições, livros, homens e doutrinas, tudo conspira para solapar a crença numa vida futura, sobre a qual o edifício social se apoia há mil e oitocentos anos. Atualmente, a sepultura é uma transição pouco temida. O amanhã que nos esperava
além do Requiem foi transportado para o presente. Chegar per fas et nefas [por todos os meios] ao paraíso terrestre do luxo e das vaidosas alegrias, petrificar
o coração e macerar o corpo em busca de bens passageiros como outrora se suportava o martírio em busca dos bens eternos, eis o pensamento geral.
Pensamento que, aliás, está escrito em toda parte, até nas leis, que perguntam ao
legislador: "Que pagas?" em vez de indagar: "Que pensas?" Quando essa doutrina tiver passado da burguesia ao povo, que
será do país?
Escrito em 1833 em Paris por Balzac (em Eugênia Grandet; tradução de Gomes da Silveira para a edição da Comédia Humana organizada por Paulo Rónai; imagem obtida no site dos relógios Breguet)
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