POEMAS NATALINOS


CANÇÃO DO DEUS MENINO
Cyro de Mattos


Alegre como passarinho
Lá vou eu pelo caminho
Cantando porque nasceu
Em Belém o Deus Menino.

Esse menino que nasceu
Na manjedoura em Belém
Como estrela nos fascina
Na cidade ou na campina.

Quer os homens como irmãos
Convivendo em comunhão
Dentro de cada coração
Pelos ares ou no chão.

Quer os bichos sem matança,
A vida sem agressão,
A vida sem solidão,
A vida como uma dança.

Alegre como passarinho
Lá vou eu pelo caminho
Cantando porque nasceu
Em Belém o Deus Menino.


Do livro Ecológico

NATAL
Angela Nassim (lynn)


...e depois do Natal
tudo volta ao cotidiano
da materialidade
esquece-se o sentido
da festa vivida

e o Messias?
ficou pregado na cruz


POEMA I da "Primeira Dor" do
Setenário das Dores de Nossa Senhora

Alphonsus de Guimaraens



Nossa-Senhora vai... Céu de esperança
Coroando-lhe o perfil judaico e fino...
E um raio de ouro que lhe beija a trança
É como um grande resplandor divino.

O seu olhar, tão cheio de ondas, lança
Clarões longínquos de astro vespertino.
Sob a túnica azul uma alva Criança
Chora: é o vagido de Jesus Menino.

Entram no Templo. Um hino do Céu tomba.
Sobre eles paira o Espírito celeste
Na forma etérea de invisível Pomba.

Diz-lhe o velho Simeão: "Por uma Espada
Já que Ele te foi dado e que O quiseste,
A Alma terás, Senhora, traspassada..."


NUMAS PALHINHAS DEITADO
João Saraiva


Numas palhinhas deitado,
abrindo os olhos à luz,
loiro, gordinho, rosado,
nasce o Menino Jesus.

Uma vaquinha bafeja
seu lindo corpo divino,
de mansinho, que a não veja
e não se assuste o Menino.

Meia-noite. Canta o galo.
Por essa Judéia além
dormem os que hão de matá-lo
quando for homem também.

E, pensativa, a Mãe Pura
ouve, fitando Jesus,
os rouxinóis na espessura
de um cedro que há de ser cruz!...


Extraído de “O Natal na Poesia”, artigo de Dom Marcos Barbosa publicado no Jornal do Brasil de 24/12/81

O ANÚNCIO FEITO A MARIA
Maria Thereza Noronha


Abre-se a asa do Arcanjo
e nela se vê, pousada,
a cabeça coroada
de um rei além deste mundo.

Abre-se a asa do Arcanjo
sobre a sombra de Maria.
E a ela, grave, anuncia
o filho oculto nas nuvens.

Das asas de ouro o Arcanjo
doura a fronte de Maria
com um diadema de luzes
que ofusca a pele do dia.

E ao assombro de Maria,
tal um espelho, do lado
esquerdo na asa, reflete
um coração trespassado.

Não à dor que se anuncia
o amor de mãe sangre e trema:
vê apenas um menino
cheirando a leite e alfazema.

E estende os braços de alfanje
rumo à asa esquerda do Arcanjo.
Enquanto Este já ia longe
deixando um rastro de plumas.

Bizarro e áureo tapete
– facho de luz entre brumas –
onde, serena, a mãe vela
seu ninho de cruz e estrelas.


Do livro A face dissonante

NUM POSTAL COM DOIS CACHORRINHOS E ENFEITES DE NATAL — PERDÃO, COM UM GATO E UM CACHORRINHO
Carlos Drummond de Andrade

Este gato não é de araque,
é de copo de conhaque,
e o malandro cacholinho
fica olhando de fininho
para ver se a dona chega
e acaba com a bagunça.
Enquanto a dona não vem,
os dois fazem seu Natal
entre bolas, contas, flores,
pois neste mundo, afinal,
os dois bichinhos de truz,
como as damas e os senhores,
são filhinhos de Jesus.


Do livro Poesia errante

SONETO DE NATAL
Alphonsus de Guimaraens Filho


É Natal. Foram tantos os Natais...
Pois que é Natal mais uma vez, apreende
esse cântico longo que se estende
por terras, mares, não termina mais.

Natal mais uma vez. Uma vez mais,
o menino que só a estrela entende,
os pais que a treva inquieta, ela, a quem rende
a certeza das coisas abissais.

Pois que é Natal, pensemos no menino,
apenas no menino. E o contemplemos
no berço onde ora está, tão pequenino.

Já quanto aos pais, a meditar deixemos.
Sabem os pais qual a hora do destino.

Fingindo não saber, sonhando olhemos.

Do livro Todos os sonetos, da Editora Galo Branco.



VESTE-SE A TERRA DE AZUL
Maria Isabel (Ferreira), terceira carmelita

Veste-se a terra de azul
enxuga o pranto da espera
foi encontrado um Menino
nos braços da Primavera

Maria rosa orvalhada
nuvenzinha aparecida
deixaste chover o Justo
sobre o deserto da vida.

Adeus chão do nunca mais
adeus abismos do medo
chegou quem nos levará
como um anel em seu dedo.


Extraído de “O Natal na Poesia”, artigo de Dom Marcos Barbosa no Jornal do Brasil de 24/12/81. Poema possivelmente nunca publicado em livro, dedicado a Dom Marcos.

POEMA II da “Segunda Dor” do Setenário das Dores de Nossa Senhora
Alphonsus de Guimaraens


Fora uma estrela de fulgor imenso
Que os guiara, em noite incerta, ao Lugar-Santo...
Mirra trouxera Beltesar: incenso
Gaspar: Melchior o ouro que fulge tanto.

Eram vales e montes, e era o denso
Bosque, e o campo espraiado em verde manto:
E ao luar, todo de jaspe, e ao sol intenso,
Seguiam na asa de celeste encanto.

Quando se viram sob o mesmo teto
Que abrigara a Família imaculada,
Brotou-lhes na Alma a Flor do etéreo Afeto.

E os Reis Magos, o olhar humilde e terno,
Os Diademas tiraram, poeira e nada,
Diante d’Aquele que era o Verbo eterno...


SONETO DE NATAL
José Antonio Jacob


Essa mulher, que sonha, sofre e chora,
E o escasso seio estende, e o acaricia,
Ao filho magro, que seu leite implora,
Podia se chamar Virgem Maria.

O que lhe importa se essa noite é fria
E além da porta é Natal lá fora,
Se Jesus Cristo nasce todo dia
E está dormindo no seu colo agora?

Ela é Nossa Senhora da Pureza,
Cuida da nossa vida de pobreza
E ora por nós que somos filhos seus...

Essa Mulher, que sonha, sofre e chora,
Só pode ser então Nossa Senhora,

A Mãe de todos nós... A Mãe de Deus!




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Um comentário:

Vocas disse...

Bom dia!
Adorava conhecer o Rio...quem sabe um dia se cumpre esse meu sonho...
Duas perguntas:
1. Poderia por favor indicar-me bons poetas brasileiros
2. Por que o Pai Natal no Brasil é verde?...
Saudações