PUBLICADO ORIGINALMENTE EM O GLOBO DE 14/8/2015
Um fabuloso personagem sem paralelo na ficção brasileira,
que mais se aproxima dos fantásticos patriarcas de Gabriel García Márquez
São milhares de mulheres agricultoras, que dão duro no campo
e ajudam a alimentar os brasileiros, são pessoas simples, sofridas e honradas,
que mereciam mais respeito de Lula na Marcha das Margaridas, quando ele zombou
da inteligência delas — e do resto do Brasil — dizendo que Dilma não pode ser
julgada por seis meses de governo, embora esteja há 55 no poder. Que a crise
atual foi provocada pelos Estados Unidos e a Europa, e não pelo desastroso
primeiro mandato.
A marcha leva faixas e grita “Fora Cunha” em frente ao
Congresso, exigindo a cassação e a prisão de um dos deputados mais votados do
país e que legitimamente preside a Câmara, seja ele um canalha ou não. Mas quem
gritar “Fora Dilma!” é golpista, coxinha, direitista ou rico. Embora 93% dos
brasileiros a desaprovem. Vai entender.
A cada novo lance, vai ficando mais inverossímil a história
desse fabuloso personagem que não encontra paralelo na ficção brasileira e mais
se aproxima dos fantásticos patriarcas de Gabriel García Márquez, em que o
talento, a inteligência e a ambição levam à ascensão e queda de um sindicalista
carismático, inteligente e pitoresco, vítima de suas próprias bravatas,
malandragens e frouxidão moral, devorado pelas velhas elites políticas e
econômicas de sempre, com quem se aliou, achando que as enganaria.
Um dos seus piores legados é os salários de empregos
públicos e suas aposentadorias se tornarem muito melhores que os da iniciativa
privada, com o dinheiro do contribuinte. Quanto maior o Estado, maior a
corrupção. Nos milhares de cargos de indicação politica é que acontecem os
grandes prejuízos, por corrupção ou incompetência, ou os dois. Na empresa
privada o que vale é mérito e eficiência: roubos são raríssimos.
Dizendo que não pode ir nem a um restaurante de São Bernardo
por medo de ser vaiado, Lula tenta articular uma impossível reação, que depende
mais de Dilma do que dele, mas com 93% contra, quem acredita em uma virada?
Como terminará a história sensacional desse fabuloso personagem que foi um rei
do Brasil no século XXI? Drama, tragédia ou farsa? Um seriado melhor que “House
of Cards”.
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