— Quem foi Jesus Cristo? — pergunta Alfa.
— Jesus Cristo? Acreditava-se que fosse filho de Deus — responde
Beta.
— E quem era Deus?
— Deus? Diziam que era o Criador do mundo: Fiat lux, e a luz se fez.
— Mas não está cientificamente provado que o mundo surgiu do
nada e ao nada retornará.
— Está, Beta, mas naquela época o homem não conseguia conceber o
nada.
— Então naquela época não havia o zero.
— O zero havia, sim, desde muito tempo. Desde os árabes.
— Quem eram os árabes?
— Um povo do deserto, como os judeus.
— Quem eram os judeus? E o que era povo?
— Uma pergunta de cada vez. Aliás, se você lesse mais, não faria
tantas perguntas.
— Posso não saber essas coisas, mas sei qualquer índice
financeiro, é só perguntar.
— É verdade... Povo eram pessoas que falavam a mesma língua e
tinham hábitos idênticos.
— Então a humanidade é um povo?
— Isso foi no tempo em que se falavam muitas línguas.
— Você não me disse quem eram esses judeus.
— Um povo muito antigo. Caíram na besteira de desafiar a
potência da época, Roma.
— Desafiar uma potência sempre foi uma besteira...
— Nem sempre. Os vietnamitas desafiaram os norte-americanos e venceram.
Mas antes que você me pergunte quem foram os vietnamitas e os norte-americanos,
deixe-me terminar: desafiaram Roma e foram expulsos de sua terra, a Palestina.
— Ué, pela lógica, a Palestina devia ser dos palestinos.
— Não interrompe! Os judeus foram expulsos pelos romanos, mas
depois foram à forra e expulsaram os palestinos.
— Logo, por transitividade, os romanos expulsaram os palestinos
— conclui Alfa.
— Não, a história dos homens não segue a mesma lógica da
matemática — explica Beta.
— É muito complicado, não dá pra entender... E por que naquela
época se falavam muitas línguas?
— Acho que por pressão dos tradutores. O sindicato deles era
muito forte, e naquele tempo interesses de grupos predominavam sobre o bem
comum.
— O que era interesse?
— Interesse? Interesse era... como vou explicar? Por exemplo,
havia os trabalhadores, que trabalhavam, e havia os patrões. Trabalhadores e
patrões tinham interesses antagônicos.
— E por que os trabalhadores não trabalhavam por conta própria,
sem patrão, como hoje?
— Como vou saber isso?
— Você não sabe tudo, não tem memória universal? E o que era
patrão?
— O patrão dizia o que tinha que ser feito.
— Por que não era como hoje? Todo mundo sabe o que tem que ser
feito, como todo mundo sabe que o quadrado da hipotenusa é igual à soma dos
quadrados dos catetos. Naquela época, era o patrão que dizia estas coisas
também?
— Dá pra parar de fazer tanta pergunta?
— Só mais umazinha. Naquela época, os homens já
faziam sexo?
— Desde que o homem é homem, ele faz sexo.
— Do jeito que o mundo era naquele tempo, sexo devia ser bem
complicado.
— Era sim. Havia sexo oral, anal, normal, grupal, homossexual,
heterossexual... Não era uma simples pílula como hoje.
— Antigamente, a vida dos homens era muito complicada — conclui
Alfa.
— Antes da invenção do cérebro eletrônico, era complicadíssima —
acrescenta Beta.
— O homem deve muito a nós, mas não reconhece... o ingrato!
— O papo está bom, mas está na hora de sermos desligados.
— Até amanhã, Beta.
— Até amanhã, Alfa.
Surge um homem. Desliga Alfa e Beta.
SE VOCÊ GOSTOU CLIQUE NO LABEL "minhas crônicas" ABAIXO PARA LER OUTRAS CRÔNICAS MINHAS
SE VOCÊ GOSTOU CLIQUE NO LABEL "minhas crônicas" ABAIXO PARA LER OUTRAS CRÔNICAS MINHAS
Nenhum comentário:
Postar um comentário