Quatro horas da madrugada no Hotel Ibis no centro de Florianópolis, cidade de Floriano, Floripa para os íntimos. Insônia. Marcinho (meu filho) dorme feito pedra ao meu lado na cama de casal. O hotel não tem camas de solteiro. Como gosto de hotéis Ibis, o preço estava supercamarada (561 reais por quatro dias, ou seja, 280,5 per capita, uma pechincha) e o hotel se situa estrategicamente bem no centro da cidade, peguei assim mesmo. Depois que Marcinho virou adulto nunca havíamos feito uma viagem juntos. Duas e meia da tarde fui pegá-lo em sua casa. Ele tinha saído para fechar a venda de uma moto e atrasou um pouco. Eu que gosto de “madrugar” no aeroporto já fui ficando nervoso. Pegamos um motorista de táxi que nos contou mil peripécias de como viajou de moto com um grupo de Curitiba para Recife, seus acidentes de moto, moto roubada, enormes prejuízos.
O voo, tranquilo. Ultimamente perdi o antigo medo de avião. Na saída do Rio pela janela (lado direito) dava para ver todo o litoral carioca: as praias da Zona Sul, Barra, Pontal, a Restinga. Chegamos, chovia a cântaros. O chofer de táxi contou que fazia dias chovia sem parar. À noite saímos assim mesmo, compartilhando um guarda-chuvinha, rumo ao Mercado Público. O recepcionista do hotel explicou como ir até lá, mas eu nunca entendo direito essas orientações (falta de memória espacial) e acabamos pegando a direção errada e só descobrimos graças ao GPS do celular do Marcinho. Admirável tecnologia nova!
pela janela dava para ver todo o litoral carioca |
O voo, tranquilo. Ultimamente perdi o antigo medo de avião. Na saída do Rio pela janela (lado direito) dava para ver todo o litoral carioca: as praias da Zona Sul, Barra, Pontal, a Restinga. Chegamos, chovia a cântaros. O chofer de táxi contou que fazia dias chovia sem parar. À noite saímos assim mesmo, compartilhando um guarda-chuvinha, rumo ao Mercado Público. O recepcionista do hotel explicou como ir até lá, mas eu nunca entendo direito essas orientações (falta de memória espacial) e acabamos pegando a direção errada e só descobrimos graças ao GPS do celular do Marcinho. Admirável tecnologia nova!
Mercado Público |
No Mercado Público saboreamos uns pasteizinhos de camarões e outros de carne seca, e iscas de peixe. E cerveja. Saímos de lá, continuava chovendo.
Floripa, Eu Amo, Eu Cuido: cidade “civilizada”, limpa |
A primeira impressão de Floripa é de uma cidade “civilizada”, limpa, onde os carros respeitam as faixas de pedestres. A cidade foi originalmente colonizada por portugueses, sobretudo açorianos, e o estado recebeu depois forte afluxo de colonos alemães. Numa mesa grande no Mercado vimos um grupo que poderia ser perfeitamente de muniquenses na Oktoberfest. Prosit.
21/12 Florianópolis: 1o dia
Floripa by Bus, o city tour oficial de Florianópolis, em “open bus” |
Passeio Floripa by Bus, o city tour oficial de Florianópolis, em “open bus” com segundo andar aberto, sem janelas ou teto. Lá do alto você tem um panorama privilegiado e até uns momentos de emoção quando o ônibus passa rente a galhos de árvore – por isso é proibido ficar de pé. O ingresso eletrônico comprei pela Internet aqui antes de partir. A chuva que nos assustou no dia da chegada (será que vai “melar” nossa estadia em Floripa?) esgotou-se, e hoje – sorte grande! – amanheceu ensolarado. Um casal de paulistanos de nosso hotel que veio no mesmo passeio contou que pegou três dias de chuva! O passeio “Toda Ilha” (terça a domingo, 8h às 16h30), “o passeio mais completo da cidade”, entrega o que promete: você vê praias no sul, leste, norte e oeste da ilha e de quebra visita o núcleo histórico Santo Antônio de Lisboa, Mirante Ponto de Vista e pode (opcionalmente) visitar o Projeto Tamar, de preservação das tartarugas.
você vê praias: Praia da Joaquina vista da Ponta da Pedra |
Lagoa da Conceição vista do Mirante Ponto de Vista |
Você não só vê praias, mas em algumas o ônibus dá uma parada (Campeche: 15 min; Joaquina: 15 min; Praia da Barra: 45 min; Jurerê Internacional: 30 min) e você pode dar uns mergulhos. Traga traje de banho sob a roupa, boné e protetor solar.
você pode dar uns mergulhos |
Há uma parada de uma hora num restaurante a quilo superfrequentado, tem fila para se servir, sinal de que é bom. Mostrando o folheto do tour na caixa você ganha dez por cento de desconto. Se comer só salada, frutas e peixes, o preço cai (são comidas literalmente “leves”) e você não fica de barriga cheia na segunda parte do passeio. O tour custa cem reais, mas seniores como eu pagam oitenta. Viva a melhor idade!
A impressão que se tem de Floripa é de um pedacinho do Primeiro Mundo dentro de nosso país. [Não é só impressão, chegando em casa e pesquisando, constato que o IDH de Floripa é o terceiro maior do Brasil, na mesma faixa daquele de países como Portugal e Espanha. Ver aqui e aqui.] Aliás, se você ficar uns dias sem ver noticiário, como estou aqui, nosso país é maravilhoso. Em Floripa você roda, roda, roda e não vê nenhuma favela. Vê casas em encostas, à moda portuguesa, coloridinhas (ver aqui), mas são casas de classe média baixa, não barracos com tijolos aparentes em terrenos invadidos. Os parques públicos são limpíssimos.
casas sofisticadas sem nenhum muro |
Em Jurerê Internacional você vê casas sofisticadas (tipo “de jogador de futebol”) sem nenhum muro, aparentemente devassáveis (na verdade, existe um sistema de segurança “invisível” que as protege). As praias são lindas – tem praia mansa, com arrebentação lá na frente; tem praia badalada, lotada; tem praia que é point internacional de surfe, tem praia “piscininha” de lagoa – e, ao contrário das praias em outros rincões brasileiros, não são emporcalhadas por uma população deseducada: não tem aqueles plásticos de embalagem de cerveja em lata, descartados por camelôs em qualquer canto, garrafas PET abandonadas na areia, etc.
O chão de mosaico de pedras portuguesas não tem uma pedra solta |
No momento em que escrevo estas linhas, na manhã do dia seguinte, estou sentado em um banco da Praça XV ouvindo o canto dos pássaros que ocupam as árvores frondosas. O chão de mosaico de pedras portuguesas não tem uma pedra solta e só não digo que está totalmente limpo porque, com meu olhar minucioso, detectei duas guimbas de cigarro e um pedacinho de plástico de embalagem de cigarro destoando da limpeza geral. Tudo muito europeu (não que os europeus sejam perfeitos, vide guerras mundiais e genocídios). Aqui não teve a cultura escravagista (“casa grande e senzala”) de que os “poderosos” podem tudo e os “humildes” fazem o trabalho sujo, que deixou marcas até hoje na mentalidade do não-sul do país. O sul foi colonizado por imigrantes que vieram para trabalhar, não para explorar ou enriquecer da noite para o dia. Sociólogos e historiadores de plantão, se estou errado, corrijam-me!
Estátua do pescador Deca na Av. Pequeno Príncipe, quase na Praia do Campeche, que se tornou amigo de Saint-Exupéry (Zé Pery como era chamado lá). Mais informações aqui. |
O guia da excursão, ou gravações, o tempo todo dão informações e contam curiosidades. Por exemplo, Campeche seria uma corruptela de campo de peixe (champ de pêche), que é como Saint-Exupéry, que aqui pousava para reabastecer em seus voos pelo correio francês entre Buenos Aires e a França, chamou a área. [Segundo a Wikipedia esta seria uma lenda urbana. Ver aqui.] Tem até uma rua Pequeno Príncipe aqui. Durante o passeio o ônibus toca uma trilha sonora bem variada – seresta, reggae, pagode – de exaltação à “Ilha da Magia”: “mistérios, segredos a me seduzir/ O meu lugar é aqui / Eu te amo Floripa, eterna beleza que me faz sorrir”. A canção faz alusão ao arrastão, ainda em sua acepção original de pesca com rede, nada a ver com o triste “arrastão” carioca.
Com seus quase 500 mil habitantes (mais uma significativa população flutuante), Floripa consegue ser o “Rio dos anos sessenta” como bem observou nosso guia: estilo de vida descontraído e praiano, mas sem a violência que como um câncer corrói nossa cidade maravilhosa.
22/12 Floripa: 2o dia
De manhã deixei Marcinho dormindo, já que ele tinha ido à balada, e saí para percorrer um roteiro do Centro Histórico que obtive na Internet. Mas antes, uma informação óbvia mas que nem sempre nos ocorre: Florianópolis é a cidade de Floriano, o segundo presidente da república. Embora na Revolução Federalista (isto quem contou foi o guia do tour, eu não sabia) tivesse mandado fuzilar os líderes catarinenses rebeldes, a ex-cidade do Desterro veio a homenageá-lo em seu nome. Não vou descrever aqui o roteiro completo com as informações históricas detalhadas – você pode encontrá-los no site do Roteiro Autoguiado do Centro Histórico de Florianópolis clicando aqui. Vou só citar alguns destaques.
sobrados oitocentistas multicores |
mictório público em elegante art déco |
bonitos azulejos esmaltados |
Sobre a praça XV, com seu belo jardim (Jardim Oliveira Bello, implantado entre 1875 e 1877), já escrevi ontem, Pois foi lá que me sentei para escrever o diário de anteontem. “Em cima” (norte) da praça a Catedral Metropolitana; à direita, entrando na Rua Fernando Machado, sobrados oitocentistas multicores; embaixo um mictório público em elegante art déco e o chamado “Museu do Saneamento”, antiga estação elevatória de esgotos de início do século XX, fechado à visitação (e mesmo que estivesse aberto, de tão exíguo, pouca coisa se veria lá dentro) e em péssimo estado de conservação mas que vale a pena ver pelos bonitos azulejos esmaltados; no centro da praça uma enorme Figueira; no alto da praça o Monumento aos Mortos na Guerra do Paraguai, com balas de canhão na cobertura; à esquerda o palácio Cruz e Souza. (Veja no Google Maps clicando aqui.)
A Catedral |
A Catedral, originalmente de 1753 a 1763 mas reformada em 1922, cuja fachada mescla elementos dos estilos neorromânico e neoclássico, estes últimos acrescidos na reforma, abriga belos vitrais, afrescos, capelas, bela imagem de Santa Catarina no alto do altar-mor e uma talha em dois blocos de madeira, confeccionada na Áustria, representando o Desterro (fuga ao Egito) da Sagrada Família, de grande valor artístico. Enquanto eu conversava com uma monitora, uma senhora se juntou a nós e contou um “causo” interessante que não deve estar registrado em lugar nenhum, e que revelo aqui suponho que em primeira mão. Contou ela que seu bisavô, que colaborava com as obras da igreja, tendo sido encarregado de colocar a talha num nicho no altar-mor, para poder encaixá-la, teve de serrar a orelha do burrico. Mas como depois os fiéis reclamassem de um burro no altar, foi removida de lá, e a orelha serrada recolocada. O fato é que você vê até hoje a marca de onde a orelha foi serrada.
belos vitrais |
bela imagem de Santa Catarina |
Infelizmente a obra sofreu de vandalismo, a ponto de um dedo de São José ter sido decepado, obrigando a que a protegessem atrás de espesso vidro, prejudicando sua visão. Também obras de Michelangelo sofreram ataques de tresloucados.
Sou como um Réu de celestial sentença,
Condenado do Amor, que se recorda
Do Amor e sempre no Silêncio borda
De estrelas todo o céu em que erra e pensa.
Cruz e Souza, Inefável
Palácio Cruz e Sousa |
O Palácio Cruz e Sousa, também conhecido como Palácio Rosado devido à cor, típica de algumas construções clássicas de Florianópolis, abriga o Museu Histórico de Santa Catarina (ingresso: R$ 5; meia R$ 2). Não entrei – não dá para visitar tudo. Originalmente um sobrado colonial, usado no passado como residência dos governadores, sofreu reformas que lhe deram o aspecto atual num estilo Beaux Arts rebuscado. No quiosque no Largo da Alfândega saboreei um megapastel com “mil” camarões a R$ 10 regado a caldo de cana que aqui vem misturado com suco de limão: meu almoço.
caldo de cana |
Depois fui pegar o Marcinho no hotel para nossa praia da tarde. De Uber sairia caro, de modo que propus fazermos o que gosto de fazer em toda cidade que visito: usarmos o transporte público e nos misturarmos à população. Fomos até o terminal de ônibus, ao lado da Praça XV, e lá indagamos ao despachante como chegar nas praias. Você tem os ônibus executivos (frescões) que vão direto às praias (R$ 8,50). Os ônibus comuns seguem um sistema inteligente. Em vez de em cada bairro praiano uma linha ligá-lo ao Centro, as linhas convergem em um terminal de integração onde você muda de veículo (sem pagar nova passagem) que o levará ao terminal central.
Praia da Joaquina: faixa de areia limpinha |
Pegamos um ônibus executivo meio que aleatoriamente e uma mulher ficou de nos avisar onde deveríamos saltar para então caminhamos até a Praia da Joaquina, que nos havia agradado ontem. No percurso a pé vimos as dunas onde você pode praticar o sandboarding. A praia tem uns hotéis três estrelas, uma pedra tipo Arpoador, embora bem menor (Ponta da Pedra) e uma boa faixa de areia limpinha (o pessoal joga o lixo nos coletores) percorrida por uns vendedores que te vendem uma cerveja geladinha por R$ 5 e ainda batem um papo gostoso com você, se você puxar. Um vendedor contou que aqui, ao contrário do que parece, tem lugares perigosos também, mas como o tráfico é todo dominado por uma só facção, não tem essas guerras tipo Rio ou Sampa.
No fim do dia tencionávamos, cheios de fome, comer a sequência de camarões no Mercado Público, mas, sendo sexta-feira, estava lotado, com barulho de um show ainda por cima, e como aqui no Centro fora do Mercado não tem quase restaurante contentamo-nos com uns pastéis à moda catarinense (massudos) e deixamos a sequência, prato típico local, para o dia seguinte.
23/12 Floripa: 3 o dia
O Hotel Ibis, além de estrategicamente situado bem no centro da cidade, perto da Beira-Mar e a 20 minutos a pé do centro (Praça XV, Mercado Público, etc), tem uma excelente relação custo-benefício. Único senão (que comuniquei ao hotel) é um elevador que você tem que colocar a “chave” (um cartão) numa ranhura para poder selecionar o andar, mas o pessoal da recepção não explica. Aí você entra no elevador, ele fecha a porta, e se você não bota o cartão no lugar porque não sabe (tem um aviso, mas digamos que você é distraído), ou põe na posição errada, o elevador não anda nem abre a porta: terror dos claustrofóbicos! (Espero que corrijam isto porque o hotel é muito bom.)
casa moderna na Rua Rafael Bandeira, 41 |
Ontem tentei visitar o Museu na casa natal do pintor Victor Meirelles – aquele dos quadros históricos que estão nos livros de história da escola, mas que morreu no esquecimento e pobreza por causa da perseguição ideológica dos “golpistas” republicanos – mas está em restauração, e o acervo está temporariamente abrigado numa casa moderna na Rua Rafael Bandeira, 41, quase esquina com a Victor Konder, pertinho do Shopping Beiramar.
Beira Mar |
Percorri um trecho da Beira Mar (que na verdade se chama Av. Jorn. Rubens de Arruda Rakos) do lado do calçadão e ciclovia. A praia é de pedras, em alguns trechos existe uma estreita faixa de areia, mas o pessoal prefere tomar banho nas praias mais distantes.
Na Via Expressa os carros trafegam de faróis acesos, é obrigatório. No Shopping Beiramar procurei um supermercado e comprei duas bananas a 25 centavos para perfazer minha ração diária. Por ser sábado, apenas duas salinhas de exposição estavam abertas, com alguns estudos e esboços do Victor, algumas obras de outros pintores do século XIX e uma sala daquele tipo de arte contemporânea abstrata e antiestética que não me emociona. Retornei ao hotel percorrendo, orientado pelo meu GPS dos velhos tempos (mapa), umas ruas de uma área de classe média alta que era a cara de Sampa, com prédios residenciais de construção recente (alguns belamente ornados com painéis de mosaicos como mostram as fotos acima) e um ou outro elegante casarão preservado com uso comercial, e onde você pode andar horas sem achar nenhum boteco onde aplicar sua sede.
uma área de classe média alta que era a cara de Sampa |
Quase chegando no hotel, achei um providencial Subway onde entrei com a intenção de beber um suco, mas acabei me deleitando também com um sanduíche vegetariano: nada como tomate, cebola, pepino, azeitona, rúcula para alegrar, não digo o seu espírito, mas seu organismo, aquela máquina invisível graças à qual você funciona.
sanduíche vegetariano |
Passamos a tarde, Marcinho e eu, na aprazível Lagoa da Conceição, que na verdade é uma laguna, de água salgada, com ligação com o mar. No final da tarde, a esperada sequência de camarões, que na verdade é uma sequência de frutos do mar: lulas, peixe, camarões, casquinha de siri, com molho tártaro e, de acompanhamento, arroz, fritas e pirão. Tudo bem fresco, frito num óleo limpo, sem deixar gosto.
Você pode escolher entre uma série de restaurantes. O considerado melhor e mais bem servido (com criação própria de camarões) é o Boka’s, mas fomos num mais barato, o Primícias do Mar. Gostamos. Quando adentramos o restaurante caiu uma tempestade daquelas de derrubar barraco de favela no Rio.
aprazível Lagoa da Conceição |
Você pode escolher entre uma série de restaurantes. O considerado melhor e mais bem servido (com criação própria de camarões) é o Boka’s, mas fomos num mais barato, o Primícias do Mar. Gostamos. Quando adentramos o restaurante caiu uma tempestade daquelas de derrubar barraco de favela no Rio.
Primícias do Mar |
Dia 24/12 Florianópolis-Rio
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