CRÔNICA DE IVO KORYTOWSKI ESCRITA EM MARÇO DE 2001. FOTOS TIRADAS NAS PRAIAS DO LEME E COPACABANA EM 17/2/2017, VÉSPERA DO FIM DO HORÁRIO DE VERÃO DE 2016-17
Fim do horário de verão, que nos proporcionou uma hora extra de sol todos os finais de tarde. À meia-noite, os relógios devem ser atrasados para onze horas. Claro que não somos soldados prussianos que fazem tudo exatinho: deixamos pra atrasar o relógio com calma no decorrer do domingo.
Santo domingo, curtimos aquela dádiva que nos caiu do céu, aquela hora adicional (na verdade, não é dádiva, mas a devolução da hora surrupiada no início do horário de verão, mas disso a gente já esqueceu). E podemos acordar com calma e até ficar espreguiçando um tempão na cama, porque hoje temos uma hora a mais. E podemos ir à padaria como se estivéssemos indo passear, e escolher com calma dentre tantos apetitosos brioches e pãezinhos e docinhos — sem falar no queijo e presunto, ali na padaria sempre mais gostosos e cortados em fatias fininhas — porque temos uma hora a mais. E podemos passar pelo jornaleiro e ler todas as manchetes de todos os jornais pendurados do lado de fora, e comprar o jornal dominical de costume pra começar a ler no café e levar, depois, pra praia.
E podemos curtir a praia pachorrentamente, e tirar aquela soneca depois do almoço, e ouvir aquele CD de jam session que há meses a gente não tem tempo de ouvir. Arte puxa arte, e logo logo a gente tá ouvindo aquele CD dos concertos de Mozart ganho de brinde na assinatura de não sei qual revista, que quedava abandonado meses a fio a um canto. Até esquecemos de ver o Fantástico! No fim do dia, nos devaneios (ou quiçá na oração) antes de dormir, apercebemo-nos de que tivemos um domingo glorioso, repleto de pequenos deleites, como deveriam ser todos os domingos de nossa vida. Porque tivemos uma hora a mais.