FUNERAL BLUES ou STOP ALL THE CLOCKS de W. H. AUDEN


FUNERAL BLUES ou STOP ALL THE CLOCKS
W.H. Auden

Stop all the clocks, cut off the telephone,
Prevent the dog from barking with a juicy bone,
Silence the pianos and with muffled drum
Bring out the coffin, let the mourners come.

Let aeroplanes circle moaning overhead
Scribbling on the sky the message He Is Dead,
Put crepe bows round the white necks of the public doves,
Let the traffic policemen wear black cotton gloves.

He was my North, my South, my East and West,
My working week and my Sunday rest,
My noon, my midnight, my talk, my song;
I thought that love would last for ever: I was wrong.

The stars are not wanted now; put out every one,
Pack up the moon and dismantle the sun,
Pour away the ocean and sweep up the wood;
For nothing now can ever come to any good.


DOBRE DE FINADOS

W.H. Auden
Tradução: Ivo Korytowski
(Poema declamado na cena do enterro do filme Quatro casamentos e um funeral)

Relógios, parar! Telefone, desligar!
Um osso suculento pro cão não ladrar.
Pianos, silêncio! Com dobres de finados
Tragam o caixão, venham os enlutados.

Aviões circulem chorosos pelo céu
Escrevendo uma mensagem: ele morreu.
Os pombos da rua laços de crepe ostentarão
Os guardas de trânsito, luvas pretas de algodão.

Ele era meu sul, norte, oriente, ocidente
Domingo de lazer, meus dias de batente
Meio-dia, meia-noite, papo, canção
Pensei que o amor fosse eterno: triste ilusão!

Sejam expulsos os astros, já não fazem sentido,
A lua empacotada, o sol destruído!
Os oceanos, secados, a mata, ceifada,
Já que tudo isso não serve mais para nada!

THE LAUGHING THRUSH/O TORDO-RISONHO, de W. S. Merwin

The Laughing Thrush, by W. S. Merwin

O nameless joy of the morning
tumbling upward note by note out of the night
and the hush of the dark valley
and out of whatever has not been there

song unquestioning and unbounded
yes this is the place and the one time
in the whole of before and after
with all of memory waking into it

and the lost visages that hover
around the edge of sleep
constant and clear
and the words that lately have fallen silent
to surface among the phrases of some future
if there is a future

here is where they all sing the first daylight
whether or not there is anyone listening



O Tordo-Risonho, tradução de Ivo Korytowski para o recém-lançado A anatomia da influência de Harold Bloom

Ó indizível alegria matinal
subindo aos pinotes nota por nota saída da noite
e do silêncio do vale escuro
e saída do que quer que não estava lá

canção incondicional e ilimitada
sim este é o lugar e o momento certo
em todo o antes e depois
com toda a memória acordando para ele

e os semblantes perdidos que pairam
em torno da margem do sono
constantes e claros
e as palavras que ultimamente silenciaram
para assomar entre as frases de algum futuro
se houver futuro

aqui é onde todos cantam a primeira alvorada
quer haja ou não alguém escutando

O CORAÇÃO, de Hermann Neumann


DAS HERZ
Hermann Neumann (poeta romântico alemão, 1808-1875)

Zwei Kammern hat das Herz
      Drin wohnen
Die Freude und der Schmerz.

Wacht Freude in der einen
      So schlummert
Der Schmerz still in der seinen.

Oh Freude, habe Acht
      Sprich leise
Dass nicht der Schmerz erwacht!

O CORAÇÃO
Tradução de Machado de Assis

Há duas alcovas, duas
      No coração
Que da Dor e da Alegria
      Moradas são.

Enquanto a Alegria vela,
      Sem descansar,
Dorme a Dor seu leve sono
      Sem acordar.

Modera a voz, Alegria!
      Menos rumor!
Podes acordar do sono
      Vizinha Dor!

O CORAÇÃO
Tradução de Ivo Korytowski

Dois ventrículos sedia
nosso coração:
O da dor e o da alegria.

Num deles, cheia de vida,
a alegria.
No outro, a dor, adormecida.

Cuidado, fala baixinho,
amiga alegria,
senão acordas o vizinho!

THE HEART
Tradução de T.W.H. Robinson

Two chambers hath the heart:
There dwelling,
live Pain and Joy apart.

Is Joy awake?
Then only
Does Pain her slumber take.

Joy, in thine hour refrain!
Tread softly,
Lest thou awaken Pain.

Três Quadras do RUBAIYAT de Omar Khayyam

Tradução de Ivo Korytowski


O Rubaiyat é uma coletânea da poesia do poeta persa do século XII Omar Khayyam compilada e traduzida para o inglês por Edward Fitzgerald e publicada em 1859. Trabalhando com dois manuscritos, um do século XV e outro de origem relativamente moderna, Fitzgerald, mais poeta do que erudito, “destilou”e fundiu cerca de 600 quadras, ou rubaiyat. (Merriam Webster’s Encyclopedia of Literature)

Segundo Fitzgerald, Omar Khayyam foi educado junto com dois amigos igualmente brilhantes: Nizam al Mulk e Hasan al Sabbah. Um dia, Hasan propôs que, como pelo menos um dos três alcançaria a riqueza e o poder, eles deveriam jurar que “quem quer que seja bafejado por essa sorte deverá compartilhá-la eqüitativamente com os outros, abrindo mão da proeminência”. Todos fizeram o juramento e, no devido tempo, Nizam tornou-se vizir do sultão. Seus dois amigos procuraram-no e reivindicaram seu quinhão, que ele concedeu como prometido.

Hasan solicitou e obteve um posto no governo; porém, insatisfeito com seu avanço, abandonou-o para se tornar o líder de uma seita de fanáticos que espalharam o terror pelo mundo muçulmano. Muitos anos depois, Hasan acabaria assassinando seu velho amigo Nizam.

Omar Khayyam
não pediu título nem cargo público. “A maior dádiva que podeis me conceder”, disse a Nizam, “é deixar-me viver a um canto sob a sombra de vossa fortuna para propagar as vantagens da ciência e orar por vossa longa vida e prosperidade.” Embora o sultão adorasse Omar Khayyam e o cumulasse de favores, “a audácia epicurista de pensamento e linguagem de Omar fez com que fosse visto com desconfiança em sua época e em seu país”. (do capítulo 2 de Peter L. Bernstein, Desafio aos Deuses, Editora Campus, tradução portuguesa de Ivo Korytowski)


Ah, make the most of what we yet may spend,
Before we too into the Dust descend;
Dust into dust, and under Dust to lie,
Sans Wine, sans Song, sans Singer, and — sand end!

Temos que aproveitar o tempo pela frente,
Antes que nosso corpo em pó se fragmente;
Do pó vieste e para o pó retornarás,
Sem vinho, sem canção, sem festa — para sempre!



Whether at Naishápur or Babylon,
Whether the Cup with sweet or bittter run,
The Wine of Live keeps oozing drop by drop,
The Leaves of Life keep falling one by one.

No Rio de Janeiro, Bagdá ou Xangai,
Contenha a taça doce ou amarga bebida,
O vinho da vida gota a gota se esvai,
E, uma a uma, caem as folhas da vida.



Of threats of Hell and Hopes of Paradise!
One thing at least is certain — This Life flies;
One thing is certain and the rest is Lies;
The Flower that once has blown for ever dies.

Entre o medo do inferno e a fé na salvação,
Só uma coisa é certa: a vida é um turbilhão.
Só uma coisa é certa, e o resto é ilusão:
As flores que murcham jamais retornarão.