"Ribeiro Couto é uma mistura dos melhores e dos piores instintos, alma de uma instabilidade que raia pela agitação. Não tem outra paixão senão a curiosidade de viver e de exprimir a vida. Picou-o nos calcanhares o demônio do delírio ambulatório. É um sensual incontentável. É um ambicioso incontentável." (Manuel Bandeira em crônica de 1921, quando Ribeiro Couto tinha 23 anos.)
Cais
Na amurada do cais uma mulher doente,
Como uma ave que desce o vôo, vem pousar.
E fica junto a mim, melancolicamente,
Olhando o mar, olhando o mar, olhando o mar.
Asas além no céu de cinza... O vento é frio.
E a mulher, apoiando o rosto sobre a mão,
Contempla no horizonte o vulto de um navio,
E os velames que vêm... e os que vão...
Chega-se para mim... Estará comovida?
Ela sofre... no estranho olhar dessa mulher
Noto a fulguração de quem sonha na vida
Uma felicidade inédita qualquer.
Chega-se mais... A tarde tem uns tons antigos.
Abraçamo-nos... Anda uma carícia no ar...
E ficamos os dois, como velhos amigos,
Olhando o mar, olhando o mar, olhando o mar.
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