A ONDA, de Susan Casey

TRADUÇÃO DE IVO KORYTOWSKI



TRECHO DA INTRODUÇÃO DO LIVRO:

A história está repleta de testemunhos sobre ondas gigantes, monstros na faixa dos trinta metros ou mais, porém até recentemente os cientistas os descartavam. Eis o problema: de acordo com a física básica das ondas oceânicas, as condições que podem produzir uma onda de trinta metros são tão raras que praticamente nunca acontecem. Qualquer alegação de que alguém tenha visto uma, portanto, não passaria de papo furado de pescador ou mentira pura e simples.

Mesmo assim, era difícil desprezar o relato do herói polar Ernest Shackleton, que estava longe de ser o tipo de pessoa com inclinação para exageros histéricos. Em sua travessia da Antártida à ilha da Geórgia do Sul, em abril de 1816, Shackleton observou movimentos estranhos no céu noturno. “Em seguida, percebi que o que eu vira não havia sido uma brecha nas nuvens, mas a crista branca de uma enorme onda”, escreveu. “Durante meus 26 anos de experiência no oceano em todos os seus estados de ânimo, eu nunca vira uma onda tão gigante. Uma sublevação poderosa do oceano, algo bem diferente das grandes ondas de crista branca que tinham sido nossos incansáveis inimigos por muitos dias.” Quando a onda atingiu seu navio, Shackleton e sua tripulação foram “lançados à frente como uma rolha” e a embarcação ficou alagada. O navio só não soçobrou por pura sorte e porque a tripulação conseguiu rapidamente retirar a água com baldes. “Francamente, torcemos para que nunca mais nos deparássemos com uma onda daquelas.”

Os homens no cargueiro München, de 850 pés, teriam concordado se algum deles tivesse sobrevivido ao encontro com uma onda semelhante em 12 de dezembro de 1978. O München, que todos acreditavam ser impossível de afundar, era o que havia de mais moderno em termos de embarcação, a nau capitânia da marinha mercante alemã. Às 3h25, fragmentos de um pedido de socorro em código Morse com origem 720 quilômetros ao norte de Açores indicavam graves danos causados por uma onda. Mas mesmo depois que 110 navios e 13 aeronaves foram mobilizados — a mais completa operação de busca na história da navegação —, o navio e seus 27 tripulantes nunca mais foram vistos. Restara apenas uma pista assustadora: as equipes encontraram um dos barcos salva-vidas do München, que normalmente ficavam vinte metros acima da linha-d’água, boiando vazio. Os encaixes de metal retorcidos mostravam que o bote tinha sido arrancado. “Algo extraordinário” havia destruído o navio, concluiu o relatório oficial.

O desaparecimento do München aponta para o principal problema em se provar a existência de uma onda gigante: se você depara com esse tipo de pesadelo, é provável que ele seja o último de sua vida. A força das ondas é inegável. Uma onda de meio metro consegue derrubar um muro erguido para suportar ventos de duzentos quilômetros por hora, por exemplo, e alertas costeiros são emitidos até para ondas de um metro e meio de altura, que costumam matar quem for pego desprevenido no lugar errado. O número de pessoas que testemunharam de perto uma onda de trinta metros e conseguiram voltar para casa para descrever a experiência é ínfimo.


"O filme Tubarão deixou você com medo do mar? Este livro cheio de adrenalina desvenda a mais terrível força da natureza. Uma viagem ao mesmo tempo assustadora e inspiradora." People

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