Imensa parte do povo brasileiro vive no mundo do pensamento mágico. Isso não seria de maior gravidade – fenômeno universal que é – se nessa parte não se incluíssem muitos dos que exercem o poder político no país. Recentemente - esse caso é exemplar – colocaram uma adolescente no meio de vários homens, numa prisão do Pará, com as consequências inevitáveis. O que primeiro fez a governadora? Mandou demolir a prisão. Já havia uma imensa carência de prisões naquele Estado, mas essa demolição não é um gesto político, é um ato propiciatório, uma coisa de animismo-fetichismo, como na velha história do corno que destrói o sofá onde foi traído.
Após esse dolorosíssimo episódio na Escola Estadual Tasso da Silveira – tão suave poeta – no Rio de Janeiro, não vi ninguém falar da única reação racional nesse caso: clamar por um maior acesso de todas as classes ao tratamento psiquiátrico, a única ação que talvez pudesse ter evitado a tragédia. O que se viu – e depois dizem que os portugueses são burros – foram decrépitos cleptocratas de Brasília tentarem refazer o caríssimo “referendo” do desarmamento, pouco mais de cinco anos após ele ter sido feito. O resultado desse referendo foi o último momento de dignidade do povo brasileiro contra a força da maior canalha política nacional e os mais desvairados dos meios de comunicação. Como este povo, incrivelmente ignorante e manipulável, conseguiu essa proeza? É que mexeram com um dos mais arraigados atavismos da espécie humana, a defesa contra as forças hostis. São dezenas de milhares de anos de luta contra feras e grupos inimigos que persevera em nosso mais profundo inconsciente. O famoso desarmamento faz parte daquelas medidas que só podem ter alguma efetividade num caso de adoção universal – como, por exemplo, a vacina contra a extinta varíola – o que é escancaradamente impossível com tudo que se refere ao comportamento humano. Curioso é que nenhum político pede um referendo sobre a famigerada progressão de pena, sobre o regime aberto, ou sobre os vários indultos, de Páscoa, de Natal, de Dia das Mães, onde são libertados homicidas contumazes para que eles visitem o Coelho da Páscoa, o Papai Noel ou a mãezinha deles, que comumente já morreu ou nunca se soube quem era, com os resultados evidentes...
O mais revoltante é que os propugnadores dessa palhaçada omitem que um terço do território nacional é coberto pela selva. É como se este país - quarto território contínuo do mundo – fosse Rio e São Paulo. É como se uma porção – do maior valor geopolítico – do povo brasileiro não vivesse entre cobras, jacarés e onças, e não dependesse da caça para a sua complementação alimentar. Mas o pior não é isso. Proibir-se as armas representará a mesma coisa que proibir a maconha ou a cocaína, ou seja, ninguém no Brasil fuma maconha ou cheira pó, já que eles são proibidos! Quantas vidas foram salvas neste país, e isso não entra nas estatísticas dos palermas da sublime ONG Viva Rio, quando um homem, ao ver a sua casa ser forçada, dá um ou dois tiros, espantando os meliantes? Alguém já olhou com atenção as fotos da destruição de armas na primeira campanha? Majoritariamente lá estão centenas de espingarda tico-tico, armas de espoleta ou até de pederneira, armas de matar calango ou caçar passarinho, de periculosidade zero, destruídas por um rolo compressor! Sem falar das armas de imenso valor histórico, pares de revólveres de duelo do século XVIII – no valor de milhares de dólares – entregues por uma bagatela, por viúvas idiotas de colecionadores, a ONGs inescrupulosas, ou, como aconteceu no Acre, Wincheters 44, da Revolução Acreana de 1902, salvas no último momento de uma destruição estúpida.
Se essa infelicíssima alma, Wellington Menezes de Oliveira, procurasse outras opções para realizar um massacre, elas não faltariam. Um homem hábil, armado com uma katana, poderia ter feito mais vítimas, pela rapidez do raio de ação e pelo silêncio da própria, já que, provavelmente, os estampidos dos revólveres devem ter chamado muito mais a atenção do que os gritos das crianças e adolescentes, tão comuns numa escola. Para ser mais sintético, ele poderia ter feito uma bomba. Dizem que a Internet está cheia de receitas de bombas. Nunca as li, mas imaginei esta, há muitos anos, pensando em parte dos políticos brasileiros nos meus momentos de ócio criativo:
Compra-se uma lata de queijo bola, aquele comumente fabricado em Palmira, Minas Gerais. Nela se faz um orifício do tamanho de um dedo. Em seguida, deita-se a lata numa panela com água fervendo, até todo o queijo derreter e escorrer pelo orifício. Uma vez seca e limpa a lata, começa-se a recheá-la com pólvora – coisa que se encontra em qualquer lugar – misturada a pregos retorcidos, mais ou menos 2/3 de pólvora para 1/3 de pregos retorcidos. Quando o conteúdo estiver perfeitamente compacto, pilado com muita força, fura-se uma rolha pelo meio, e nela se introduz um barbante grosso. Após cravá-la com pressão máxima no orifício, leva-se ao lugar esperado, e, imediatamente antes da ação, rega-se o barbante a rolha com álcool de cozinha. Em seguida, é só acender e deixar o artefato – caso se queira sobreviver – no local desejado, ou segurá-lo nas mãos, caso o objetivo seja ir para o além junto com os outros. Esta receita, perfeitamente brasileira, mas que não sei se funciona, foi inventada por um cidadão grado e prestante, com 47 anos, que nunca em sua vida urinou fora da bacia.
Clamo e exijo, portanto, como cidadão brasileiro, um referendo pela proibição do queijo bola!
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