|
Monteiro Lobato |
Sexta-feira, 12 de janeiro de 2018
Você sabia que Taubaté é a Capital Nacional da Literatura Infantil? Pois é, lá nasceu e cresceu o genial escritor Monteiro Lobato, cuja imaginação embalou o final de minha infância e a pré-adolescência (e a infância de meu filho também, já que eu lia as histórias de Lobato em voz alta para ele na hora de dormir). Eu tenho uma tese de que, se Lobato tivesse escrito numa língua mais universal, tipo inglês, francês, alemão, seu Sítio do Picapau Amarelo teria no mínimo virado filme da Disney e seria mundialmente conhecido.
Fomos, Mi e eu, de ônibus. Grave acidente na altura da Serra das Araras, do qual não vimos mais sinal, mas cujos reflexos ainda perduravam, fizeram com que a viagem até Taubaté levasse o tempo que se leva normalmente para ir a São Paulo. Ficamos no Ibis, na Avenida Independência, pertinho do centro. Gosto muito dessa rede de hotéis com qualidade, conforto, boas localizações e excelente custo/benefício. Este de Taubaté custou exatos R$ 236,64, ou seja, R$ 118,32 por noite. Pechincha!
Lanche noturno na Casa da Esfiha, na mesma rua do hotel (Av. Independência, 693), com esfihas abertas de variados sabores (berinjela, peperone, mussarela...) e um quibe que você dificilmente comerá melhor em algum outro lugar deste vasto mundo.
|
"ares de Sampa": R. Dr. Emílio Winther ao entardecer |
Sábado, 13 de janeiro de 2018
Com base no mapinha do Google que preparei previamente marcando as atrações de Taubaté (que você pode ver aqui), fizemos um imenso passeio por essa cidade que tem ares de Sampa (quais seriam esses ares? As poucas pessoas circulando a pé em contraste com os muitos carros, na maioria novos; o tipo de calçada; prédios residenciais modernos brotando qual cogumelos, etc.), mas em escala menor – Sampa é um mar de prédios a perder de vista.
Taubaté parece uma cidade civilizada, com bom nível de vida: relativamente limpa para padrões brasileiros, praças bem cuidadas, população motorizada, alguns ótimos restaurantes e confeitarias (de fato, entre os 5565 municípios brasileiros, ocupa o 40o em IDH – Índice de Desenvolvimento Humano – ver aqui). E quando você desembarca na Rodoviária não é assediado por uma máfia de taxistas piratas. Pelo contrário pegamos um ótimo taxista que nos deixou seu cartão e nos prestou ótimos serviços em nossa estadia (Murilo Ribeiro: 98123-1781).
O Sítio do Picapau Amarelo, também conhecido como Museu Histórico, Folclórico e Pedagógico Monteiro Lobato, do lado de lá da via férrea, proporcionou uma viagem sentimental ao mundo lobatiano que habitei durante longas horas de leitura em uma época (anos 1950) em que a programação infantil da TV ainda era incipiente. Situa-se numa chácara que teria sido do avô do Monteiro e abriga, na casa da chácara, uma biblioteca e um pequeno museu com objetos ligados à vida e literatura de Lobato. Atividades culturais para a criançada também têm lugar ali. No vasto quintal com frondosas mangueiras você depara com as estátuas de pedra em tamanho natural dos personagens do sítio.
|
Visconde de Sabugosa |
|
Marquês de Rabicó |
|
A "boneca" Emília |
|
Tia Nastácia |
|
Pedrinho |
|
Dona Benta |
O Vale do Paraíba fez parte da rota das tropas de burro que desciam a Mantiqueira, vindas das Minas Gerais, rumo ao litoral, onde embarcavam o ouro trazido, com destino à capital. Um século depois abrigou ricas fazendas de café. Assim você ainda vê em suas cidades algumas relíquias históricas, geralmente igrejas, mas dificilmente com seu aspecto barroco paulista original, já que foram posteriormente reformadas, supostamente para embelezá-las mais, mas as descaracterizando. Em Taubaté visitamos estas igrejas: Igreja de Santa Teresinha, neogótica; igreja do Rosário, interditada devido a risco de desabamento do telhado, rachaduras e infiltrações, mas de todas a que mais preserva o aspecto original do estilo colonial paulista; Igreja Matriz, atual Catedral, que começou a ser construída por volta de 1640, portanto o templo mais antigo do Vale do Paraíba, mas que sofreu uma reforma que lhe deu feições neocoloniais em 1940; Igreja do Convento de Santa Clara (que vimos ao cair da noite), fundado em 1673 por frades franciscanos, destruído por um incêndio em 1843, reformado e ocupado em 1891 pelos frades capuchinhos.
|
Igreja neogótica de Santa Teresinha inaugurada em 1929 pouco depois da canonização de Santa Teresa de Lisieux, conhecida como Santa Teresinha do Menino Jesus. Mais informações aqui. |
|
Interior da igreja de Santa Teresinha |
|
Igreja do Rosário (1700-5) ao anoitecer. Atualmente interditada. Apesar da reforma de 1861-88, é a que mais preserva o aspecto original do estilo colonial paulista. Mais informações aqui. |
|
A Catedral antes da reforma que lhe deu feições neocoloniais |
|
Catedral |
|
Igreja do convento de Santa Clara. O convento foi fundado em 1673 por frades franciscanos. Destruído por um incêndio em 1843, foi reformado e ocupado em 1891 pelos frades capuchinhos. |
Do outro lado da Dutra fica a estátua do Cristo, uma réplica daquela do Corcovado. Quando eu era criança e viajava com meus pais de carro para São Paulo, dava para ver a estátua perfeitamente da Dutra, e quando meu pai a mostrava, eu, na minha ingenuidade infantil, achava que se tratava da mesma que vemos aqui no Rio no alto do Corcovado. Atualmente da Dutra já não se vê mais a estátua com tanta facilidade, mas eu teria que um dia voltar a Taubaté para ver a estátua dos meus tempos de criança que ficou tão indelevelmente gravada na minha memória.
|
Taubaté vista do outeiro onde se ergue o Cristo |
|
Cristo de Taubaté, inaugurado em 1956, réplica do carioca |
À noite fomos à pizzaria onde se reúne aparentemente a nata da sociedade taubateana: Fornarina Pizza (Praça Monsenhor Silva Barros, 11 - Centro - aberta das 18:30 à meia-noite). Pizza tamanho único (não é barata e dá perfeitamente para três; no caso de um casal, se sobrar, eles põem numa quentinha e você leva), forno de lenha, opção de massa fina ou tradicional, tamanha variedade de sabores que você se perde no cardápio e acaba pedindo à garçonete que lhe dê uma sugestão, ingredientes frescos, orégano italiano, chope claro ou escuro. A “verdadeira pizza italiana de bordas grossas e recheios exuberantes”.
|
Teatro Metrópole. Rua Duque de Caxias, 312. Construído em 1919 e inaugurado em 21 de junho de 1921 como Cine-Teatro Polytheama. Depois virou o Cine Metrópole. Adquirido pelo Município em 1999, em 2000 passou a se chamar Teatro Metrópole. Estilo eclético com elementos art nouveau. Mais informações aqui. |
|
Casa tombada, de 1854, mandada construir por um rico fazendeiro de café, na Av. Visc. do Rio Branco, 516. Atualmente funciona lá o Bar e Balada Quarto do Santo. Mais informações aqui. |
|
Edifício Brasil, puro art déco, 1940, perto do Mercado Municipal |
|
Villa S. Aleixo, elegante casarão de 1872 aguardando um possível restauro, na R. Dr. Emílio Winther, perto da Praça Santa Teresinha. Mais informações aqui. |
|
Casarão neocolonial na Praça Monsenhor Silva Barros ao anoitecer |
Domingo, 14 de janeiro de 2018
Impressionado com a Basílica de São Pedro, tive a “certeza” de que devia ser a maior igreja do mundo, e quando fui à Wikipedia confirmar, constatei que de fato é a maior tanto em área ocupada como em volume (ver aqui e aqui), mas o que me surpreendeu é que, não muito atrás, no honroso segundo lugar, estava o nosso Santuário de Aparecida. Precisava ir lá conferir. E fui.
|
Igreja de São Benedito: fachada |
|
Igreja de São Benedito: interior |
Você salta na rodoviária oval e já na praça em frente depara com a Igreja de São Benedito de 1918, de fachada graciosa, interior despojado, e em ótimo estado de conservação. Aí você sobe a Rua Monte Carmelo, repleta de hoteizinhos baratos, com uns chatos na porta insistindo em oferecer quartos – “Precisa de hotel?” – e um comércio popular multicolorido tipo Saara ou 25 de Março. Você chega em uma praça onde está a Matriz Basílica de Nossa Senhora Aparecida, popularmente conhecida como Basílica Velha, de 1745, estilo barroco, com uma fila para ver a réplica da imagem da padroeira – a original foi transferida para o Santuário novo.
|
Basílica Velha |
|
Basílica Velha: interior |
|
Basílica Velha: teto |
|
Basílica Velha: azulejo hidráulico |
|
Basílica Velha: detalhe de uma pintura do teto |
Lá você pega a Passarela da Fé que o conduz até o imponente, impressionante, magnífico Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida. Alguns romeiros cumprem promessas percorrendo a passarela de joelhos (mas com joelheiras que ninguém é de ferro). A graça alcançada deve ter sido enorme.
|
imponente... |
|
... impressionante, magnífico |
O Santuário é um colossal projeto do arquiteto Benedito Calixto Neto. Tem a forma de cruz grega, com imensa cúpula no meio com uma cruz pendente, sob a qual, no púlpito elevado, celebram-se missas quase o dia inteiro. Nos dois braços da cruz estendem-se duas naves centrais ladeadas por naves laterais. O revestimento externo é de uns tijolinhos que evocam aqueles que você encontra nas construções romanas clássicas como o Coliseu.
|
Cúpula e cruz pendente sobre o púlpito |
|
Tijolinhos em Aparecida |
|
Tijolinhos no Coliseu romano |
|
Nave central |
|
Fiéis na missa |
Conquanto uma igreja “novinha em folha”, sua morfologia é arcaizante, pré-gótica, mescla de romano com românico. Claro que, na falta dos Berninis e Michelangelos da velha Itália, soluções originais tiveram de ser adotadas para dar ao interior uma monumentalidade e esplendor de templo renascentista, sem sê-lo. A solução genial foi – diferente da talha barroca ou do mármore renascentista – o revestimento com azulejos e pastilhas belamente pintados. De moderno só os vitrais e rosáceas abstratos, com predominância do azul dando ao interior da basílica uma luminosidade especial.
|
Mescla de romano com românico: ruínas da Basílica de Maxêncio no Foro Romano |
|
Mescla de romano com românico: Santuário de Aparecida |
|
Chão de mármore |
|
Azulejos pintados |
|
Azulejos |
|
Azulejos |
|
Imagem da Padroeira |
|
Luminosidade especial |
Tudo na Basílica é muito limpo e organizado, padrão Vaticano. Na Casa do Pão no subsolo, projeto social que ensina a menores aprendizes o ofício de padeiro, você pode fazer um lanchinho gostoso, a preços cristãos. Na Sala dos Milagres você verá milhares de objetos e fotografias (coladas no teto) deixados por fiéis que viram seus pedidos atendidos pela Mãe de Deus & Rainha do Brasil.
|
Sala dos Milagres: fotografias no teto |
|
Sala dos Milagres: carrinhos |
|
Sala dos Milagres: chapéus |
|
Sala dos Milagres: Menino Jesus |
|
Sala das velas |
Do alto da torre (R$ 8) descortina-se uma vista nas quatro direções (norte, sul, leste, oeste) de toda a região de Aparecida. Dá para ver a Mantiqueira, o Rio Paraíba, a Dutra, tudo, e depois você visita o museu nos andares inferiores com belas peças de Arte Sacra e muito mais (não é permitido fotografar). Na frente da Basílica você tem uma réplica da famosa colunata em semicírculo de Bernini da Praça de São Pedro e nos fundos o campanário com treze sinos de Oscar Niemeyer.
|
Vista da torre |
|
Cúpula vista da torre |
|
Campanário |
|
Colunata |
Na volta, um contratempo: o ônibus que nos traria de volta ao Rio chegou na Rodoviária com mais de uma hora de atraso.
|
Contrastes arquitetônicos em Aparecida |