Ceia
Cyro de Mattos
Traga o Natal
Frutos verdes.
De paz e amor
Ponha na mesa.
Afaste a sede
Triste dos dias.
Na luz da estrela
Ilumine a noite
Do medo no escuro
E na manhã brilhe.
Presépio
Cyro de Mattos
Do céu dos céus
Uma estrela
Que anuncia
Só amores
Para iluminar
As pobrezas
Dessa terra.
Na manjedoura
Ondas embalam
O menino no berço
Feito de palha.
É Natal! É Natal!
Os bichos propagam.
Cantam os anjos,
Tocam os pastores
Suas doces flautas.
Os reis magos
Estão sorrindo
De pura alegria.
O Pinheiro Cyro de Mattos
Antes triste, no canto,
Só que de repente
Como por encanto
Aparece iluminado
Com estrelinhas do céu,
Não mais que de repente
Todo aceso de Deus.
Manjedoura
O que mais encanta
É nascer o menino
Na poeira desse chão
Onde os bichos andam
E até hoje esse menino
Com sua luz suave
Semear grãos azuis
De amor e de paz
Na manjedoura dos ares.
Poema de Natal
Antônio Ribas
O Natal é um instante especial ocupando espaço e tempo (a insônia da eternidade) de nossas vidas.
É um dia para:
procurar a estrela da manhã porque pode não haver o amanhã;
olhar a nuvem passageira como se ela fosse a única e primeira;
encordoar o violino e, de repente, escutar o som do destino;
observar as formigas e esquecer das intrigas;
esquecer o matraquear do relógio com seu trágico presságio;
argumentar com a lacraia que a vida é um arabesco maia;
lembrar que a vida não basta ser vivida é preciso ser sonhada, inventada
escutar o discurso dos sapos e grilos (bem melhor que o dos políticos);
molhar o rosto na chuva e escutar a sinfonia dos pingos nas vidraças;
guardar as galochas e guarda-chuvas; consolar viúvas;
desarmar as ratoeiras e não fazer besteiras;
tocar na folha caída no chão, que encontrou a morte de supetão;
percorrer o cotovelo do corredor e lembrar de velhos amores e seu sabor;
visitar parentes, nos antigos retratos, há muito ausentes;
dar banho nos cachorros sem ligar para seus inconsoláveis choros;
visitar nossa memória ancestral, inconsciente, mas sempre presente;
ouvir o murmúrio das salamandras e descansar nas varandas.
É uma noite para:
ouvir o silêncio e a solidão pois nos ensinam a antiga e principal lição;
conversar com Poetas mortos, tanto os retos como os tortos;
esquecer as medidas e capacidades, necessárias como inverdades;
saber da indevorável sutileza de nossa alegre e imensa tristeza;
saudar os cachorros vira-latas (últimos boêmios) com palavras exatas;
ter saudades, esquecer brigas e lembrar das pessoas amigas;
consultar o astrolábio; rever mapas antigos e consultar o sábio;
conversar com as estrelas, mesmo sem vê-las ou entendê-las;
acompanhar o percurso da barata voadora fugindo da vassoura;
andar descalço pala madrugada como feliz alma penada;
pedir licença e dizer obrigado e ao falar ter muito cuidado;
escutar as dores e lamentos do vento a vagar pelos corredores;
colocar tristezas em baixo dos tapetes e das mesas;
apiedar-se dos arrogantes, que parecem gordos sapos saltitantes;
abrir as portas e janelas da sensibilidade, mas com sinceridade;
abrir a gaiola dos passarinhos e beber muitos vinhos;
lembrar que sem poesia,nada tem valia; que sem ela a vida é vazia.
Nesta época é fundamental, absolutamente fundamental, sorrir e lembrar que os sorrisos mais sinceros são os dos desdentados.
Poema de Natal
Vinicius de Moraes
Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos —
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.
Assim será nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos —
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.
Não há muito o que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez de amor
Uma prece por quem se vai —
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.
Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte —
De repente nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.
Manuel Bandeira
No pátio a noite é sem silêncio.
E que é a noite sem o silêncio?
A noite é sem silêncio e no entanto onde os sinos
Do meu Natal sem sinos?
Ah meninos sinos
De quando eu menino!
Sinos da Boa Vista e de Santo Antônio.
Sinos do Poço, do Monteiro e da Igrejinha de Boa Viagem.
Outros sinos
Sinos
Quantos sinos!
No noturno pátio
Sem silêncio, ó sinos
De quando eu menino.
Bimbalhai meninos,
Pelos sinos (sinos
Que não ouço), os sinos de
Santa Luzia.
Natal
Olavo Bilac
Jesus nasceu. Na abóbada infinita
Soam cânticos vivos de alegria;
E toda a vida universal palpita
Dentro daquela pobre estrebaria...
Não houve sedas, nem cetins, nem rendas
No berço humilde em que nasceu Jesus...
Mas os pobres trouxeram oferendas
Para quem tinha de morrer na cruz.
Sobre a palha, risonho, e iluminado
Pelo luar dos olhos de Maria,
Vede o Menino-Deus, que está cercado
Dos animais da pobre estrebaria.
Não nasceu entre pompas reluzentes;
Na humildade e na paz deste lugar,
Assim que abriu os olhos inocentes
Foi para os pobres seu primeiro olhar.
No entanto, os reis da terra, pecadores,
Seguindo a estrela que ao presepe os guia,
Vem cobrir de perfumes e de flores
O chão daquela pobre estrebaria.
Sobem hinos de amor ao céu profundo;
Homens, Jesus nasceu! Natal! Natal!
Sobre esta palha está quem salva o mundo,
Quem ama os fracos, quem perdoa o mal,
Natal! Natal! Em toda a natureza
Há sorrisos e cantos, neste dia...
Salve Deus da humildade e da pobreza
Nascido numa pobre estrebaria.
Natal
Afonso Duarte
Turvou-se de penumbra o dia cedo;
Nem o sol espertou no meu beiral!
Que longas horas de Jesus! Natal…
E o cepo a arder nas cinzas do brasedo…
E o lar da casa, os corações aos dobres,
É um painel a fogo em seu costume!
Que lindos versos bíblicos, ao lume,
P’lo doce Príncipe cristão dos pobres!
Fulvas figuras para esculpir em barro:
À luz da lenha, em rubro tom bizarro,
Sou em presépio com meus pais e irmãos.
E junto às brasas, os meus olhos postos
Nesta evangélica expressão de rostos,
Ergo em graça a Deus as minhas mãos.
Natal... Na província neva.
Fernando Pessoa
Nos lares aconchegados,
Um sentimento conserva
Os sentimentos passados.
Coração oposto ao mundo,
Como a família é verdade!
Meu pensamento é profundo,
Stou só e sonho saudade.
E como é branca de graça
A paisagem que não sei,
Vista de trás da vidraça
Do lar que nunca terei!
Natal
Murilo Mendes
Meu outro eu angustiado desloca o curso dos astros,
atravessa os espaços de fogo e toca a orla do manto divino.
O ser dos seres envia seu Filho para mim, para
os outros que O pedem e para os que O esquecem.
Uma criança dançando segura uma esfera azul com a cruz:
Vêm adorá-la brancos, pretos, portugueses, turcos, alemães,
russos, chineses, banhistas, beatas, cachorros e bandas de música.
A presença da criança transmite aos homens uma paz inefável
que eles comunicam nos seus lares a todos os amigos e parentes.
Anjos morenos sobrevoam o mar, os morros e arranha-céus,
desenrolando, em combinação com a rosa-dos-ventos,
grandes letreiros onde se lê: GLÓRIA A DEUS NAS ALTURAS
E PAZ NA TERRA AOS HOMENS DE BOA VONTADE.
Fotos de Papai Noel, presépios ao ar livre e altar da igrejinha do sítio de Burle Marx em Guaratiba tiradas no Rio de Janeiro pelo editor do blog. Para ver mais fotos do Festival de Presépios de 2011 clique aqui.
Clique no indicador "Textos e poemas natalinos" abaixo para ver outras postagens neste blog de temática natalina, inclusive mais poemas natalinos.