PUBLICADO ORIGINALMENTE NO BLOG DO NOBLAT EM 23/11/2016
Estou no Brasil, vim para o aniversário do meu pai. Era pra ser uma surpresa para ele, mas acabou sendo uma para mim.
A
São Paulo cosmopolita não me impressiona mais. Tive a oportunidade de visitar
muitas outras cidades pelo mundo e ver a estética e a atitude de Shopping
Center que se diz exclusiva, mas que o é apenas no preço. Vejo isso como um
lado pasteurizado da globalização. Mesmo a idéia do ‘cool’ é emprestada de
outros lugares adaptadas de uma forma estranha, como o inglês embromation da
vida real.
Para
quem leu minha primeira carta, tenho andado muito em Londres, seria um
desperdício não fazê-lo por aqui. Queimei com o sol, queimei calorias e acabei
vivenciando uma cidade que, mesmo sem o ar-condicionado, também passa a ser um
lugar sem os engarrafamentos, sem o atraso e sem o aperto; uma São Paulo de
feriados, só que todos os dias.
O
que faz esse lugar tão especial é a confluência de povos, sotaques, sabores e
visões. São Paulo é um lugar que desafia os sentidos. Se São Paulo fosse um
quadro, não seria renascentista, mas expressionista abstrato. O caos gera
texturas que talvez não agradem a todos, mas que são muito interessantes. É o
contraste do concreto de Niemeyer com o verde de Otávio Augusto Teixeira Mendes,
do vidro que reflete o que a cidade quer esconder, do asfalto que derrete e das
seringueiras que parecem vir de outro planeta.
Não
quero romantizar a pobreza que vi, pois reconheço o sofrimento daqueles que a
cidade mastiga e cospe diariamente.
Me
surpreendi com preço de quem paga com estresse as poucas horas de hedonismo nos
bares e restaurantes da cidade. Se São Paulo tem aspirações de metrópole
global, essa realidade já chegou nas contas, com valores que me fazem lembrar
de um lado de Londres que eu não gosto.
Fiquei
impressionado com a quantidade de espaço inutilizado em lugares como a avenida
Sumaré numa cidade onde o metro quadrado está ficando cada vez mais caro. Se é
uma bolha, dever ser uma de concreto.
Vi
e ouvi a São Paulo que está na rua, dos eventos dos finais de semana, dos
ambulantes vendendo na Paulista, do vão do MASP que não é mais vão por estar
cheio o tempo todo. Da praça Roosevelt, com milhares de coisa ao mesmo tempo. É
como assistir a internet ao vivo.
Vi
a arte de graça no CCBB e na Bienal, que não tem nomes pomposos como Tate ou
Hayward Gallery, mas que mostram alguns dos trabalhos que vi nesses lugares.
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