A morte é a morte dos outros. Ninguém pode ter a representação psíquica de sua própria morte. Todas as vezes que nos imaginamos mortos estamos vivos, somos um defunto que ouve e vê, conta as pessoas presentes em seu enterro, observa suas expressões, confere as coroas de flores, lê o obituário dos jornais, se encanta por encontrar os entes queridos no céu ou se aterroriza por despertar fechado dentro do caixão. Em suma, estamos vivos.
Então que diabo é esse tal medo de morrer que tantas pessoas têm? Mais uma vez é o medo de alguma coisa diferente da morte e que imaginamos a partir de nossas experiências de vida. Um medo parente daquele dos navegadores do século XV, o medo do imaginado e não do desconhecido. É medo de coisas de vivos. Há o medo de ser enterrado vivo (então não se morreu), o medo de uma morte sofrida, de uma agonia (coisa de gente viva), o medo de ir parar no quinto dos infernos (continua-se vivo lá, então). Nunca ouvi ninguém dizer que tinha medo de passar ao estado de espírito que se sente durante uma anestesia geral, ou seja, nada. O mais perto disso era o medo de virar carne podre, mas este não adianta, a pessoa continua viva.
Esses medos são produtos finais de pensamentos mantidos sob repressão. Muitos são resultados de um temor de punição, representantes das ameaças variadas que Freud reuniu com o nome de angústia de castração. Alguns representam a sensação de não ter aproveitado da vida, de tê-la deixado passar sem tomar as decisões que sempre soubemos necessárias. A aflição de prazo se esgotando. Outros são temores de ser feliz deixando outras pessoas infelizes, seria a vingança dos infelizes.
Texto extraído de A CRIAÇÃO ORIGINAL: A TEORIA DA MENTE SEGUNDO FREUD, pp. 291-2.
Nenhum comentário:
Postar um comentário