Aldir Blanc escreveu que “o Brazil não conhece o Brasil... o Brasil nunca foi ao Brazil... o Brazil tá matando o Brasil”. No caso de “Querelas do Brasil”, a canção de onde eu tirei esses versos, o “Brazil com Z” era o país que se via de fora. O país do atraso, da fome, da corrupção. O Brasil dos anos 70.
O Brasil que se vê de fora hoje em dia, 40 anos depois, é o país da violência, do desencanto, da corrupção. Mudaram alguns fatores, mas a corrupção continua firme e forte. No entanto, existe um Brasil que não se vê e não aparece nos noticiários. É o país de natureza exuberante que bate recordes na produção agrícola (apesar das dificuldades para escoar os produtos); é o país que produz muito petróleo (apesar dos roubos na Petrobras); é o país do povo valente e trabalhador que madruga para pegar no batente (apesar do colapso nos transportes públicos); é o país das pessoas acolhedoras e de boa índole (apesar da violência nas ruas).
O Brasil é o país com a maior área cultivável do planeta inteiro; tem o maior rebanho de gado comercial do mundo; tem riquezas minerais incalculáveis, uma biodiversidade admirável, um clima abençoado, a maior bacia hidrográfica que existe. Tudo isso são tesouros que a gente muitas vezes esquece de valorizar.
Resolvi acreditar que ainda existe um belo futuro e que o país tem saídas. Mudei o foco para salvar a esperança que agonizava num canto do meu coração. Alguns amigos começaram a renegar a ideia do Brasil que não dá certo, o Brasil dos noticiários. Isso é ótimo! Eles deixaram de assistir às novelas dos escândalos, deixaram de brigar nas redes sociais por meliantes que assaltam os cofres públicos e apostam na impunidade. Eu resolvi entrar no bloco dos otimistas. Decidi ver toda essa bagunça como um bom sinal. O país está na fase de arrumar os armários, jogar fora as coisas velhas, abrir as janelas, sacudir os tapetes para tirar o pó acumulado, varrer a podridão, limpar o mofo dos cantos e apagar a tristeza dos rostos.
O desemprego continua elevado, mas o da Espanha chegou a 30% – o dobro do índice brasileiro – e os espanhóis se reergueram. Vem aí uma eleição para presidente e uma nova chance de mudar o cenário político do país. Como sempre faço, vou votar no candidato que vai perder. Sei disso porque só voto nos candidatos de uma tecla só: os que defendem a educação, depois a educação, e por fim a educação. Eles não ganham eleição, mas sempre recebem o meu voto. Porque eu acho que quando a educação de um país melhora as peças soltas do quebra-cabeça se encaixam sozinhas. Isso aconteceu na Coreia do Sul, na Malásia, em Singapura e em outros países.
Não quero transformar esse texto em mais uma bandeira contra os oportunistas de Brasília que vivem em sua ilha e não enxergam o imenso mar em volta. Quero deixar aqui a minha semente de esperança e a certeza de um sol que vai acabar nascendo, por mais que a mídia, os bandidos, as ideologias equivocadas e os corruptos de todas as cores tentem evitar. O Brasil é maior que tudo isso, pode se tornar mais forte, mais unido, mais otimista.
Drummond dizia que existe mais de um Brasil. Tinha razão, existem vários brasis. Resolvi acreditar, até segunda ordem, no Brasil que vai dar certo. Resolvi crer de novo, nem que seja para salvaguardar a minha paz de espírito. Se a estrada engarrafar de novo a gente tenta outro caminho e busca outro sol, outra esperança, outro renascimento. O Brasil é tão grande que cabe tudo isso nele. A escuridão da noite sempre perde para a manhã que nasce. Começo a achar que um sol belo e caloroso está para nascer no Brasil. É mais gostoso pensar assim. É mais reconfortante. É mais patriótico. Recomendo a todos.