HOMENAGEM AO PINTOR ALBERTO DA VEIGA GUIGNARD

 

Guignard, São Sebastião, óleo sobre tela, 1961

Na Europa desde a adolescência, Guignard iniciou seus estudos de pintura aos 20 anos na Academia de Belas Artes de Munique, Alemanha (1919), depois em Florença, Itália, e Paris, na França, onde participou do Salão de Outono (1923), do Salão dos Independentes (1928) e, no mesmo ano, da Bienal de Veneza, Itália. De volta ao Brasil, residiu no Rio de Janeiro de 1929 a 1944, com grande atuação como artista e professor. Participou do Salão Revolucionário de 1931, realizado na Escola Nacional de Belas Artes, atual Museu Nacional de Belas Artes, e da Sala da Associação dos Artistas Brasileiros (1941), no Palace Hotel, ambos no Rio de Janeiro. Recebeu a medalha de ouro no Salão Nacional de Belas Artes de 1942. Em 1944, a convite do então prefeito Juscelino Kubitscheck, transferiu-se para Belo Horizonte onde dirigiu uma escola livre de desenho, que hoje tem o seu nome, e foi responsável pela formação de vários artistas. Participou da I Bienal Internacional de Artes Plásticas, no Parque Trianon, em São Paulo (1951).

Catálogo da exposição inaugural da Casa Roberto Marinho “Modernos 10”


Guignard, Noite de São João, óleo sobre tela, 1961

Guignard, A Romana (Srta. Juliana Rozetti), óleo sobre madeira, 1929

Guignard, Ouro Preto, óleo sobre madeira, 1946


AS RAÍZES MINEIRAS DE GUIGNARD

 

O encontro de Alberto da Veiga Guignard (Nova Friburgo/RJ, 1896 - Belo Horizonte, 1962) com a paisagem mineira é um capitulo emocionante na arte brasileira. Depois de se formar na Alemanha e iniciar sua carreira artística na Europa, Guignard chega ao Brasil em 1929 e passa a década de 30 em grande atuação no Rio de Janeiro como artista e professor. Em 1944, a convite de Juscelino Kubitschek, transfere-se para Minas Gerais com a criação de um centro moderno de artes plásticas em Belo Horizonte, uma escola que hoje leva o seu nome e que formou uma geração de consagrados artistas.

Guignard passa os seus últimos 18 anos de vida encantado com a paisagem mineira e suas cidades históricas, especialmente Ouro Preto, onde passou longas temporadas de trabalho. A cidade ainda guarda viva sua presença: era visto em Santa Efigênia, no Alto das Cabeças, no centro e arredores, sempre com o seu cavalete aberto ao público, que o assistia impactado diante desse olhar que inaugurava uma nova paisagem ao seu redor.

“Desenhar é riscar sem medo”, dizia. E seus desenhos e pinturas dessa fase primeiro retratam o que via e depois se soltam em interpretações livres, um território mítico, onde as cidades flutuam em névoas ou linhas puras sobre o branco do papel, pontuadas por palmeiras e araucárias que extraía de sua observação do cotidiano.

O artista quase realiza no início dos anos 60 o seu sonho de finalmente ter uma casa só sua, em Ouro Preto, que depois se transformaria em um centro cultural para difusão de sua obra. Seu desejo foi interrompido com o seu falecimento em junho de 1962, antes de se instalar nesta casa adquirida por ele na Rua Conselheiro Quintiliano, Bairro das Lages.

O projeto, alimentado por seus amigos e admiradores, ganha corpo finalmente em 1987 com a inauguração do Museu Casa Guignard. Ao longo desses anos o Museu tem sido referência para pesquisas e catalogação da obra de Guignard, ação educativa e formação de um acervo digno de um dos maiores artistas brasileiros do séc. XX.

Gélcio Fortes

Coordenador de Museu Casa Guignard


Guignard, Retrato de Mulher, óleo sobre madeira, 1959

Guignard, Sem Título, 1927-31. Acervo da Casa Roberto Marinho


Um gênio de talento excepcional, versátil e intuitivo, que trabalhava por amor à arte, sem vaidade nem pretensão financeira. Vítima de todas as mazelas de uma existência difícil, marcado pela natureza, abandonado pelas mulheres, explorado pelos homens, mas que soube aceitar com resignação a sua sina.”

Marcelo Bortoloti, Guignard, anjo mutilado (biografia do pintor)


Guignard, São Sebastião, 1960, óleo sobre tela. "O artista parecia ter tomado gosto pelo expressionismo visceral de Van Gogh, e seus quadros de Cristo e de São Sebastião foram adquirindo uma coloração chocante. O marchand Jorge Beltrão especulava que alguns deles fossem produzidos sob o efeito do álcool, refletindo, portanto, de forma mais sincera, o estado de alma e o sofrimento em que o artista estava mergulhado." Marcelo Bortoloti, Guignard: Anjo Mutilado.

Guignard, Paisagem Imaginária, 1947, óleo sobre madeira. Fotografado pelo editor do blog no Museu Casa Guignard de Ouro Preto. Mais sobre esta cidade histórica mineira clicando aqui.

Guignard, Figura, óleo sobre cartão, 1930

Guignard, Crucificação, 1961, óleo sobre compensado, acervo do Museu de Arte Brasileira de São Paulo

VIDA E OBRA ATRAVESSADAS DE POESIA (excerto)

Seu sentido de modernidade nasce da sua compreensão dos clássicos, da sua identificação/confronto com Leonardo da Vinci, artista que ele venerou desde jovem, quando viu suas obras na Pinacoteca de Arte Antiga de Munique. Frequentou também toda a contemporaneidade europeia e seus movimentos: expressionismo, fovismo, surrealismo, cubismo e arte japonesa, cujos vocabulários, assimilados harmoniosamente por ele, vão ter ressonâncias discerníveis em sua obra

Sua formação intelectual e artística, o poliglota, o erudito, o amante de poesia e de música, de que hoje temos consciência, através de testemunhos daqueles que conviveram com ele, como Mário Pedrosa, Frederico Morais, Jayme Maurício, Lourival Gomes Machado, desfazem de uma vez por todas o estereótipo que procurou vulgarizá-lo, por muito tempo, como um ingênuo, um primitivo, um sujeito angelical guiado somente pelo instinto.

Os episódios dolorosos de sua vida – o lábio leporino, a morte precoce do pai, o padrasto difícil, a falta de família, a pobreza, o álcool – também contribuíram para desviar o foco de atenção mais acurada da sua obra. Na verdade, Guignard teve coragem para enfrentar essas adversidades e construir ao longo de sua vida uma obra que, como toda a arte verdadeira, escapa às contingências da mera biografia.

LÉLIA COELHO FROTA (Palavra, mar. 2000)


Guignard, Cristo e Maria, óleo sobre tela, 1961

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