MIRIAN DE CARVALHO


Mirian de Carvalho é Doutora em Filosofia. Leciona Estética na UFRJ. Membro das Associações Brasileira e Internacional de Críticos de Arte. Foi minha colega na oficina literária Ivan Proença.

MORRO DO CASTELO


Espiando a cidade, o morro guardava personagens
de Machado, ao sono da esplanada. Moças
casadoiras em alvoroçada costura.

De manhã, as compras no mercado atiçavam o fogo,
e o cheiro da comida preparava o estômago
para o almoço. Guardado na bilha, o leite.

À hora do café da tarde, o bolo de milho
(de milho moído no quintal). Pão quente.
Pão cheiroso.

Dentro da cristaleira aguardava as visitas a garrafa
de licor. Carambolas na fruteira. E o mundo
resumindo-se na rotina.

E SE INDA HOUVER AMOR

E se inda houver amor eu me completo
ao dividir-me instante em epifania
nos limites da terra eu saberia
do infinito entender voz e dialeto.

Corpo-impulso guiando estes meus passos
escrevendo canção em chão de estrada
a desvelar-me os dons desta esperada
hora que pressentisse o que desfaço.

E se inda houvesse tempo de encontrar
o que dentro de mim ao evadir-se
ficou detido em lume pelo olhar:

doação que se fizesse distraída
motivo de envolver-me agora e sempre
paixão maior que a vida dividida.

Foto do Morro do Castelo de Augusto Malta.

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