Febre, paixão, religião. O nosso futebol rendeu
jornadas gloriosas. Lá comparecemos, numa atitude imbatível, a desfrutar a
grandeza perene do pódio. Como é bom lembrar que fomos campeões mundiais de
futebol em 1958, 1962, 1970, 1984 e 2002. Que maravilha! Cinco maravilhas,
melhor dizendo.
O futebol brasileiro gosta de escrever sua história
no extremo. Desceu horrível uma ladeira várias vezes, fomos parar no fundo do
poço. Sé então, nesse momento do buraco negro, é que nos lembramos que nos
outros países há gente que também sabe jogar futebol. Como nós, gente que veste
os meiões, calção e camisa numerada atrás, calça a chuteira e entra em campo
para ganhar, empatar ou perder. Uma coisa você vai concordar comigo, somente o
jogador brasileiro sabe improvisar o lance, de tão artista parece ter feitiço
com o pé na bola. Cada golaço, difícil de acreditar, de tão incrível e bonita
que é a conclusão fatal da jogada.
A primeira catástrofe do futebol brasileiro
aconteceu na Copa do Mundo de 1950, no Maracanã. Já vão longe aqueles idos. O
Brasil jogava pelo empate. Um gol fazia balançar o estádio com duzentas mil
pessoas. Foi de Friaça no início do segundo tempo, lenços acenavam para os
valentes atletas uruguaios. Veio o gol de empate dos uruguaios, Schiafino o
autor da proeza. Um calafrio penetrava ossos e nervos do Maracanã com a lotação
máxima. O inexorável iria acontecer aos trinta e quatro minutos. O ponteiro
Gighia chutava a bola e a grama. Ninguém acreditava no que se estava vendo, a
bola entrando entre a trave e o goleiro Barbosa. Lenços já não acenavam. Aquela
coisa que só infundia medo, estupidamente sem tamanho, percorria todo o
estádio. Ninguém podia reverter o capricho dos deuses. Contava o locutor que,
encerrado o jogo, a procissão de mortos saía do Maracanã, e o país, que pensava
e amava pelos pés, principalmente naquele dia, em caos desencantava-se.
Outras derrotas amargas em campeonatos mundiais
iriam acontecer e com elas ferimentos que teimam em não cicatrizar. Anotem a
eliminação do Brasil pela primeira vez na fase de grupos, Copa da Inglaterra.
Perdera para Portugal por três a zero e para a Hungria por três a um. Só
conseguiu vencer a desconhecida Bulgária por dois a zero. Voltamos cabisbaixos
para casa. Na Copa de 1982, na Espanha, a lendária seleção, que jamais sucumbiu
à derrota contra a Itália, provou que o futebol não é apenas jogar bonito e
ofensivo, mas resultado. O Brasil, de Telê, Zico, Sócrates, Junior e Falcão,
era a vítima na Tragédia de Sarriá. Eliminado pela seleção italiana, a
aguerrida azurra, de Zoff e Paolo Rossi, por três a dois. Em 24 de junho de
1990, outra derrota traumática. Com uma seleção superior, com duas bolas na
trave do adversário e um massacre desferido no tempo regulamentar, o Brasil foi
eliminado pela Argentina por um a zero. O lance do
gol: aos 35 minutos do final, Maradona passou por três brasileiros e serviu
Claudio Caniggia, que ficou cara a cara com Taffarel. O atacante teve calma
para driblar o goleiro brasileiro e tocar a bola para o fundo das redes. Na
Copa de 86, Zico e Sócrates perderam pênaltis, e o Brasil foi eliminado pela
França de Platini.
Depois que ganhamos da França por
cinco a dois na Copa do Mundo de 1958, na Suécia, só fizemos perder em
mundiais. O dia 12 de julho de 1998 deixou uma triste
lembrança para o torcedor brasileiro na disputa da Copa do Mundo, na França. O
time brasileiro enfrentou um duro jogo contra a Holanda, nas semifinais. Após o
empate por 1 a 1, o jogo foi para as penalidades, vencidas pelo Brasil por 4 a
2. Na final, o Brasil entrou em campo para sagrar-se hexacampeão mundial. Com
um futebol apático, sonolento, foi derrotado pelos franceses por 3 a 0, com
gols de Zidane (2) e Petit. Antes do jogo, Ronaldo, principal estrela do time
brasileiro, sofreu uma convulsão em um episódio que abalou todo o time e que
gera polêmica até os dias de hoje.
Pensávamos que o volume da tragédia,
com o Brasil derrotado numa final de Copa do Mundo, em sua casa, fosse ser
expulso do estádio na Copa de 2014, a ser realizada pela segunda vez nessa
“pátria em chuteiras”, como dizia Nelson Rodrigues.
O pior dos traumas estava para
acontecer. Sem Neymar, o craque do time, fora retirado de campo contundido,
pela falta abominável cometida pelo defensor da Colômbia, na partida anterior,
os ares da tragédia começavam a ser anunciados pelos ventos do azar. Ele estava
fora da final contra a Alemanha. Apesar dessa baixa enorme, havia alguma
confiança de que a batalha final seria vencida pela Seleção do Brasil. Meu
Deus, o que foi que aconteceu naquele dia vergonhoso? Perdemos em casa outra
Copa do Mundo, dessa vez pelo humilhante placar de sete a um. Em poucos minutos
já perdíamos por três a zero, sofremos três gols de repente, um atrás do outro.
Perguntaram a Gerson, o meia-esquerda
genial da Seleção de 70, no México, para muitos a melhor de todas em mundiais,
como se explicava outra catástrofe do futebol em nossa casa. Não se explica o
que é inexplicável, respondeu. Sabem quando vai acontecer outra derrota
vergonhosa dessas? A seguir completou, nunca.
Como disse no início que o
futebol brasileiro gosta de escrever sua história nos extremos, penso que vamos ser pentacampeões de futebol na Copa do
Mundo de Moscou, em 2018.
Até mais verde que te quero verde.
CYRO
DE MATTOS é autor publicado em vários países europeus, Estados Unidos e México.
Premiado no Brasil, Portugal, Itália e México. Membro efetivo da Academia de
Letras da Bahia, Academia de Letras de Itabuna e Academia de Letras de Ilhéus.
Doutor Honoris Causa pela Universidade Estadual de Santa Cruz.
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