A “tradição” carioca da bala perdida é mais antiga do que imaginamos. Há meses, amigo me contou que tinha vaga lembrança de conto de Machado de Assis em que o personagem morre vítima de bala perdida. Se eu conseguisse localizar o conto, ele me pagaria um almoço. Obstinado que sou, ganhei o almoço! E o leitor, sabe a que conto me refiro? No final desta crônica, revelarei.
O Rio de Janeiro deve ser a única cidade do mundo (tirante regiões em guerra civil ou convencional) onde, do recôndito de nosso lar, se consegue ouvir às altas horas da noite o matraquear de metralhadoras das “guerras” entre quadrilhas de traficantes. Isso é tido como tão normal que ninguém protesta, ninguém reclama: nenhuma ONG, nenhum defensor dos direitos humanos, nenhum senador ou deputado eleito pelo Rio, nenhuma autoridade eclesiástica, Fernando Henrique Cardoso, Lula, OAB, ABI... ninguém! [NOTA: Crônica escrita em 1999, quando FHC estava no governo e Lula, fazendo barulho na oposição.]
Eu pessoalmente tenho duas histórias de tiroteio para contar aos netinhos quando envelhecer. Na primeira, subia de táxi a Almirante Alexandrino, Santa Teresa, para deixar em casa um amiguinho do meu filho. A certa altura, este indagou:
– Por que tem uma pessoa com metralhadora na rua?
Claro que não lhe demos ouvidos. Crianças são cheias de imaginação! Até que, após dobrarmos uma esquina, deparamos com uma fileira de policiais militares, metralhadoras em punho, agachados junto à mureta, dando tiros em direção à favelinha em baixo. Da favela vinham tiros de metralhadora também, que espoucavam no ar como fogos de artifício no Revéillon. Bonitos! Instei o motorista: “Mete o pé no acelerador!” Saímos ilesos!
Dias depois, também num táxi na praia de Botafogo, de repente o chofer abre a porta e some, deixando-me apatetado, perplexo no banco de trás. Levei alguns segundos até dar conta da situação: tiros de revólver, pessoas correndo em todas a direções. Abandonei o veículo e, agachado rente ao meio-fio, afastei-me do local. Felizmente, o tiroteio não veio em nossa direção, tomou outro rumo. Minutos depois, reaparecem táxi e chofer na maior cara de pau: embora me abandonasse na hora do perigo, voltou para não perder a corrida.
O Rio de Janeiro deve ser a única cidade do mundo (tirante regiões em guerra civil ou convencional) onde, do recôndito de nosso lar, se consegue ouvir às altas horas da noite o matraquear de metralhadoras das “guerras” entre quadrilhas de traficantes. Isso é tido como tão normal que ninguém protesta, ninguém reclama: nenhuma ONG, nenhum defensor dos direitos humanos, nenhum senador ou deputado eleito pelo Rio, nenhuma autoridade eclesiástica, Fernando Henrique Cardoso, Lula, OAB, ABI... ninguém! [NOTA: Crônica escrita em 1999, quando FHC estava no governo e Lula, fazendo barulho na oposição.]
Eu pessoalmente tenho duas histórias de tiroteio para contar aos netinhos quando envelhecer. Na primeira, subia de táxi a Almirante Alexandrino, Santa Teresa, para deixar em casa um amiguinho do meu filho. A certa altura, este indagou:
– Por que tem uma pessoa com metralhadora na rua?
Claro que não lhe demos ouvidos. Crianças são cheias de imaginação! Até que, após dobrarmos uma esquina, deparamos com uma fileira de policiais militares, metralhadoras em punho, agachados junto à mureta, dando tiros em direção à favelinha em baixo. Da favela vinham tiros de metralhadora também, que espoucavam no ar como fogos de artifício no Revéillon. Bonitos! Instei o motorista: “Mete o pé no acelerador!” Saímos ilesos!
Dias depois, também num táxi na praia de Botafogo, de repente o chofer abre a porta e some, deixando-me apatetado, perplexo no banco de trás. Levei alguns segundos até dar conta da situação: tiros de revólver, pessoas correndo em todas a direções. Abandonei o veículo e, agachado rente ao meio-fio, afastei-me do local. Felizmente, o tiroteio não veio em nossa direção, tomou outro rumo. Minutos depois, reaparecem táxi e chofer na maior cara de pau: embora me abandonasse na hora do perigo, voltou para não perder a corrida.
Antes que me esqueça, o conto de Machado de Assis é "Pílades e Orestes", em Relíquias de casa velha. A bala perdida é da Revolta da Armada. Leiam o conto.
Foto: "Bala perdida" do encouraçado Aquidabã que atingiu a torre sineira da Igreja de N.S. da Lapa dos Mercadores durante a Revolta da Armada em 1893.
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