GUILHERME DE ALMEIDA


Nos poemas anteriores à sua estréia em livro, com Nós, em 1917, sobretudo os depois reunidos em A cidade da névoa, Guilherme de Almeida (1890-1969) demonstra uma forte influência penumbrista, com toques marcantes de Cesário Verde. Essas características, unidas a um sempre crescente virtuosismo, serão mantidas até Raça, de 1925, onde a temática brasileira aflora, em versos longos fortemente ritmados, livro que marca a sua conversão poética de fato a um ideário modernista que defendeu desde a primeira hora. (Alexei Bueno, Uma história da poesia brasileira, pág. 297)

ESSA QUE EU HEI DE AMAR…

Essa que eu hei de amar perdidamente um dia
será tão loura, e clara, e vagarosa, e bela,
que eu pensarei que é o sol que vem, pela janela,
trazer luz e calor a essa alma escura e fria.

E quando ela passar, tudo o que eu não sentia
da vida há de acordar no coração, que vela…
E ela irá como o sol, e eu irei atrás dela
como sombra feliz… — Tudo isso eu me dizia,

quando alguém me chamou. Olhei: um vulto louro,
e claro, e vagaroso, e belo, na luz de ouro
do poente, me dizia adeus, como um sol triste…

E falou-me de longe: "Eu passei a teu lado,
mas ias tão perdido em teu sonho dourado,
meu pobre sonhador, que nem sequer me viste!"

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