ALPHONSUS DE GUIMARAENS FILHO

Convidada a entrar na casa, a poesia ficou
ESTÊVÃO BERTONI

O primeiro da família a se arriscar com a pena foi Bernardo, o tio-avô, no século 19. É o autor de A escrava Isaura. O pai, Alphonsus de Guimaraens, como ele, imortalizou-se nos livros escolares como um dos expoentes da poesia simbolista no país.

Ele, Alphonsus de Guimaraens Filho, foi também poeta. Vivia com a casa cheia de amigos obviamente poetas. Em Drummond, tinha um grande amigo. Bandeira foi seu padrinho de casamento.

O matrimônio, por sinal, foi um encontro das letras. Conheceu a mulher ao comemorar, na confeitaria Papi, em Belo Horizonte, um prêmio que recebeu por seu primeiro livro, Lume de estrelas. O local da festa era de propriedade da família dela, também de escritores.

Natural de Mariana (MG), Alphonsus formou-se em direito, em BH. Nos anos 50, foi trabalhar no gabinete do presidente Juscelino Kubitschek. Em 1972, em Brasília, aposentou-se como procurador do Tribunal de Contas da União e partiu definitivamente para o Rio, onde surgiu a rua Lume de Estrelas.

Publicou 25 livros. Mesmo muito caseiro, como lembra o filho, gostava de freqüentar os "sabadoyles", encontros de escritores organizados pelo bibliófilo Plínio Doyle.

Internado com pneumonia, morreu aos 90, na quinta [28/8/08], no Rio. Tinha mal de Parkinson. Deixa três filhos e quatro netos. Nos últimos anos, corrigiu os textos dos netos Augusto e Domingos. São também poetas. (FSP, Obituário, 3.9.2008)

NESTE PRATO

Neste prato tão sujo nada resta
a não ser a memória de uma festa
de ontem, ou de anteontem, ou deste dia.
Eu me lembro da boca: ela comia,

os dentes ágeis, fresca e sensual.
Eu bem me lembro dela, por sinal
mais do que devorante, devorada
por beijos, rubra e amante, rubra e amada.

Neste prato tão sujo resta vida,
e não só morte. E não só perdida
lembrança, ou desalento, ou coisa assim.

Não é princípio, nem será o fim,
intato, sem fissuras tão mortais.
Podem quebra-lo: não se acaba mais.

(Do livro Todos os sonetos, Edições Galo Branco, 1996)

QUANDO EU DISSER ADEUS...


Quando eu disser adeus, amor, não diga
adeus também, mas sim um "até breve";
para que aquele que se afasta leve
uma esperança ao menos na fadiga

da grande, inconsolável despedida...
Quando eu disser adeus, amor, segrede
um "até mais" que ainda ilumine a vida
que no arquejo final vacila e cede.

Quando eu disser adeus, quando eu disser
adeus, mas um adeus já derradeiro,
que a sua voz me possa convencer

de que apenas eu parti primeiro,
que em breve irá, que nunca outra mulher
amou de amor mais puro e verdadeiro.

(Do livro Poemas reunidos, José Olympio, 1960)

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