AUGUSTO FREDERICO SCHMIDT


Saint-Beuve já reparara em pleno romantismo que existe uma poesia caracteristicamente dos gordos e a propósito de umas estâncias bem balançadas de Théophile Gautier exclamara num de seus “Lundis”: “Eis uns versos que um magro nunca poderia fazer.” A poesia de Augusto Frederico Schmidt é assim. Meiga, triste, neo-romântica, mas gorda. Às vezes tem um sabor a Casimiro de Abreu, a Gonçalves Dias, a Fagundes Varela. (Manuel Bandeira, "Um poeta que não quer cantar mais o Brasil" em Crônicas inéditas I)

Schmidt publicou O galo branco em 1948, memórias poéticas, datilografadas por João Conde. Publicara muitos textos no Correio da Manhã, no suplemento literário. Era um prolongamento da sua poesia neo-romântica. Sempre à sombra do enigmático, esquivo Galo Branco, um galo birmanês, elegantíssimo, esguio, longilíneo, solitário, que morava na varanda do apartamento da rua Paula Freitas 20, em frente ao restaurante Le Mazot, em que o poeta muitas vezes se refugiava, triste, ou angustiado, ou melancólico, ou naquelas crises de desespero que o assaltavam. Frágil e trágico poeta. (Antônio Carlos Villaça, "A memorialística brasileira" em Diário de Faxinal do Céu)

QUANDO EU MORRER

Quando eu morrer o mundo continuará o mesmo.
A doçura das tardes continuará a envolver as coisas todas,
Como as envolve agora neste instante.
O vento fresco dobrará as árvores esguias
E levantará as nuvens de poesia nas estradas —
Quando eu morrer as águas claras dos rios rolarão ainda
Rolarão sempre, alvas de espuma...
Quando eu morrer as estrelas não cessarão de se acender
no lindo céu noturno,
E nos vergéis onde os pássaros cantam — as frutas continuarão a ser doces e boas.
Quando eu morrer os homens continuarão sempre os mesmos
E se hão de esquecer do meu caminho silencioso entre eles.
Quando eu morrer os prantos e as alegrias permanecerão
Todas as ânsias e inquietudes do mundo não se modificarão.
Quando eu morrer a humanidade continuará a mesma
Porque nada sou — nada conto e nada tenho
Porque sou um grão de poeira perdido no infinito.
Sinto porém, agora, que o mundo sou eu mesmo
E que a sombra descerá por sobre o universo vazio de mim
Quando eu morrer...

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