Carlos Machado é editor do boletim poesia.net, um inventário crítico da produção poética de todos os tempos (com destaque para a poesia brasileira contemporânea e moderna). Carlos Machado também é poeta de mão cheia como mostra em seu Pássaro de vidro, que gentilmente me enviou, do qual selecionei os três poemas abaixo. Para conhecer e assinar o boletim poesia.net, clique aqui.
TREM
Meu destino é perder o trem
para Caxambu.
Há muitos anos vivo na estação.
Todos os dias
os comboios passam.
Deixo passar:
ainda não é hora de partir.
Caxambu fica distante
e é preciso esperar
o momento certo para seguir
uma
vontade
súbita
de me pôr nos trilhos.
Hoje decidi: devo embarcar.
Mas descobri que
nenhum trem passa em Caxambu.
ESFINGES
Alguns, prudentes, não falam com estranhos.
Outros, muito práticos, dizem apenas o necessário
para o bom andamento dos negócios.
Alguns, calmos e sérios, fecham portas e janelas.
Outros, afoitos, ou filhos de um deus sem-terra,
oferecem biscoitos, talvez flores, e longa prosa.
De todos, quem sorri com mais dentes de ouro?
quem finge? quem vê no espelho sua própria esfinge?
ALMA DE RELÓGIO (2)
É na mudança que as coisas
acham repouso.
Heráclito
não dormes:
teu único
repouso
é descobrir-te
em cada momento
sempre
desigual a
ti mesmo
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