“Quando penso em Cláudio Aragão, vejo um milagre brasileiro que se multiplica por esta terra como pães e peixes bíblicos: é o milagre de Vitalino que veio do nada para tornar-se mago do mundo mítico de barro [...] Cláudio veio em 1963 ao Rio num pau-de-arara, atravessando com um grupo de retirantes paisagens de seca e morte durante duas semanas para instalar-se em seguida com mãe e irmã num sótão de subúrbio e depois numa favela. [...] Terminados os estudos universitários, além de lutar pelo sustento, como infelizmente a maioria dos intelectuais e artistas neste país, dedicou-se à literatura.” (Wira Selanski, Prefácio de Anjo Feio)
Cláudio Aragão é autor de A história da seleção brasileira em cordel e das histórias de vários times de futebol também em forma de cordel, editadas pela Bom Texto.
POESIA
Pouco sei dos prótons e nêutrons.
Do cálculo binário, da origem do Homem,
das estrelas perdidas, dos planetas distantes.
Posso dizer que não decorei
nenhuma canção de guerra.
Ouvi falar, muito de longe,
dos cossacos e dos Kamikazes
e quando o Homem pisou na lua,
confesso,
eu dormia.
Desprezo profundamente
a arrogância humana,
visto que pouco sei do valor do ouro,
da moeda corrente, das terras usurpadas.
Pouco sei dos novos planos do Homem
para o futuro.
Sei apenas dos raios de sol
furando a floresta, trazendo vida.
Sei apenas dos pássaros
voando mais alto que as balas dos canhões.
(do livro Anjo Feio)
SOBRE AS ÁGUAS DO JORDÃO
Tava sentado no leito do Rio Jordão
2.030 anos atrás
quando vi Cristo ameaçar entrar no mar
caminhar sobre as águas.
— Faz isso não, Mestre!
Essa raça não vale um banho!
Os 12 apóstolos me lançaram
um olhar de reprovação.
Foi quando o Senhor os repreendeu:
— Acalmai vossos pensamentos
e deixar vir a mim os Poetas!
2 comentários:
Um poema de sim, sei o que quero dizer! ou seja, um poema de poeta, com gosto de 'venham mais!' [a poetada agradece!]
beijos,
Eliana Mora
jornalista e poeta, Rio
[indicação de Jeanette Roszas]
Acompanho sempre os seus múltiplos passos na internet com vivo interesse. Parabéns e obrigado pela força dada à poesia e aos poetas. Gostei muito dos poemas do Cláudio e da Thereza. (enviado por e-mail)
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