WALDIR RIBEIRO DO VAL


Vamos beber, amigo...

Waldir Ribeiro do Val
nasceu em Ariranha, SP, em 1928. Bacharel em direito. Diretor da Editora Galo Branco, especializada em poesia. Autor de três livros de poesia e de estudos notáveis sobre o poeta maranhense Raimundo Correia (inclusive o Itinerário poético de Raimundo Correia publicado em 2006). Foi secretário literário de Augusto Frederico Schmidt e está preparando sua biografia. Os poemas aqui apresentados são da revista Poesia para todos n. 6, editada pela Galo Branco.

CONVITE

Vamos beber, amigo.
Beber ao violino que está tocando,
a essa canção que vem pelo ar,
à parede pintada de azul.

Apenas um convite.
Beber ao céu, ao mar,
aos automóveis patinando no asfalto,
à súplica do vento.

Vamos beber, amigo.
Beber à música dos rios,
aos sorrisos das crianças,
aos olhares expressivos,
às palavras saídas
de bocas vermelhas.

Vamos beber a este navio
que nos leva numa longa viagem
indefinida.

Vamos beber, amigo, vamos beber à vida.

HÁ UM MOMENTO

Há na tarde clara um momento
em que uma borboleta cansada
pousa na estátua branca do parque.
Há um momento em que o vento
agita as folhas e os cabelos das jovens
que movem carrinhos de crianças.
Há um momento, um breve momento,
em que os automóveis passam
riscando o cristal da tarde.

Há um momento, um momento indeciso,
em que olho o horizonte e busco
no ar grave da noite próxima
um gesto de esperança.

WANDA LINS


Wanda Lins — poesia radicalmente original, paranormal, paradoxal, paralática — nasceu no Rio de Janeiro em 1949. Aos doze anos foi viver na França, onde se formou pela École Supérieure d’Interprètes et Traducteurs. Em 1986, publicação do livro Les Monstrillons. Em novembro de 99 volta para o Brasil, em janeiro de 2000 começa a escrever em português. Em 2005 lança o intrigante & instigante livro de poesias 50 tempestades (Oficina do Livro), de onde selecionei os dois poemas abaixo.

se fosse

se fosse uma curva seria parabólica
saída do chapéu cônico de uma bruxa diabólica

se fosse uma linha seria duas paralelas
retas infinitas magrelas

se fosse um ângulo seria paralático
nada como ser um ângulo galático

se fosse um objeto sem dúvida um parabelo
verde e amarelo

e se fosse um raciocínio
seria pitbullmente paradoxal

mas não sou nada disso
sou

eu

parahybana e paranormal

Mar do Norte


sinto-me hoje como uma praia
do Mar do Norte
sob o chumbo algodoado
do céu invernal

gris a mais não poder

deserta

tão somente algumas gaivotas
mergulhando e bicando
a tristeza encrespada do mar