TROVAS


Bebo dez... volto às duas!

A trova é uma quadra, com sentido completo e independente, composta de redondilhas maiores - em outras palavras, quatro versos de sete sílabas. Mas não são quatro versos quaisquer. A trova bem feita tem que ser um "achado": seu último verso deve conter uma conclusão que surpreenda o leitor.

Meu barracão na favela,
onde vou vivendo ao léu,
na moldura da janela
não tem vidraça; - Tem céu! (José Antonio Jacob)

Ficou pronta a criação
sem um defeito sequer,
e atingiu a perfeição
quando Deus fez a mulher. (Eva Reis)

Não há nada mais profundo,
mais belo e comovedor,
nem maior poder no mundo
que um simples gesto de amor. (Eno Teodoro Wanke)

No meu humilde viver
a solidão é tamanha
que só me falta perder
a sombra que me acompanha. (José Carlos de L.G.)

As almas de muita gente
São como o rio profundo:
A face tão transparente,
E quanto lodo no fundo!... (Belmiro Braga )

A mentira é sonho lindo
neste meu mundo encantado.
Sonhando, minto dormindo,
mentindo, sonho acordado. (Sinval Cruz)

Para ter com quem falar,
A velhinha sem ninguém
Vai ao padre confessar
Os pecados que não tem... (José Carlos de L.G.)

Na hora incerta do revés,
Pensa o marido nas ruas:
- Bebo duas... volto às dez
ou bebo dez... volto às duas! (Osvaldo Mascarenhas)

Quanta vez, junto a um jazigo,
Alguém murmura de leve:
- Adeus para sempre, amigo!
E o morto diz: - Até breve!... (Belmiro Braga)