PAULA CAJATY


Paula escreve desde que amou pela primeira vez, como revela a poeta na apresentação de seu primeiro livro publicado: Afrodite InVerso. Advogada por formação acadêmica, ela sempre encontrou na literatura um caminho para alcançar seus próprios sonhos e prazeres sobre meus temas preferidos: literatura e língua portuguesa.

Em e-mail ao editor deste blog, conta Paula:

"Tenho de reconhecer que não fiz o curso de Letras. No entanto, a paixão pela língua sempre rondou a família.
O mais antigo de que se tem registro foi o Silvio Romero em pessoa, avô de meu avô materno.
Outro tio-avô, este por afinidade, o Nelson Custódio de Oliveira, foi quem fez o livro de português adotado por todo o Colégio Militar: Português ao alcance de todos, que hoje é adotado inclusive em Portugal.
Várias de minhas tias e tias-avós foram professoras de português, e a correção com o idioma sempre foi um grande referencial para a minha profissão, o Direito, onde a palavra escrita e falada têm lugar de destaque."

CHAMPAGNE


Garçom, água mineral!
não é amor...
acabou meu barato
amanhã só resta um enjôo
as dores e meu coração
num caco.

ENCONTRO DE POESIA

ele era poeta
escrevia como se pudesse tê-la
sentindo a vontade no seu olho ao lê-lo
como se ela ousasse ser a única

ela era poeta
escrevia arrebatada, incompleta
e lia, e mais avidamente o lia
como se ainda pudesse
despir a vida
entender o silêncio
rasgar a letrapesar sussurro.

Do livro Afrodite in verso. Foto da autora enviada por sua assessoria de imprensa.

PEDRO NAVA


Prédio na Rua da Glória, 190 onde morou Pedro Nava

Companheiro, na juventude, de Drummond, Emílio Moura, João Alphonsus, Capanema, Milton Campos e outros, contribuiu, na Belo Horizonte dos anos vinte, para a consolidação do movimento modernista. Mas uma vez concluídos seus estudos, não se encaminhou nem para a política, nem para as artes, aparentemente abandonando ensaios de poesia marioandradina, desenhos na linha do expressionismo e investidas contra os "coronéis" do PRM. Dedicou-se à medicina e fez carreira destacada como pioneiro da reumatologia. Em 1972, surpreendeu os velhos amigos, quando publicou Baú de ossos - primeiro dos seis (editados sem interrupçção) volumes de Memórias. (Marilia Rothier Cardoso, Introdução de Pedro Nava, o alquimista da memória)

O defunto

Quando morto estiver meu corpo,
evitem os inúteis disfarces,
os disfarces com que os vivos,
só por piedade consigo,
procuram apagar no Morto
o grande castigo da Morte.

Não quero caixão de verniz
nem os ramalhetes distintos,
os superfinos candelabros
e as discretas decorações.

Quero a Morte com mau gosto!

Dêem-me coroas de panos
Dêem-me as flores do roxo pano,
angustiosas flores de pano,
enormes coroas maciças,
como enormes salva-vidas,
com fitas negras pendentes.

E descubram bem minha cara:
que a vejam bem os amigos.
Que a não esqueçam os amigos
e que ela lance nos seus espíritos
a incerteza, o pavor, o pasmo...
E a cada um leve bem nítida
a idéia da própria morte.

Descubram bem esta cara!

Descubram bem estas mãos:
Não se esqueçam destas mãos!
— Meus amigos! olhem as mãos!
Onde andaram, que fizeram,
em que sexos se demoraram
seus sabidos quirodáctilos?
Foram nelas esboçados
todos os gestos malditos:
até furtos fracassados
e interrompidos assassinatos.

— Meus amigos! olhem as mãos
que mentiram às vossas mãos...
Não se esqueçam!
elas fugiram
da suprema purificação
dos possíveis suicídios...
— Meus amigos! olhem as mãos,
as minhas e as vossas mãos!

Descubram bem minhas mãos!

Descubram todo o meu corpo.
Exibam todo o meu corpo
e até mesmo do meu corpo
as partes excomungadas,
as sujas partes sem perdão
que eu esmagava nos sábados
e que aos domingos renasciam...

— Meus amigos! olhem as partes...
Fujam das partes.
Das punitivas, malditas partes...
Eu quero a morte nua e crua
terrífica e habitual,
com seu velório habitual.
— Ah! o seu velório habitual!

Não me envolvam num lençol:
a franciscana humildade,
bem sabeis que se não casa
com meu amor pela Carne,
com meu apego do mundo.

E quero ir de casimira:
de jaquetão com debrum,
calça listrada, plastron
e os mais altos colarinhos.
Dêem-me um terno de ministro
ou roupa nova de noivo...
E assim solene e sinistro
quero ser um tal defunto,
um morto tão acabado,
tão aflitivo e pungente,
que sua lembrança envenene
o que restar aos meus amigos
de vida sem minha vida.

— Meus amigos! lembrem de mim.
Se não de mim, deste morto,
deste pobre terrível morto
que vai se deitar para sempre,
calçando sapatos novos!
Que se vai como se vão
os penetras escorraçados,
as prostitutas recusadas
e os amantes despedidos.
Que se vai como se vão
os que saem enxotados
e tornariam sem brio
a qualquer gesto de chamada.

— Meus amigos, tenham pena,
senão do morto, ao menos
dos dois sapatos do morto!
Dos seus incríveis, patéticos
sapatos pretos de verniz.
Olhai bem estes sapatos
e olhai os vossos também.

          Rio 23.VII.38

POETRIX


O poetrix surgiu como uma “evolução” do haicai. À semelhança do haicai, compõe-se de um terceto (estrofe de três versos), mas o tamanho dos versos é livre, conquanto o poema total não deva exceder trinta sílabas poéticas. É obrigatório um título. Segundo o Primeiro Manifesto Poetrix, trata-se de uma “arte minimalista, ou seja, ele procura transmitir a mais completa mensagem com o menor número de palavras”

Outuno
(Relva do Egypto Rezende Silveira)

Começa o outono...
Folhas secas ao vento –
tapetes voadores

Rio
(Rodrigo Freese Gonzatto)

você chorando
e água
faltando no mundo

Night Business
(Eliana Mora - RJ)

Anoitece.
O ouro cai:
a prata se valoriza.

Esquentes
(Jussara Midlej)

um afago em dó
um beijo em lá
e me mudo pro sol...

Fugaz
(Tê Soares)

Cama desarrumada,
liberdade para as borboletas
estampadas nos lencóis...

Rosa-dos-Ventos

(Goulart Gomes)

Os olhos de Capitu
desgovernando-me a bússola
sem noite, sem céu, sem sul