NUMERATI, de Stephen Baker

Tradução de Ivo Korytowski


Eles formam uma elite de cientistas com a missão de vasculhar montanhas de dados em busca de padrões para descrever o comportamento humano. São os Numerati, o título do livro do jornalista americano Stephen Baker, da revista BusinessWeek, que está sendo lançado agora em português [em tradução de Ivo Korytowski].

Segundo Baker, os Numerati querem criar um modelo virtual de cada consumidor do planeta, usando-o para analisar nossas ações no mundo on-line e oferecer produtos no exato instante em que os desejarmos. Um exemplo de seu poder? Eles ajudaram Barack Obama a vencer as eleições americana.

ÉPOCA – Quem são os Numerati?
Stephen Baker – São uma elite global de cientistas da computação e matemáticos que analisam todos os nossos movimentos. Eles vasculham montanhas de dados à procura dos nossos padrões de comportamento, para poder prever o que iremos comprar, em qual candidato votaremos ou qual trabalho faremos melhor. Alguns tentam até mesmo encontrar possíveis casais. O Google e a IBM estão infestados de Numerati.

ÉPOCA – Eles são perigosos?
Baker – É preciso ter cuidado com eles. Têm um poder sem precedentes para desvendar nossos segredos. E cometem erros o tempo todo – porque lidam com estatística e probabilidade. O poder deles sobre sua vida depende de quanta informação particular você quer deixar nas mãos de uma única empresa. Você pode preferir dividir seu relacionamento on-line entre várias empresas.

ÉPOCA – Todos os meses, o Yahoo reúne 110 bilhões de dados sobre seus usuários. Quais são os números do Google?
Baker – O Google tem menos dados de seus usuários que o Yahoo, pois não os conhece tão bem. O Yahoo tem mais serviços com registro obrigatório. É uma das razões por que o Google criou o Gmail, para nos conhecer melhor.

ÉPOCA – Há quem não veja problema no uso dessas informações para fins publicitários. Afinal, vivemos em democracias. Mas isso pode mudar, não?
Baker – Exatamente. Logo após os ataques de 11 de setembro de 2001, o governo Bush começou a se comportar cada vez menos como um governo democrata, assumindo poderes excepcionais. Se a Casa Branca achasse que obter acesso aos dados do Google ajudaria a capturar terroristas, ela o faria. Aí, a questão seria outra: não temos razão para suspeitar que o Peter é um terrorista, mas parece que ele está sonegando impostos. Uma vez que o governo tenha acesso a nossos dados, poderá usá-los para qualquer fim.

ÉPOCA
– Quais são as chances de alguém estar nos observando a cada tecla que digitamos no computador do trabalho?
Baker – Pequenas. A maioria das empresas ainda não tem esse grau de sofisticação. Só grandes grupos como a IBM, a Microsoft e o Google começam a observar o comportamento de seus funcionários de modo mais sofisticado. Não quer dizer que os programas para filtrar o uso da internet, para descobrir se os funcionários olham sites pornográficos ou enviam dados confidenciais, não estejam disseminados. Para mim, é interessante notar que as mesmas ferramentas usadas para nos monitorar podem ser empregadas para entender nosso comportamento e otimizar nossa produtividade.

ÉPOCA
– Dê um exemplo.
Baker – A Knoa Software tem um programa para saber como as pessoas usam os diversos programas nas empresas. O objetivo é tornar os empregados mais produtivos. Suponha que alguém não esteja usando um programa caríssimo que a empresa comprou, mas o funcionário a seu lado está. Ao descobrir quem não usa o programa, a empresa pode oferecer treinamento – ou decidir demiti-lo. (Matéria transcrita do site da revista Época)