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CARTAS DE LONDRES: CARTAS DE UM GRINGO, de RODRIGO LEBRUN

PUBLICADO ORIGINALMENTE NO BLOG DO NOBLAT EM 23/11/2016



Estou no Brasil, vim para o aniversário do meu pai. Era pra ser uma surpresa para ele, mas acabou sendo uma para mim.

A São Paulo cosmopolita não me impressiona mais. Tive a oportunidade de visitar muitas outras cidades pelo mundo e ver a estética e a atitude de Shopping Center que se diz exclusiva, mas que o é apenas no preço. Vejo isso como um lado pasteurizado da globalização. Mesmo a idéia do ‘cool’ é emprestada de outros lugares adaptadas de uma forma estranha, como o inglês embromation da vida real.

Para quem leu minha primeira carta, tenho andado muito em Londres, seria um desperdício não fazê-lo por aqui. Queimei com o sol, queimei calorias e acabei vivenciando uma cidade que, mesmo sem o ar-condicionado, também passa a ser um lugar sem os engarrafamentos, sem o atraso e sem o aperto; uma São Paulo de feriados, só que todos os dias.

O que faz esse lugar tão especial é a confluência de povos, sotaques, sabores e visões. São Paulo é um lugar que desafia os sentidos. Se São Paulo fosse um quadro, não seria renascentista, mas expressionista abstrato. O caos gera texturas que talvez não agradem a todos, mas que são muito interessantes. É o contraste do concreto de Niemeyer com o verde de Otávio Augusto Teixeira Mendes, do vidro que reflete o que a cidade quer esconder, do asfalto que derrete e das seringueiras que parecem vir de outro planeta.


Não quero romantizar a pobreza que vi, pois reconheço o sofrimento daqueles que a cidade mastiga e cospe diariamente.

Me surpreendi com preço de quem paga com estresse as poucas horas de hedonismo nos bares e restaurantes da cidade. Se São Paulo tem aspirações de metrópole global, essa realidade já chegou nas contas, com valores que me fazem lembrar de um lado de Londres que eu não gosto.

Fiquei impressionado com a quantidade de espaço inutilizado em lugares como a avenida Sumaré numa cidade onde o metro quadrado está ficando cada vez mais caro. Se é uma bolha, dever ser uma de concreto.

Vi e ouvi a São Paulo que está na rua, dos eventos dos finais de semana, dos ambulantes vendendo na Paulista, do vão do MASP que não é mais vão por estar cheio o tempo todo. Da praça Roosevelt, com milhares de coisa ao mesmo tempo. É como assistir a internet ao vivo.

Vi a arte de graça no CCBB e na Bienal, que não tem nomes pomposos como Tate ou Hayward Gallery, mas que mostram alguns dos trabalhos que vi nesses lugares.

Sempre disse aos meus amigos gringos que voltaria para São Paulo todos os finais de semana se pudesse, se continuar desse jeito, incluirei as quintas e sextas.


CINCO DIAS EM SÃO PAULO: IMPRESSÕES, ATRAÇÕES, DICAS & PASSEIOS

"Quando não se tem dinheiro pra ir a NY, cabe uma visita a SP." 
Jacques B. Gros


A São Paulo já fui dezenas, senão mais de uma centena de vezes quando criança, adolescente e depois adulto para visitar vovó e titia, a serviço pela RFFSA (foi lá a implantação pioneira do SIAPES), para fazer a "corte" à minha atual esposa, ao casamento do meu irmão que se tornou paulistano. Mas desta vez quis ir diferente. Quis ir a Sampa como se vai a Paris ou Londres, como turista, ficando em hotel, cumprindo uma programação de visitas a pontos turísticos. Como faço quando viajo à Europa, pesquisamos as atrações na Internet: endereços, horários. Procurei metrôs mais próximos (a fama dos engarrafamentos paulistanos me levou a evitar deslocamentos por terra) e, quando não tão próximos assim, estudei no Google Maps (usando por vezes o Street View) rotas a pé, pois é caminhando que se conhece e aprecia realmente uma cidade. Do rio a Sampa a clássica viagem de ônibus dos velhos tempos. Como faço na Europa nos últimos anos, hotel budget da Rede Accor perto de uma estação de metrô: Ibis Budget, Rua da Consolação, 2303 ("Excelente relação custo/benefício, hotel magnificamente situado na região da Consolação/Paulista e ainda por cima perto do metrô, o que numa cidade famosa pelos engarrafamentos como Sampa é fundamental!", escrevi no Trip Advisor). Seis noites a 1054 reais = 176 reais/dia = 51 euros/dia, igual na Europa. 


RESUMO DA PROGRAMAÇÃO

Terça-feira, 7 de julho: VIAGEM

Quarta-feira, 8 de julho
·    Museu da Imigração - Rua Visconde de Parnaíba, 1316 - pertinho metrô Brás - 9 às 17 - 6 reais
·    Museu da Casa Guilherme de Almeida - R. Macapá, 187 - Perdizes - 1,2 km do metrô Hospital das Clínicas  10 às 18 - ver também Santuário na Av. Dr. Arnaldo, 1832

Quinta-feira, 9 de julho
·    Teatro Municipal (metrô República) - 11h, 15h e 17h (inscrições às 10 horas)
·  Edifício Banespa - Rua João Brícola, 24 - 10h às 15h (estava fechado para manutenções)
·     Terraço Itália - Avenida Ipiranga, 344 - visita grátis 15h às 16h
·  Museu Histórico da Imigração Japonesa - Rua São Joaquim, 381 - Liberdade (metrô São Joaquim) - 13:30h - 17:30h

Sexta-feira, 10 de julho
·     Cemitério da Consolação - 9.30 - Estação Paulista (visita previamente agendada pela Internet)
·       MASP
·       Casa das Rosas - Av. Paulista, 37 - 10-22h

Sábado
·      Beco do Batman - Rua Gonçalo Afonso e Rua Medeiros de Albuquerque – Vila Madalena - metrô Vila Madalena - (andar 1,5 km: Rua João Moura - Rua Abegoaria - Rua Gerard David - Rua Medeiros de Albuquerque - ver Google Maps); dali ir a pé à
·       Feira Benedito Calixto (sábado de 9 às 19h)

Domingo
·     Fundação Ema Klabin - Rua Portugal, 43 - Jardim Europa - tel. 3062 5245 (ligar para saber se está aberto; quando fomos, não estava) - 3,2 km do metrô Trianon Masp - descer Alameda Casa Branca, pegar Rua Bolívia à direita, atravessar Praça América, prosseguir pela Rua Peru, pegar a Rua Colômbia à esquerda até a Rua Portugal (pertinho fica o Museu da Imagem e do Som e na Rua Colômbia passa o ônibus 179 para o Anhangabaú e outros locais) - 14 às 17
·      Igreja N.S. do Brasil - Praça de mesmo nome, pertinho da Fundação.

Segunda-feira - VOLTA

DIÁRIO DA VIAGEM
Quarta-feira, 8 de julho

Teatro Municipal
O Teatro Municipal é mais ou menos da mesma época do carioca (1911 versus 1909 e, como este e tantos outros mundo afora, inspira-se na ópera Garnier, embora o fausto da casa de ópera parisiense seja inigualável. Enquanto o Municipal carioca foi construído como parte da modernização da Capital Federal, o paulistano foi bancado pelos barões do café e em termos de luxo e esplendor não fica muito atrás. Destaque para o salão nobre, os elementos art nouveau inexistentes na versão carioca e o estofamento vermelho na plateia e balcão nobre que lhe dá um aspecto semelhante ao de Paris.


Estofamento vermelho

Banespa

O Edifício Banespa está com as visitas ao terraço temporariamente suspensa devido à manutenção, mas valeu a pena a ida pelas fotos embaixo sob a garoa paulista (que chove mas não molha, em momento algum sentimos precisão de abrir o guarda-chuva) e por uma grata descoberta: a tradicional doçaria portuguesa Casa Mathilde que apregoa existir desde 1850, mas que na verdade surgiu em terras portuguesas e não sei como nem quando veio parar em Sampa (chegando em casa procurarei na Internet).




Gosto de dizer que Sampa é uma cidade pujante. Um formigueiro humano. Da banca de jornais, passando pelo sanduíche de mortadela do Mercado Municipal às estações de metrô, tudo é descomunal. Além disso, os balconistas não ficam de papo nem atendem com ar de preguiça (como sói acontecer no Rio), os ônibus andam na sua pista e não ficam ziguezagueando. Os carros param na faixa para os pedestres atravessarem, o espírito é realmente de trabalho e ganhar dinheiro e comprar seu carro (a demagogia e populismo petistas aqui não têm vez).


Em todas as metrópoles o visitante procura a visão do alto: do Corcovado, da Torre Eiffel, da Saint Paul. Com o Banespão fechado, resta o Terraço Itália. Restaurante caro e sofisticado, mas das 15 às 16 o terraço e aberto para visitas gratuitas dos menos abonados. Lá fomos nós. Impressionante o mar de prédios que se descortina do alto (42o andar). Prédios por todos os lados. Uma única área verde maior. A vida urbana levada ao paroxismo.



O Museu Histórico da Imigração Japonesa no Brasil, com três andares de exposição no 7o, 8o e 9o andares de um prédio, dá uma ideia (para quem estiver interessado) da imigração japonesa para nossas terras desde seus primórdios, no final do século XIX, que tantas contribuições trouxe a agricultura, fruticultura, floricultura e outras culturas (bem como gastronomia) de nosso país. Afinal São Paulo abriga a segunda maior colônia japonesa fora do Japão, superada apenas por San Francisco (ouvi dizer certa vez, se estou errado me corrijam). Fim de tarde, jantar chinês no bairro japonês da Liberdade, o clássico frango xadrez com amendoins e legumes.

Clássico da culinária chinesa

Quinta-feira, 9 de julho

Feriado municipal, dia da Revolução Constitucionalista de 1932. Primeira parada: Estação Brás, rumo ao Museu da Imigração. Pega-se a saída do metrô que dá para a via férrea (Rua Domingos Paiva - ver Google Maps), pega-se a direita e anda-se uns cem metros, atravessa-se uma velha passarela de ferro sobre a linha do trem e do lado de lá surge o Museu, instalado na antiga Hospedaria de Imigrantes do Brás, construída de 1886 a 1888, onde os recém-chegados eram recebidos e acolhidos antes de prosseguirem rumo aos seus novos locais de trabalho (geralmente vinham com uma carta de chamada de um parente já aqui radicado ou com um contrato de trabalho na lavoura, cafeeira muitas vezes. (NOTA: Aos sábados, domingos e em alguns feriados, de hora em hora entre 11 e 16, pode-se fazer por 15 ou 20 reais o passeio no Trem Cultural dos Imigrantes, pertinho do Museu, mas que nada tem a ver com ele.) 


Museu da Imigração

O Museu, ao contrário do da Imigração Japonesa, tradicional, segue um conceito interativo, multimídia, com projeções, instalações, depoimentos, vídeos (como o da língua portuguesa, que visitamos em viagem anterior). A imigração para o Brasil, conquanto não atingisse as dimensões daquela para os EUA (3,4 milhões versus 35 milhões no período 1820-1914), foi importante para o país, contribuindo para nossa formação cultural, culinária, paisagem humana, sem falar na criação de bairros étnicos inteiros, ou mesmo cidades e regiões.

 Exposição "Cartas de Chamada de Atenção" com depoimentos de imigrantes africanos recentes

Após um café da manhã no Starbucks — ao sair de manhã a gente come uma barrinha de cereais e só toma o café da manhã na hora do almoço, come uma guloseima no meio da tarde e de noite vai jantar  nossa próxima parada foi a estação de metrô Hospital das Clínicas, de onde caminhamos pouco mais de um km até o Museu Casa Guilherme de Almeida (Rua Macapá, 187, Perdizes: siga pela Av. Dr. Arnaldo em frente ao cemitério, dobre à direita na Rua Cardoso de Almeida, depois pegue a Macapá - ver Google Maps). Feliz coincidência visitar, no dia da Revolução Constitucionalista, a casa de um personagem que aderiu com tanto entusiasmo a esse movimento paulista pela volta à normalidade constitucional. 


Museu Casa Guilherme de Almeida

De Guilherme eu já sabia que traduziu uma seleção das Flores do Mal (livro que possuo) e o Max und Moritz de Wilhelm Busch, mas na visita guiada à sua casa nos surpreendemos com sua profusa atuação como jornalista, intelectual e ativista pro-Sampa (é dele uma tradução do clássico If de Kipling). Com a morte de Guilherme a viúva, Baby, vendeu a casa, moderna, de 1956, ao Estado, o que proporcionou a nós, a plebe ignara, a rara oportunidade de conhecer uma bela residência de um bairro nobre paulistano, pois nas outras casas de mesmo naipe ninguém nos convidará a entrar. (Sobre sua casa o autor escreveu a deliciosa crônica "A Casa da Colina" que você pode ler neste blog clicando aqui.)

De lá descemos a Rua Almirante Pereira Guimarães e Avenida Arnolfo Azevedo (ver Google Maps) até o Pacaembu, quase sem ver vivalma nas ruas pois paulistano só anda de carro, e em frente ao velho estádio - serendipity - aficionados expunham carros vintage, entre eles muitos Fuscas. 


Dodge Charger R/T em frente ao Pacaembu

No estádio fica o Museu do Futebol, que não visitamos, mas entrei um pouquinho dentro do estádio. Depois subimos uma das ruas colina acima rumo à Angélica, caminho que eu fazia amiúde na adolescência quando visitava a vovó, que morava na Angélica, e ia passear no Pacaembu.

Pacaembu

Descanso no hotel e sanduíche imenso na Bella Paulista (peça só um, é enorme, dá para dois) e um rolê pela vida noturna da Augusta e Paulista.

Sexta-feira, 10 de julho

As nove e meia eu havia agendado uma visita guiada ao Cemitério da Consolação, mas ao chegarmos na Administração a funcionária fez cara de espanto e depois saiu-se com a história de que a pessoa que nos mostraria o cemitério teve um "problema de família muito sério" e não veio trabalhar, embora o fato de que ontem foi feriado e hoje é sexta me fez desconfiar de que o motivo não foi bem esse. Mas encontramos o grupo do Sesc que estava ontem na casa do Guilherme de Almeida e pegamos carona no final da visita guiada deles. Grandes personagens da política e intelectualidade paulistas repousam lá, e a administração fornece um guia de visitação, algo que o São João Batista até hoje não providenciou. Ademais, a arte funerária transforma os cemitérios dos ricos e afamados em museus a céu aberto. E a lembrança de que pulvis es et in pulverem reverteris nos torna mais humildes e nos dá uma dimensão mais real da vida (que deve, portanto, ser bem aproveitada).



Arte funerária

À tarde o MASP. Vir a São Paulo e não ir ao MASP e como ir ao Rio e não ver a praia. Três anos atrás eu escrevera sobre esse museu: "inacreditável, nível de museu europeu, não existe nada que se lhe assemelhe ao sul do Equador." Desta vez estavam expostas obras evocativas de Paris, impressionistas na maioria, e um panorama da pintura italiana, com clássicos do acervo do MASP como a Ressurreição de Rafael e a Madona de Bellini.


A virgem com o Menino de pé abraçando a mãe de Giovanni Bellini (1480-90)

No fim de tarde a Casa das Rosas, uma das poucas casas que restaram na avenida paulista, tombada e transformada em Centro Cultural. Fica aberta até as 22, mas hoje excepcionalmente fechou as seis pois abrigaria um evento, de modo que vimos correndo e não deu para fazer uma visita guiada.

Casa Das Rosas ao anoitecer
Sábado, 11 de julho

Dia de chuva (que com o passar do dia foi amainando). Pegamos o metrô até Vila Madalena e depois fomos descendo (Rua João Moura - Rua Abegoaria - Rua Gerard David - Rua Medeiros de Albuquerque - ver Google Maps) até o Beco do Batman, uma ruela com muros e casas grafitados em alto estilo. 


Beco do Batman

De lá descemos (tudo a pé) até o Cemitério São Paulo, o contornamos à esquerda e fomos até a Feira da Praça Benedito Calixto, uma mescla de feira de artesanatos, brechó e feira de antiguidades tipo a da Praça XV carioca, com discos, câmeras fotográficas antigas, canetas, bibelôs e bugigangas em geral, além de uma praça de alimentação. De lá caminhamos pela Cardeal Arcoverde até a Estação Clínicas, mas em vez de pegar o metrô seguimos a Dr. Arnaldo à esquerda até o Santuário de Nossa Senhora de Fátima, onde a monumentalidade do templo, um noviço tomando os votos de franciscano secular e o hino a Nossa Senhora regaram nossa um tanto mirrada sementinha da fé  embora, como racionalista, eu tenha fortes prevenções à religião constituída, com seu histórico de fanatismo e perseguições, por outro lado não comungo da visão materialista dos cientistas hodiernos e creio na existência do mistério sob o véu.


Igreja do Calvário, em frente à Praça Benedito Calixto

Paróquia Nossa Senhora de Fátima

Tentamos a visita guiada na Casa das Rosas, mas só agendando antes (telefone 11-3285 6986; educativo@casadasrosas.org.br), de modo que Mi (paulistana) me levou para conhecer o "lado B" de Sampa, num percurso de ônibus: o velho Brás, com que eu já havia travado conhecimento na visita ao Museu da Imigração, o bairro (pouco arborizado, meio sujo, maltratado) com tradição de receber os imigrantes, em cujo coração a Igreja Universal plantou um colosso (valorizando e revitalizando uma área de velhas fábricas falidas, abandonadas): o Templo de Salomão, construção descomunal, com altíssimas colunas, que pretende reproduzir o antigo templo dos judeus, destruído pelos babilônios, e que até do embaixador de Israel extraiu palavras de admiração (como consta na Wikipedia).


Templo de Salomão, um colosso no Brás

Depois, ainda no Brás, percorremos todo um "bairro" boliviano que, com sua comida de rua preparada em grandes tachos cheio de óleo escuro, lembrou minhas aventuras pelo Altiplano nos anos 80. A atividade dos bolivianos aqui gira em torno de pequenas confecções caseiras que suprem os mercados populares, presumo. Depois percorremos um trecho da avenida onde imigrantes africanos (sobre os quais vimos uma mostra no Museu da imigração) mascateiam todo tipo de roupas. Interessante (e isto já observáramos em Paris) como os nossos negros, após séculos de miscigenação, já não se parecem com os negros africanos. Reabastecemos nossos organismos num restaurante de massas chinesas que parece relativamente novo, recomendadíssimo pelas seções de restaurantes das revistas, que produz suas próprias massas numa cozinha visível atrás de um enorme vidro e que serve porções generosíssimas e deliciosas. De bater palmas de pé. (Trata-se do Rong He, Rua da Glória, 622, Liberdade.)


Yakisoba (vem com uma tesoura para você cortar os macarrões)

Domingo, 12 de julho

Longa caminhada (uns 4 km) de nosso hotel até a Fundação Ema Klabin, no Jardim América. Gostamos muito da casa da irmã, Eva Klabin, aqui no Rio, na Lagoa, com seus quadros, estatuetas, artes decorativas, jardim e achamos que a casa de sua irmã paulistana deveria ser ainda mais suntuosa (e vista de fora é maior mesmo trajeto: Avenida Paulista, após o Parque Trianon pegar à direita a Alameda Casa Branca, depois a Rua Bolívia à direita, atravessar a Praça América, prosseguir pela Rua Peru, pegar a Rua Colômbia à esquerda até a Rua Portugal - veja no Google Maps). 


São Paulo guarda a porta da Igreja de N.S. do Brasil, com fachada barroca 
Quase chegando lá, vale a pena dar uma entrada na Igreja de Nossa Senhora do Brasil, talvez a mais bonita da cidade, construída na década de 1940, com fachada copiando as igrejas barrocas mineiras, com a peculiaridade das balaustradas das torres lembrando minaretes, capelas e altares profusamente decoradas com azulejos azul cobalto como nos templos portugueses, e afrescos no teto da nave copiando os da Capela Sistina, além do afresco do céu estrelado sobre o altar-mor. 



Teto imitando a Capela Sistina

Em frente à casa de Ema aos domingos ocorre uma feira de antiguidades (de verdade, não bugigangas) e tapetes persas. Quanto à casa propriamente dita, estava fechada por alguns dias para conservação, devendo reabrir logo. Fica para a próxima. Tarde livre, perambulando pela Paulista (com leitura de revistas na enorme Livraria Cultura no Conjunto Nacional), a "orla" paulistana, com seus (aos domingos) ciclistas, skatistas, artistas de rua, hippies vendendo artesanato, jovens de rostos lisos ainda não marcados pelos vincos da vida, casais de namorados (alguns do mesmo sexo), gente descolada, gente comum etc.

À noite, repetição do yakisoba na mesma casa de massas chinesas de ontem.

E para não dizerem que só falei de flores: há um excesso de pedintes e moradores de rua por toda Sampa, os faróis de travessia de pedestres levam uma eternidade para abrir (alguns requerem que se aperte um botão que poucos lembram de apertar), a estação Paulista fica na Consolação e a estação Consolação, na Paulista, e  supremo pecado de São Paulo  a praia mais próxima está a sessenta quilômetros de distância.


Antiga mansão de 1905 do barão do café Joaquim Franco de Mello, uma das poucas remanescentes na Avenida Paulista. Para mais informações sobre as velhas mansões da Paulista clique aqui.

NOTA: Mais fotos da viagem a Sampa você encontra aqui. Para outras postagens sobre São Paulo clique no label abaixo.

A CASA DA COLINA, de GUILHERME DE ALMEIDA

Texto gentilmente fornecido por Sidnei Vieira, do Museu Casa Guilherme de Almeida. Para ler sobre minha viagem a Sampa e visita à casa, clique em São Paulo no menu do cabeçalho ou da barra lateral direita. Fotos do editor do blog.

Museu Casa Guilherme de Almeida - Rua Macapá, 187 - Perdizes - a 1,2 km da estação de metrô Hospital das Clínicas

Que ideia a sua, ir morar naquele fim de mundo!

Era o que me diziam os amigos quando, há doze anos, construí a minha casa nesta colina, a oeste do vale do Pacaembu.

Fim de mundo?... Podia mesmo parecer isso. Rua curva, corcovada, de um só quarteirão e com três casas somente (a minha foi a quarta) separadas por terrenos sem muro nem cerca e eriçados de mato hirsuto e anônimo — era apenas uma estrada rústica. A nota agreste: ponto alto e deserto, exposto a descabeladas ventanias que assobiavam noite e dia; e, numa árida escarpa, a uns quarenta metros dos meus muros, o ninho de todos os gaviões que erguiam voo — pinhé! pinhé! — e iam, lá longe, fisgar os pardais da Praça da República. A nota fúnebre: no jardim da casa fronteira, uma lâmpada triste, única iluminação da rua, pendia de um “L” invertido feito de fortes vigas de peroba que formavam exatamente uma forca; e atrás, em pano-de-fundo, parte pobre de um cemitério, uma encosta semeada de túmulos e cruzes. A nota gloriosa: no horizonte, ao norte, fechando a perspectiva da rua, o recorte pontudo do Jaraguá, o “Senhor do Plaino”, primeira numeração de ouro no Brasil; e, sobrelevando o apinhado central, a sudeste, o Banco do Estado, ascensional, alvo obus de louça, com a sua ogiva de luz fluorescente nas noites caladas. A nota simbólica: com o Estádio Municipal, que é toda a alegria da Vida, de um lado, e, de outro, a necrópole do Araçá, que é toda a tristeza da Morte, assim, entre os dois extremos da contingência humana, a minha rua ia indo filosófica, indiferentemente. A nota pessoal: aí assentei a minha casa, porque o lugar era tão alto e tão sozinho, que eu nem precisava erguer os olhos para olhar o céu, nem baixar o pensamento para pensar em mim.

Vista da casa

E a minha casa me fez fazer, entre os meus “Dez Versos para Casa da Colina”, este verso:

“A estrada sobe, para, olha um instante, e desce”...

Ora, eu subi, parei, olhei um instante, e fiquei. Fiquei vivendo a vida daquele suposto fim de mundo, que era de fato um começo. Começo de um pequeno mundo que eu vi, dia a dia, ir-se fazendo em torno de mim. Todo aquele caos primitivo foi-me, pouco a pouco, encantando. Quando das grandes chuvas, o lamaçal, escorrendo pela rampa, fazia atolar-se ali embaixo, nas valetas de confluência, automóveis e guinchos. Os “chauffeurs” de praça deixavam a gente na esquina, recusando-se a subir, com medo da derrapagem. O muro do cemitério ruiu, certa noite, minado pela enxurrada a gorgolejar, levando ladeira abaixo ossadas humanas...


Dentro da casa

Assim mesmo, mais duas ou três casas ergueram-se, bonitas e corajosas, na minha estrada. E, por uma bela manhã do ano de 1950, surgiram autoniveladoras, rolos compressores, caminhões despejando pedra britada e tambores de piche; aplainou-se o leito carroçável; assentaram-se os meios-fios; e, de ponta a ponta, desdobrou-se pela estrada uma grossa, negra e lisa passadeira de borracha.

Asfaltada a rua, multiplicaram-se logo, nos terrenos baldios, as tabuletas com uma designação de metragem e um número de telefone. E foram desaparecendo as tabuletas e aparecendo uns homens que abatiam o mato e deitavam-lhe fogo. Outros, com caminhões descarregando enormes tábuas servidas... Mais outros, construindo com tijolos usados uma espécie de maloca, que tinha um fogareiro dentro, fumegando. Outros mais, que nivelavam o terreno, esticavam barbantes presos a pequenas estacas, desenhando no chão um problema geométrico. E ainda outros, trazendo pedras, tijolos, telhas, cal, cimento, areia e cerâmica, e abrindo fossas retilíneas das quais subiam, verticais, ao mando de um fio de prumo, puras, viçosas, claras, as casas novas. Não tardou muito, a Light plantava, ao longo dos passeios cimentados e gramados, oito postes de concreto: e na ponta dos seus braços de cano de ferro, acenderam-se, numa só noite, as oito lâmpadas. Foi a festa da rua.

Começou a haver, então, criançada batendo bola, empinando papagaios, pedalando bicicletas, riscando a giz no asfalto a “amarelinha”. Carros estacionados a frente das casas. Gente conversando nos portões. A buzina do tripeiro e o pregão do fruteiro. Domingos de “short”. Corretores e interessados, que chegam de automóvel, param junto aos poucos lotes restantes à venda, farejam, tomam nota e...

Que idéia, a minha, vir morar tão perto do centro!

Ela está ali mesmo, a Cidade Desumana, a seis minutos de auto e quinze de ônibus. Ali mesmo, onde a joalheria dos cartazes-luminosos enfeita as noites turbulentas. Ali mesmo... Que ideia a minha!

Mas, não. Eis o noturno da minha mansarda encarapitada nesta colina, isolada na altura. Corro os caixilhos da janela. E ouço São Paulo. O bojo acústico do Pacaembu está aí embaixo. Ausculto-o. Nele reboa e chega-me aos ouvidos — como se escuta nas conchas um oco marulho de distante oceano — o surdo murmúrio da urbs absurda. E ela me parece tão longe, tão longe, que isto aqui, graças a Deus, é mesmo um fim de mundo.



De Guilherme de Almeida leia também neste blog ESCADA DE MINHA MANSARDA.

UM CARIOCA EM SÃO PAULO

MASP

O editor deste blog morre de amores pelo Rio de Janeiro, mas sente uma admiração profunda por Sampa. Tão perto (uma hora de avião, seis horas pela Dutra) mas tão diferente (como são diferentes Munique e Frankfurt, Roma e Milão, etc.) De Sampa a mídia mostra só as enchentes periódicas e megaengarrafamentos diários (assim como do Rio só mostra guerras do tráfico e balas perdidas), mas existe muito mais tanto lá quanto cá. 


Estação da Luz

Em dois dias de visita a Sampa (por ocasião do casamento do meu irmão paulistano) vi (usando tão somente o metrô e as pernas, que é como gosto de conhecer uma cidade): a , uma verdadeira catedral gótica "medieval", o Centro em geral ainda com vários prédios do início do séc. XX, o Pátio do Colégio onde a cidade começou, o Mercado Municipal onde se come o famoso sanduíche de mortadela e o pastel de bacalhau, a 25 de Março, espécie de Saara paulistano, Museu da Língua Portuguesa (de onde a gente sai orgulhoso de nossa língua), Pinacoteca, MASP (inacreditável, nível de museu europeu, não existe nada que se lhe assemelhe ao sul do Equador), Avenida Paulista, Livraria Cultura (a maior do país, quiçá do mundo), Bixiga, Liberdade...... Vale a pena fazer a viagem de ônibus até lá. Depois que você entra no estado de São Paulo, é como se tivesse adentrado um primeiro mundo brasileiro: tudo é pujança, progresso, riqueza (com uma ou outra mazela, que o primeiro mundo também tem).


Pinacoteca do Estado

Edifício Montreal de Oscar Niemeyer inaugurado no ano do quarto centenário da cidade

Viaduto Santa Ifigênia

Rua 25 de Março

Galeria Pajé

Mercado Municipal

Sanduíche de mortadela no Mercado Municipal

Casario atrás do Mercado Municipal

Pateo do Collegio

Solar da Marquesa de Santos

Casa da Imagem

Edifício do antigo Banespa visto da Rua 15 de Novembro

Edifício José Fakhoury

Busto de Adoniram Barbosa na Praça Dom Orione, no Bixiga

São José e escadaria (Bixiga)

Igreja de Nossa Senhora Achiropita

Bar no Bixiga

Palmeira solitária (Rua Itapeva)

Crônica escrita em abril de 2012. Leia mais sobre Sampa clicando no label "São Paulo " abaixo.