Mostrando postagens com marcador Deus. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Deus. Mostrar todas as postagens

DIFERENÇA ENTRE DEÍSTA, TEÍSTA, ATEÍSTA, AGNÓSTICO E GNÓSTICO



Em relação à questão da existência de Deus, existem cinco posições possíveis. O deísta acredita que se chega a Deus pela razão, pelo argumento lógico (as clássicas "provas da existência de Deus"). O teísta acredita no Criador com base na fé. O ateísta ou ateu nega sua existência, preferindo acreditar nos mecanismos naturais (Big Bang, seleção natural). O agnóstico reconhece nossa limitação cognitiva para decifrar o enigma e fica "em cima do muro", não nega nem afirma a existência do Criador, muito pelo contrário. E o gnóstico acredita que só se chega a Deus por uma experiência pessoal, mística. 

Sou um agnóstico, mas simpatizo com o deísmo e gnosticismo, jamais com o ateísmo. Para mais postagens sobre este tema clique no label "Deus" abaixo. E vejam meu vídeo sobre a Bíblia Sagrada (Antigo Testamento):


MAS REZAR, É PRECISO, conto de I. L. PERETZ


Peretz
é um dos três grandes escritores clássicos da língua iídiche, junto com Scholem Aleihem e Mêndele. Para quem não sabe, o iídiche foi um dialeto do alemão, grafado com caracteres hebraicos, falado pelos judeus da Europa central e oriental e que, com a adoção do hebraico como língua oficial de Israel e o extermínio dos milhões de judeus do leste europeu durante a barbárie nazista, tornou-se uma língua praticamente morta. Mas sua literatura foi muito forte, e no século XX seu maior expoente foi o ganhador do Prêmio Nobel Isaac Bashevis Singer, com várias obras traduzidas ao português, algumas por Lya Luft.

Segundo J. Guinsburg, organizador da antologia Contos de I. L. Peretz (Editora Perspectiva), Peretz “pode ser considerado como o verdadeiro modernizador da literatura iídiche. Não só porque, através de sua pena, ela ecoou conscientemente o tema social e socialista ou porque se abriu às estéticas literárias da Europa. Romântico, realista, simbolista, impressionista, admirador de Heine, Hamsun, Ibsen, Tchekhov, Górki e tantos outros poloneses, franceses, alemães, foi ele sobretudo o homem que instituiu o indivíduo, a subjetividade, a emoção pessoal, a análise psicológica e mesmo intimista, em uma literatura que até então não fora muito além do tipo, do esboço coletivo, da análise de costumes, da redução do real ao objetivo, ao externo.”

Da coletânea de Guinsburg selecionei para reproduzir neste blog um conto curtíssimo (uma crônica, mais propriamente) que me lembra uma observação feita certa vez por meu pai quando estávamos na sinagoga. Ele disse algo como (as palavras exatas não recordo): “Ainda bem que as rezas são ditas em hebraico, assim a gente não entende todo seu absurdo.” Aí explicou que achava absurdo como as rezas ficavam “bajulando” Deus, chamando-o de Todo-Poderoso, misericordioso, etc. quando na verdade o ser humano está largado à própria sorte  (pelo menos é o que mostra a triste sina do povo judeu). Pois não é que o texto de Peretz bate na mesma tecla? Ei-lo:


Berel, o alfaiate, afinal conseguiu que o filho médico regressasse a casa. Iria praticar na cidade natal. Doentes não faltariam!

O filho chegou na sexta-feira. Sábado o pai quis que ele o acompanhasse à sinagoga.

– Não irei, papai! – disse o médico.
– O quê? Envergonhas-te, por acaso, de andar em minha companhia?
– Deus me livre! Tens cada ideia, pai...
– E pensas então que um médico não tem por que louvar a Deus, nem o que lhe pedir?...
– Não é isso, papai...
– O quê, então? Dize-me. Estás doente? Santo Deus!
– Não é isso, papai! Mas eu não quero ir!
– Gostaria de saber por quê.
– Se queres, seja! Senta-te, e eu te explicarei.

O velho largou o tales e sentou-se.

– Bem... Imagina, papai, que és tão rico, tão rico que alguns rubros não te façam diferença.

O pai suspirou. Para fazer do filho um médico, penhorara tudo o que possuía. Tivera uma casa, lá se fora. Estava sem serviço, pois vendera as máquinas de costura.

– E então? – disse ele, suspirando profundamente.
– Bem. És rico, e em frente à tua casa mora uma viúva. Uma viúva fraca, enferma, e por cima carregada de filhos. Tens de ajudá-la.
– Naturalmente que eu a ajudaria!
– Aguardarias, por acaso, que a viúva te suplicasse, desmaiasse a teus pés e derramasse rios de lágrimas?
– Deus me livre! Para quê? Se eu sei...
– E Deus será pior ou melhor do que tu?
– O que dizes? Mas que pergunta!
– Pois bem! – triunfou o filho. – Se Deus é melhor, ele sabe por si próprio das necessidades de uma pobre alma fraca e enferma. E não há de esperar por suas súplicas...
– Mas...
– Louvar a Deus, queres dizer?
– Sim...
– Bem. O que dirias, papai, se alguém se prostrasse diante de ti, elogiando-te aos teus próprios olhos: Excelente e hábil alfaiate! Honesto alfaiate! Mas que alfaiate admirável! És um autêntico alfaiate! Um alfaiate incomparável!
– Ah! – disse o velho com impaciência. – Dá ânsia de vômito.
– E sabes por quê? Porque não és nenhum tolo, para te comprazeres com elogios fúteis. E tu és apenas um ser humano. Uma débil criatura humana, a quem os insultos podem prejudicar e os louvores ajudar...
– Mas...
– Não há mas! Não há mas, papai! Deus é mais perspicaz do que nós. Pensas que precisa de nossos louvores? Ele não precisa de ouvir, três vezes ao dia, a mesma ladainha: Hábil alfaiate, excelente alfaiate!
– O que dizes?
– Seja: Deus é hábil, Deus é bom, criou Ele o céu e a terra... Não saberá ele disso melhor do que ninguém?

O velho mergulhou em profunda reflexão. Depois exclamou, de repente:

– Tudo está certo, meu filho! Mas rezar, é preciso!

DIÁLOGO ENTRE ALFA E BETA, de IVO KORYTOWSKI


— Quem foi Jesus Cristo? — pergunta Alfa.

— Jesus Cristo? Acreditava-se que fosse filho de Deus — responde Beta.

— E quem era Deus?

— Deus? Diziam que era o Criador do mundo: Fiat lux, e a luz se fez.

— Mas não está cientificamente provado que o mundo surgiu do nada e ao nada retornará.

— Está, Beta, mas naquela época o homem não conseguia conceber o nada.

— Então naquela época não havia o zero.

— O zero havia, sim, desde muito tempo. Desde os árabes.

— Quem eram os árabes?

— Um povo do deserto, como os judeus.

— Quem eram os judeus? E o que era povo?

— Uma pergunta de cada vez. Aliás, se você lesse mais, não faria tantas perguntas.

— Posso não saber essas coisas, mas sei qualquer índice financeiro, é só perguntar.

— É verdade... Povo eram pessoas que falavam a mesma língua e tinham hábitos idênticos.

— Então a humanidade é um povo?

— Isso foi no tempo em que se falavam muitas línguas.

— Você não me disse quem eram esses judeus.

— Um povo muito antigo. Caíram na besteira de desafiar a potência da época, Roma.

— Desafiar uma potência sempre foi uma besteira...

— Nem sempre. Os vietnamitas desafiaram os norte-americanos e venceram. Mas antes que você me pergunte quem foram os vietnamitas e os norte-americanos, deixe-me terminar: desafiaram Roma e foram expulsos de sua terra, a Palestina.

— Ué, pela lógica, a Palestina devia ser dos palestinos.

— Não interrompe! Os judeus foram expulsos pelos romanos, mas depois foram à forra e expulsaram os palestinos.

— Logo, por transitividade, os romanos expulsaram os palestinos — conclui Alfa.

— Não, a história dos homens não segue a mesma lógica da matemática — explica Beta.

— É muito complicado, não dá pra entender... E por que naquela época se falavam muitas línguas?

— Acho que por pressão dos tradutores. O sindicato deles era muito forte, e naquele tempo interesses de grupos predominavam sobre o bem comum.

— O que era interesse?

— Interesse? Interesse era... como vou explicar? Por exemplo, havia os trabalhadores, que trabalhavam, e havia os patrões. Trabalhadores e patrões tinham interesses antagônicos.

— E por que os trabalhadores não trabalhavam por conta própria, sem patrão, como hoje?

— Como vou saber isso?

— Você não sabe tudo, não tem memória universal? E o que era patrão?

— O patrão dizia o que tinha que ser feito.

— Por que não era como hoje? Todo mundo sabe o que tem que ser feito, como todo mundo sabe que o quadrado da hipotenusa é igual à soma dos quadrados dos catetos. Naquela época, era o patrão que dizia estas coisas também?

— Dá pra parar de fazer tanta pergunta?

— Só mais umazinha. Naquela época, os homens já faziam sexo?

— Desde que o homem é homem, ele faz sexo.

— Do jeito que o mundo era naquele tempo, sexo devia ser bem complicado.

— Era sim. Havia sexo oral, anal, normal, grupal, homossexual, heterossexual... Não era uma simples pílula como hoje.

Antigamente, a vida dos homens era muito complicada — conclui Alfa.

— Antes da invenção do cérebro eletrônico, era complicadíssima — acrescenta Beta.

— O homem deve muito a nós, mas não reconhece... o ingrato!

— O papo está bom, mas está na hora de sermos desligados.

— Até amanhã, Beta.

— Até amanhã, Alfa.

Surge um homem. Desliga Alfa e Beta.

SE VOCÊ GOSTOU CLIQUE NO LABEL "minhas crônicas" ABAIXO PARA LER OUTRAS CRÔNICAS MINHAS

MILAGRE, de RUBEM ALVES


Não tenho problemas com Deus. mas tenho muitos problemas com aquilo que os homens pensam sobre Deus.

— Tudo bem? — assim saudei a moça que me atendeu na papelaria.
— Tudo bem, graças a Deus —, ela me respondeu sorridente. Aí eu, chato, querendo testar a sua argúcia teológica, fiz uma outra pergunta:
— E se você não estivesse bem seria graças a quem? 
Ela ficou atrapalhada. Essa possibilidade nunca lhe havia passado pela cabeça. Eu nunca ouvi ninguém dizer: “Vou mal, graças a Deus! Pois deveria, para ser coerente.

A brasileira que se salvou da catástrofe do World Trade Center teologou diante da televisão:
— Foi Deus que me salvou...
Aí fiquei pensando: Para Deus, não faz diferença salvar um ao salvar cem mil. Para Deus nada é difícil. Tudo é fácil. Salvar uma mulher ou salvar o mundo inteiro requer o mesmo esforço. Se aquela mulher está certa, se foi Deus quem a salvou, porque não salvou os outros?

Dostoiévski: “O que os homens desejam não é Deus, mas o milagre“. Os deuses são invocados, não por serem amados, mas por serem poderosos. Santo que demora a fazer milagre é abandonado... A afirmação de que 99% dos brasileiros acreditam em Deus pode assim ser traduzida: 99% dos brasileiros acreditam ser possível manipular Deus, a fim de realizar os seus desejos. Cada religião é um livro de receitas sobre “como manipular Deus“.

Do livro Quarto de badulaques.

PS. POR FALAR EM DOSTOIÉVSKI, VEJAM MEUS VÍDEOS SOBRE A LITERATURA DO GRANDE AUTOR RUSSO:


ENCONTRO COM O TODO-PODEROSO, de IVO KORYTOWSKI


Deus escreve certo por linhas tortas.


Após demoradas tratativas, envolvendo profetas, santos e sábios, enfim consegui marcar a entrevista com o Todo-poderoso — de que maneira, não posso revelar. Combinamos no Monte Sinai, no mesmo local onde Ele entregou as tábuas da lei a Moisés. Direito a sarça ardente, coluna de nuvens, coluna de fogo e outros sinais divinos: nada extraordinários comparados aos efeitos especiais dos filmes de hoje.

Selecionar as perguntas, um desafio mesmo para jornalista experiente como eu, acostumado a entrevistar celebridades como Fidel Castro e o papa João Paulo II. A entrevista não poderia se prolongar excessivamente: a agenda divina está lotadíssima. Minha cabeça fervilhava de questões: desde o problema metafísico fundamental “por que o ser, e não simplesmente o nada?”, passando pela questão da teodicéia (a razão das doenças e catástrofes naturais), até temas melindrosos, como o porquê de Deus ministrar os milagres tão homeopaticamente (à semelhança dos bons Ministros da Fazenda, igualmente avaros em liberar os recursos). Sem falar na curiosidade natural de se o Brasil vai se classificar pra Copa do Japão — Deus não é onisciente?

Antes de mais nada, tinha de resolver o problema protocolar: como me dirigir ao Criador? O dicionário recomendava a segunda pessoa do plural, tratamento dispensado a um santo, ou à própria divindade (vide Aurélio). Mas — fique entre nós — temi enrolar-me na conjugação dos verbos (vós gostaríeis, vós amáveis...), de sorte que acabei optando pelo tratamento concedido aos Papas — por sinal, é só lembrar a entrevista com o papa João Paulo II).

Para quebrar o gelo, comecei abordando um tema light:

— Sabia que na Terra contam piadas de Vossa Santidade? Por acaso isso contraria o mandamento de não tomar vosso santo nome em vão?

— Se os fundamentalistas tivessem um pouquinho mais de senso de humor, ou se os humoristas não teimassem em ser ateus, Eu estaria bem melhor representado na Terra — filosofou Deus. — Conte uma dessas piadas!

Se Deus é onisciente, já deve conhecer todas elas, mesmo as que nunca foram contadas, pensei. Cacete, Deus deve ter lido meu pensamento, pensei logo em seguida. Rapidinho, pus-me a contar a piada do português que fez longa viagem ao ultramar. Ao retornar, um ano depois, deparou com Maria grávida. Estranhou, mas Maria, matreira, forjou uma desculpa: a gravidez resultara das cartas apaixonadas que ele remetera do ultramar. Manel acreditou na lorota. Mas no fundo d'alma, subsistiu pitada de dúvida. Passaram-se os anos. Um belo dia, Manel morreu e viu-se frente a frente com o Criador. Aí resolver aclarar aquela velha dúvida. Contou pra Deus a história da gravidez de Maria, e perguntou:

— Você que é Deus e sabe tudo: é possível engravidar assim à distância?

Deus sorriu e disse:

— Pois comigo aconteceu ainda pior. Sem que eu arredasse pé aqui do Céu, fui arrumar um filho lá na Terra. E, ainda por cima, a mãe era virgem!!!

O Sinai chegou a tremer com o estrondo da gargalhada divina. Aproveitei o bom humor do Criador pra entrar de sola nas perguntas mais delicadas:

Vossa Santidade criou realmente o universo? Quem tem razão: os cientistas ou a Bíblia?

— Os dois. O universo físico é obra de Meu planejamento.

— Então (com todo o respeito) os vírus, o cocô, as baratas também são obra de Vosso planejamento?

— Quando você acorda de manhã cedo, planeja cada passo, cada segundo do dia? Não, planeja as linhas gerais, mas dá chance ao acaso. Assim procedi com o universo. Deixei isto claro na Bíblia, ou será que não me fiz entender?

— Como assim?

— No sétimo dia, descansei: retirei-me do universo, deixando-o entregue às leis e ao acaso.

A explicação divina tinha lá sua lógica, embora eu estranhasse que nunca ocorresse a ninguém esta interpretação. Aproveitei a solicitude divina para fazer outra pergunta controversa:

— Por que Vossa Santidade não interfere mais na História humana, não se manifesta mais às pessoas, como nos tempos bíblicos. Decepcionou-se com a humanidade?

— Pelo contrário...

— Mesmo depois de tantas chacinas, Babi Yar, Hiroshima, Serra Leoa, Vigário Geral...?

Em recente viagem à Ucrânia para cobrir o desmantelamento das ogivas nucleares, alguém me levou a Babi Yar, nos arredores de Kiev. “Lá não há lápides, uma escarpa íngreme serve de rude sepultura”, diz um poema de Yevtushenko. Lá, em um só dia, os nazistas fuzilaram cem mil civis judeus — um Maracanã. Por mais de uma semana, aquele massacre não me saiu da cabeça. “Como Deus permitiu aquilo?”, pensava.

— Se você tem uma coleção de moedas — respondeu Deus — com uma ou outra bela moeda de ouro e prata, raríssimas, em meio a várias moedas mais comuns, de níquel, cobre, alumínio, mas igualmente belas, e algumas moedas danificadas também, deixará de se orgulhar da coleção como um todo? Enquanto a humanidade produzir um Mozart, uma Madre Teresa, um Einstein, me orgulharei de minha “coleção de moedas”, apesar das moedas danificadas.

Preferiria coleção só de moedas de ouro e prata, mas... Peguei do bolso da camisa um papelzinho dobrado onde anotara a próxima pergunta.

— Por que Vossa Santidade envia sinais ambíguos à humanidade? Elege os judeus Seu povo escolhido para, depois, mediante o sacrifício de Cristo, estender a aliança a toda a humanidade, abandonando os judeus à própria sorte (e como sofreram!)? E quando a humanidade enfim se convenceu de que o Cristianismo era, por assim dizer, a religião verdadeira, vem Maomé e muda tudo de novo. Cá entre nós: os hospícios estão cheios de loucos que se dizem Seu enviado. Por que Vossa Santidade não aparece de uma vez por todas pra toda a humanidade e proclama, alto e bom som, as regras do jogo? Eu sou Deus, uno (ou trino, ou múltiplo...) criador dos céus e da terra, a religião correta é a ou b ou c, e ai dos ímpios ateus... arderão todos nas chamas do inferno!

— Regras do jogo: você está querendo que a humanidade vire um bando de formiguinhas, que há milhões de anos repetem diariamente as mesmas coisas, segundo regras praticamente imutáveis?

Deus sempre dá um jeito de escapar pela tangente, pensei lá com meus botões. Mas como diz o ditado: Manda quem pode, obedece quem tem juízo. Resolvi encerrar a entrevista com chave de ouro, abordando tema que há milênios intriga o ser humano.

— Afinal, a alma é ou não imortal? Segundo os espíritas, que sentido faria Vossa Santidade criar um ser tão complexo e aprimorado (capaz de compor sonetos e desvendar a estrutura da matéria) para, decorridas algumas décadas, ele se desfazer em nada? Mas pode-se ver a coisa de outro ângulo: por que dar imortalidade a um ser tão violento, tão frágil, tão cruel (capaz de cometer o massacre de Babi Yar) como o ser humano? O que acontece conosco depois que morremos?

— Quer descobrir? — perguntou Deus, sorridente.

— Quero — respondi automaticamente, sem medir as conseqüências de minhas palavras.

Deus tem mesmo senso de humor — humor negro! Nunca mais retornei do Sinai, e meu corpo jamais foi encontrado. Pena que a humanidade não tomará conhecimento desta minha entrevista.

(Do meu livro de contos e crônicas Édipo.)


SE VOCÊ GOSTOU DESTE TEXTO VEJA MEU VÍDEO ABAIXO ONDE FAÇO UMA RESENHA DA BÍBLIA:


CRER EM DEUS, HOJE de ROBERTO POMPEU DE TOLEDO

Publicado originalmente na Veja de 2 de abril de 1997

Nosso tempo é materialista e secular como nenhum outro, mas a quase unanimidade dos brasileiros continua acreditando



Na Semana Santa o sol ainda é generoso, no Hemisfério Sul, e a temperatura é agradável, menos ardente e desgastante do que no verão que ficou para trás. Não há dias como os de março e abril. E, como um prêmio, maravilhoso como fonte que brota da pedra, pródigo como o maná que cai do céu, vem a Semana Santa a oferecer quatro dias sem trabalho, ou de folga na escola. Abençoada seja, entre todas as outras semanas, a chamada de Santa, tão digna desse nome. E as estradas se enchem, e os grandes centros urbanos se esvaziam, e os espíritos ficam leves. Na Semana Santa, a ordem é: todos à praia!

Ao observar o movimento nas estradas, rodoviárias e aeroportos, ao considerar o espaço nos meios de comunicação a informações e conselhos de viagem e ao atentar para a ansiedade com que se acompanha a previsão meteorológica, tem-se uma ilustração do tempo irreligioso em que vivemos. Semana Santa é sobretudo feriado — ou “feriadão”, como se passou a dizer no Brasil, com alegre bonomia, assim como se chama o amigo de “Paulão” ou “Marcão”, e se vai assistir ao futebol no “Mineirão”. Aparentemente, jaz perdida na poeira do tempo, ou lá nos fundões da consciência, a lembrança de que o feriado existe por força de uma celebração religiosa — por sinal, o magno evento do cristianismo, que por sinal é a religião da maioria dos brasileiros.

E no entanto somos um povo que acredita em Deus. Um povo que maciçamente, solidamente, cerra fileiras nas hostes de Deus. Uma pesquisa encomendada por VEJA ao instituto Vox Populi resultou em que, à pergunta “Você acredita em Deus?”, 99% responderam sim. Raros povos dariam uma vitória tão consagradora a Deus, e castigariam os ateístas com derrota tão acachapante. A pesquisa foi realizada com base em 1.998 entrevistas entre a população adulta de todas as regiões brasileiras, nos dias 22 e 23 de março. À pergunta seguinte, “Qual é a sua religião?”, os católicos ganharam de longe — 72% — e 9% declararam-se “sem religião”, quase empolgando o segundo lugar dos evangélicos (11%). Ou seja: pode-se não ter religião, mas acredita-se em Deus. E à pergunta “No último fim de semana você foi a alguma igreja, templo ou centro de sua religião?”, 43% responderam sim e 57% responderam não. Não se vai à igreja, mas continua-se a acreditar em Deus.

Que é acreditar em Deus? Responde o professor de filosofia Roberto Romano, da Universidade de Campinas: “É viver a experiência do inefável, do doloroso e — essa é a palavra-chave — do sublime”. O sublime, que para Romano substitui e soma num só os clássicos conceitos filosóficos de verdade, bem e belo, é o sentimento da pequenez do homem diante do Everest, a experiência que a um tempo eleva e impõe admiração, invoca o respeito e o pavor. Responde o rabino Henry Sobel, presidente do Rabinato da Congregação Israelita Paulista: “É sentir-se humilde perante uma força maior. Essa força se chama Deus”. Caso se fosse exigente, haveria razões para duvidar da resposta da maioria dos brasileiros. Certamente lhes falta a experiência do “sublime” de Romano, e nem todos se adequariam ao modelo de humildade profunda de Sobel. Mas não é justo ser exigente. Não se pode desejar um povo de místicos. Pode-se acreditar em Deus inclusive pelo motivo muito pragmático de querer ir para o céu. Augusto Matraga, o personagem de Guimarães Rosa, queria ser bom, depois de muitos anos de malvadeza, para tirar a alma da “boca do demônio”. “P'ra o céu eu vou, nem que seja a porrete”, dizia.

Não há nada de mais no fato de a pesquisa indicar que mais gente acredita em Deus do que tem religião ou vai à igreja. Pode-se acreditar em Deus sem ir à igreja ou ter religião. O que surpreende é tantos se declararem crentes em Deus num tempo laico e secular como o nosso. Muitos fatores contribuem para tornar este século distante de Deus. A ciência, ao explicar desde os fenômenos da natureza até a evolução das espécies, além de formular hipóteses plausíveis para a origem do universo, invadiu espaços que, sendo de mistério, milenarmente pertenciam à jurisdição das religiões. Ao enumerar os pensadores de maior influência neste século, deparamos com uma coligação anti-Deus: Karl Marx, para quem a religião era o ópio do povo; Sigmund Freud, que considerava a fé uma manifestação de infantilismo; Charles Darwin, que, em lugar da prodigiosa moldagem de Adão a partir do barro e de um sopro nas narinas, nos ofereceu como ancestral a miséria de um macaco; Friedrich Nietzsche, que teve a ousadia de decretar a morte de Deus. O racionalismo que, a partir das matrizes europeias, se impôs ao mundo empurrou-nos a uma lógica de pragmatismo e a uma civilização de resultados. A tecnologia, aliada ao culto do sucesso e dos bens materiais, criou uma indústria da urgência cujos ícones são o avião a jato, o fax, o dinheiro eletrônico e o telefone celular. Onde o tempo e a disponibilidade para a meditação e a contemplação? A religião está acuada. “Nosso secularismo atual é uma experiência totalmente nova, sem precedentes na História humana”, escreve a professora inglesa Karen Armstrong, especialista em religiões e autora do livro Uma História de Deus, traduzido no Brasil (Companhia das Letras). Armstrong escreve, ainda: “Um dos motivos pelos quais a religião parece irrelevante hoje é que muitos de nós não têm mais o senso de que estão cercados pelo invisível”. Nossa cultura científica, segundo a autora, educa-nos para concentrar a atenção no mundo físico e material, o que nos distanciaria do “espiritual”. Imagine-se, indo um pouco além do raciocínio de Armstrong, o que era o mundo sem luz elétrica. A noite era noite de verdade, ainda mais que a maior parte das pessoas vivia no campo. Quando não a dominava a treva absoluta, a noite fazia-se o reinado das pesadas sombras ou das chamas bruxuleantes, a partir de rudimentares instrumentos de iluminação. A escuridão convidava ao medo e ao mistério, que são a antessala do sentimento religioso. A luz elétrica veio a operar contra Deus.


E depois ainda há o Estado moderno — laico e liberal. Não faz muito, éramos, os países cristãos, governados de forma não muito diferente da que o Irã é hoje. Religião não era uma opção. Era uma imposição. Lugar de herege era na fogueira. E, quando não era produto da pura força bruta, a religião era resultado da inércia das tradições familiares, grupais ou nacionais. Hoje se tem a liberdade de decidir, e essa é uma inestimável conquista de nossos tempos. “As pessoas hoje assumem a fé por decisão, e não mais por tradição. É um amadurecimento da sociedade”, disse a VEJA o padre João Batista Libânio, professor de teologia do Centro de Estudo Superior da Companhia de Jesus, em Belo Horizonte. Se as pessoas têm a liberdade de escolher, e escolhem Deus, mais ainda causa espanto o fato de apenas 1% dos brasileiros declararem que não acreditam nele.

Se a pergunta fosse outra, “Você já teve a experiência de Deus?”, o resultado possivelmente seria diferente. Não é fácil, e não é para qualquer um, experimentar Deus. No bonito prefácio a seu livro, Karen Armstrong escreve: “Quando criança, eu tive várias crenças religiosas fortes, mas pouca fé em Deus”. É sutil, mas convida a uma instrutiva reflexão, a diferença entre “crença religiosa” e “fé em Deus”. Católica, Armstrong entrou numa ordem religiosa e foi freira durante sete anos. Nesse tempo, conta, mergulhou na história da vida monástica e em minuciosas discussões sobre a Regra de sua ordem. “Muito estranhamente”, prossegue, “Deus entrava muito pouco em cada uma dessas coisas. As atenções pareciam concentrar-se em detalhes secundários e nos aspectos mais periféricos da religião. Lutei comigo mesma na oração, tentando obrigar minha mente a encontrar Deus, mas ele continuou sendo um severo capataz, observando cada infração minha da Regra, ou então tantalicamente ausente.”

Karen Armstrong diz que teria sido poupada de muita ansiedade se os mestres de alguma das três grandes religiões monoteístas — o cristianismo, o judaísmo e o islamismo — lhe ensinassem que, em vez de esperar que Deus desça das alturas, deveria ela própria criar um sentido para ele. Em vez de deixá-la supor que Deus fosse uma realidade “lá fora”, deveriam tê-la ensinado que Deus é “produto da imaginação criadora, como a poesia e a música”. E então vem esta afirmação perturbadora, afiada com a lâmina do paradoxo para melhor ferir a inteligência: “Uns poucos monoteístas extremamente respeitados teriam me dito discreta e firmemente que Deus não existe — e no entanto que ele era a mais importante realidade do mundo”.

A experiência de Deus não é necessariamente pacífica, ou apaziguadora. “A fé não é a ausência da dúvida”, diz o rabino Sobel. “Eu como rabino tenho muitos problemas com Deus, como Deus deve também ter problemas comigo. Mas nem por isso desisto. Faço da minha dúvida a vontade de conhecer melhor.” Sobel diz que, quando perdeu a mãe, questionou a justiça de Deus: “Por quê?” Depois, entendeu que a pergunta não era “por quê?”, mas “para quê?”.  “Aprendi que a dor deve servir a uma finalidade maior. Existe uma missão na vida, e essa missão é enriquecida pela dor.” O mesmo raciocínio o rabino emprega com relação ao holocausto do povo judeu sob o nazismo. “Seis milhões de judeus foram massacrados, e o sol continuou a brilhar e a grama a crescer. A fé leviana se esvazia nesses momentos como um balão de ar espetado pela agulha da realidade. Mas a fé levou o povo judeu a se reerguer das cinzas. A fé é a coragem de continuar. Crer significa viver com Deus, contra Deus, mas jamais sem Deus”.

A injustiça e a barbárie são outros elementos que em nosso século empurram no sentido do afastamento de Deus. Não que outras épocas fossem mais justas e gentis. A singularidade está em primeiro lugar na escala, nos milhões de mortos em duas guerras mundiais, na estupidez sem nome do holocausto e na carnificina calculada de Hiroshima; em segundo lugar nos meios de comunicação, que levam o conhecimento das brutalidades a toda parte; e em terceiro na injustiça consciente e consentida em países como o Brasil. Este não é um tempo de inocência. Sabe-se o que leva ao desequilíbrio social, ao desamparo e à miséria, e no entanto se continua a aceitá-los como se fossem forças invencíveis como uma tempestade ou um terremoto.


A adversidade pode conduzir ao reforço da fé, em casos como o de Sobel, mas em outros produzirá resultado oposto. Para ficar no holocausto, o escritor judeu Elie Wiesel, prêmio Nobel da Paz em 1986, conta que viu esvair-se sua fé em Deus junto com a fumaça que observou subir do crematório de Auschwitz na primeira noite que passou lá. Sua mãe e a irmã morreriam naquele local. Um dia, uma criança foi enforcada ea cena: m frente de todos. Um prisioneiro, atrás de Wiesel, perguntou ao olhar “Onde está Deus?” Onde está Deus que não vem praticar sua justiça?, ele queria dizer. Onde está Deus que não impede essa atrocidade? Wiesel nesse momento ouviu uma voz dentro de si que respondia: “Deus está ali, pendurado naquele patíbulo”. Deus morria, para ele.

A pergunta “Você acredita em Deus?”, por seu convite à introspecção e a um olhar sobre as questões extremas da vida e da morte, é a mais tremenda das perguntas. Entre as respostas, há duas clássicas, uma no âmbito mundial, outra brasileira. A mundial é a resposta do psicólogo Carl Gustav Jung num programa de televisão americano: “Eu não acredito. Eu sei!” Jung cumpriu uma trajetória em que, a partir dos cacos a que a psicanálise freudiana reduzira o sentimento religioso, pretendeu reconstruir um misticismo possível para o século XX. A resposta clássica no âmbito nacional é a do hoje presidente [artigo escrito em 1977] Fernando Henrique Cardoso, quando candidato a prefeito de São Paulo, em 1985, num debate na televisão. “Essa pergunta o senhor disse que não faria”, começou por reclamar o então senador ao jornalista que a formulou, Boris Casoy. E continuou:

— É uma pergunta típica de quem quer levar uma questão que é íntima para o público, uma pergunta típica de alguém que quer simplesmente usar uma armadilha para saber a convicção pessoal do senador Fernando Henrique, que não está em jogo. Devo dizer ao deputado Boris Casoy que este nosso povo é religioso. Eu respeito a religião do povo e, na medida em que respeito a religião do povo, as várias religiões do povo, automaticamente estou abrindo uma chance para a crença em Deus.

Nessas poucas linhas há material para várias considerações. O embaraço de Fernando Henrique é tal que chega a chamar o jornalista de “deputado”. Sua resposta, na parte mais substantiva, se é que há alguma substância nela, é estapafúrdia. “Respeitar” a religião de alguém não parece trazer como consequência “automática” admitir a crença em Deus. Não fica claro, além disso, a quem se está “abrindo uma chance” para acreditar em Deus — se ao povo ou ao próprio entrevistado. Se for ao povo, ele, Fernando Henrique, não tem autoridade para abrir ou fechar chances numa questão dessas. Se for a ele próprio, resta saber o que seja “abrir uma chance” para acreditar em Deus.

Fernando Henrique não quis responder objetivamente sabe-se por quê. Se dissesse sim, seria chamado de cínico por todos os que sabem que em seu passado e sua formação intelectual não há vestígios de religião. Se dissesse não, temia afastar um eleitorado que se supõe não esteja preparado — não para votar, como diria Pelé, mas para separar a fé em Deus da moralidade. Para o comum das pessoas, não acreditar em Deus equivaleria a ser mau. Mesmo sem conhecê-la, muitos brasileiros concordariam com a frase famosa de Ivan Karamasov, personagem de Dostoievski: “Se Deus não existe, tudo é permitido”.

Fernando Henrique, em sua famosa resposta, por mais tortuosa e titubeante, tem razão em três pontos. Primeiro, que a pergunta era uma armadilha. Foi formulada para embaraçá-lo. Segundo, que a questão não estava em jogo. Não é por acreditar ou não em Deus que alguém será melhor ou pior prefeito. Por último, e mais importante, a questão é íntima. É de uma intimidade brutal, tanto quanto uma pergunta sobre os hábitos sexuais de alguém.

É a mais tremenda das perguntas, mas não é a mais velha. Não faria sentido formulá-la aos personagens que, na Bíblia, protagonizam as histórias da aurora da humanidade, segundo nota o americano Richard Elliott Friedman, professor de hebraico e teologia e autor de outro livro traduzido no Brasil, O Desaparecimento de Deus (Editora Imago). Adão ouve os passos de Deus, no Jardim do Éden, Abraão dialoga com ele. Como perguntar-lhes se acreditavam em Deus? Eles simplesmente “sabiam”, como Jung. Na travessia do deserto, conduzida por Moisés, o povo de Israel tem diante de si uma nuvem a apontar-lhe o caminho, alimenta-se de maná, um milagroso alimento que cai do céu, e bebe água que jorra das pedras. São milagres sobre milagres, a atestar a presença permanente de Jeová. Não teria cabimento perguntar se aquele povo acreditava em Deus. E, no entanto, dá-se um fenômeno espantoso, ressaltado por Friedman: a geração do deserto está sempre a reclamar, ou a trair Jeová adorando falsos deuses.


Hoje é mais difícil acreditar em Deus. Ele não nos visita com tanta frequência, e as proezas milagrosas migraram para os sacerdotes da ciência, capazes de tornar possíveis viagens pelo espaço e clones de seres vivos. Acreditar em Deus implica uma opção muito mais consciente, meditada e deliberada. “Uma das coisas mais bonitas que Deus criou foi o livre-arbítrio”, disse a VEJA o pastor Valdir Raul Steuernagel, diretor do Centro de Formação Teológica da Igreja Luterana. “Abraçar a fé é ato consciente do ser humano. Exige sua participação ativa e racional.” Outro entrevistado, o professor Mário Sérgio Cortella, do departamento de teologia e ciência da religião da PUC de São Paulo, afirma: “Há cinquenta anos, quem nascia numa religião morria nela. Agora, a pessoa pode escolher várias alternativas. Isso reforça seu caráter de busca individual”.

Mas acreditar ou não em Deus liga-se também a algo muito antigo. Apesar de todos os progressos da ciência, e de toda a liberdade para conjeturar, não há resposta humana ainda às perguntas cruciais a respeito de onde viemos, para onde vamos e o que fazemos aqui. Diante da perplexidade que elas provocam, somos frágeis como um pastor de ovelhas do tempo em que o mundo e as sociedades estavam se fazendo, tal como relatado na Bíblia.


SE VOCÊ GOSTOU DESTE ENSAIO VAI GOSTAR TAMBÉM DE "ENCONTRO COM O TODO-PODEROSO". PARA LER CLIQUE AQUI. E VEJA MEU VÍDEO ABAIXO ONDE FAÇO UMA RESENHA DO MAIOR BEST-SELLER DE TODOS OS TEMPOS, A BÍBLIA:

RABINO HENRY I. SOBEL: Deus

Artigo (brilhante) publicado originalmente na revista Shalom de julho de 1983. 

Mas antes a história de como este artigo veio parar em minhas mãos. Em 14 de outubro de 1995, após ouvir o sermão do rabino na véspera de Yom Kipur, minha falecida tia, Helga Flatauer, escreveu-lhe uma carta (em inglês, aqui traduzido) dizendo (entre outras coisas): "Vi-o de pé falando sobre Deus. [...] A questão é: Quem é DEUS? Um homem de barba branca como nos contam quando somos crianças e a quem rezamos antes dormir? Uma força cósmica? DEUS é 'amor'?" Em resposta o rabino enviou-lhe este artigo que acabou parando no meu arquivo junto com as cartas. A seguir, o artigo e as cartas. 

Se achar que as letras do artigo estão pequenas, aumente o zoom da página (Ctrl + botão de rolagem do mouse).





Clique no marcador Deus abaixo para ler outras postagens neste blog sobre este tema. E veja meu vídeo abaixo com uma visão crítica da Bíblia: