DIFERENÇA ENTRE DEÍSTA, TEÍSTA, ATEÍSTA, AGNÓSTICO E GNÓSTICO



Em relação à questão da existência de Deus, existem cinco posições possíveis. O deísta acredita que se chega a Deus pela razão, pelo argumento lógico (as clássicas "provas da existência de Deus"). O teísta acredita no Criador com base na fé. O ateísta ou ateu nega sua existência, preferindo acreditar nos mecanismos naturais (Big Bang, seleção natural). O agnóstico reconhece nossa limitação cognitiva para decifrar o enigma e fica "em cima do muro", não nega nem afirma a existência do Criador, muito pelo contrário. E o gnóstico acredita que só se chega a Deus por uma experiência pessoal, mística. 

Sou um agnóstico, mas simpatizo com o deísmo e gnosticismo, jamais com o ateísmo. Para mais postagens sobre este tema clique no label "Deus" abaixo. E vejam meu vídeo sobre a Bíblia Sagrada (Antigo Testamento):


SE O CINEMA É A SÉTIMA ARTE, QUAIS AS OUTRAS SEIS?



No verbete "Art" da versão francesa da Wikipédia (maravilhosa Internet, a maior biblioteca do mundo dentro de nossas modestas casas!) encontrei a resposta a esta pergunta. Ei-la (devidamente traduzida para o português):

“A sétima arte é uma expressão proposta em 1919 por Ricciotto Canudo para designar a arte cinematográfica.

Ricciotto Canudo foi um intelectual italiano, morando na França, amigo de Apollinaire e um dos primeiros críticos de cinema. Escreveu um livro em 1911 que intitulou La naissance du sixième art (O nascimento da sexta arte), onde considerou que o cinema realizava a síntese das “artes do espaço” (arquitetura, pintura e escultura) com as “artes do tempo” (música e dança). O cinema surgiu portanto como uma síntese de todas as cinco artes precedentes, do tempo e do espaço. O cinema é um instrumento de um novo renascimento.

Depois de ler Hegel acrescentou a poesia como a arte fundadora e escreveu Le manifeste des 7 arts (O manifesto das 7 artes), que consagrou a expressão “sétima arte” para o cinema. Em 1922, fundou a Gazette des sept arts (Gazeta das sete artes), uma das primeiras revistas de cinema.”

AFINAL, O QUE EXISTE NA CAIXA DE PANDORA? (E QUEM FOI PANDORA?)



Mais de uma vez, deparei em chats da Internet com o nick Pandora.

E vez ou outra, alguém joga na conversa uma alusão à caixa de Pandora. Mas afinal, quem foi Pandora, e o que guardava na caixa? Esta pergunta nos remete à história de Prometeu.

Literalmente, Prometeu significa previdente. Um dos Titãs, Prometeu foi incumbido por Júpiter de criar o ser humano do barro e água. Mas consternado com as deploráveis condições de vida dos homens, Prometeu subiu ao céu com Minerva, de onde trouxe para nós o fogo. Júpiter, irritado com a audácia do titã, mandou Vulcano forjar uma mulher dotada de todas as perfeições — daí o nome Pandora, do grego pan (todos) + dõron (presente), devido aos inúmeros dons e presentes recebidos dos diferentes deuses.

Júpiter deu a Pandora uma caixa fechada para que entregasse a Prometeu. Este, desconfiado, recusou-se a receber e abrir a caixa. Mas o irmão de Prometeu, Epimeteu, não resistiu aos encantos de Pandora: abriu a caixa fatídica e deixou escapar todos os males, que desde então assolam o mundo. Mas no fundo da caixa permaneceu a esperança.

Quanto a Prometeu, por ordem de Júpiter, acabou conduzido ao Monte Cáucaso e amarrado a um rochedo, onde uma águia lhe devora o fígado — para sempre.

SE OS PAÍSES RICOS FORMAM O PRIMEIRO MUNDO E OS PAÍSES POBRES, O TERCEIRO MUNDO, ONDE FICA O SEGUNDO MUNDO?

O Muro de Berlim, símbolo execrável da desumanidade do socialismo, fotografado por mim em 1985


A expressão Tiers Monde (Terceiro Mundo) foi criada pelo economista e demógrafo francês Alfred Sauvy num artigo publicado em L'Observateur de 14 de agosto de 1952. Traçando um paralelo com o Terceiro Estado do tempo da Revolução Francesa, referiu-se aos países que não pertenciam ao bloco ocidental nem ao bloco comunista. O artigo (“Trois mondes, une planète” — “Três Mundos, um planeta”) começa com este parágrafo:

Falamos facilmente de dois mundos presentes, de sua guerra possível, de sua coexistência, etc., esquecendo com frequência que existe um terceiro, o mais importante e, em suma, o primeiro cronologicamente. É o conjunto dos denominados [...] países subdesenvolvidos.

Sobre a origem da expressão, o próprio Alfred Sauvy escreveu posteriormente esta nota:

Em 1951, numa revista brasileira, falei de três mundos, sem empregar porém a expressão “Terceiro Mundo”. Criei e empreguei pela primeira vez esta expressão por escrito na revista francesa “l'Observateur” de 14 de agosto de 1952. O artigo terminava assim: “Pois enfim este terceiro mundo ignorado, explorado, desprezado como o terceiro estado quer ser, ele também, alguma coisa.” Reescrevi assim a famosa frase de Sieyes sobre o Terceiro Estado durante a Revolução Francesa. Eu não acrescentei (mas disse, às vezes, de brincadeira) que se poderia equiparar o mundo capitalista à nobreza e o mundo comunista ao clero.

O Segundo Mundo, portanto, eram os países comunistas no tempo da Guerra Fria: URSS, China e Leste Europeu.

BREVE HISTÓRIA DE QUASE TUDO, de BILL BRYSON


Por que os livros usados para ensinar ciências nas escolas são tão áridos, chatos, desinteressantes, e não conseguem transmitir aos jovens quão fascinante e misteriosa é a realidade que nos circunda? Acho que este é um dos pontos de partida para Bill Bryson ter resolvido escrever seu livro Breve História de Quase Tudo. Se você quer ter uma ideia fascinante de como a ciência, no afã de decifrar o mundo onde estamos inseridos, foi paulatinamente demolindo o mundo das aparências e desvendando realidades invisíveis e desconcertantes, este é o livro certo. Vejam meu vídeo sobre este livro extraordinário que tive o prazer de traduzir para o português.

QUANTAS PESSOAS JÁ VIVERAM NO MUNDO???


Segundo a pesquisa de Toshiko Kaneda, "How Many People Have Ever Lived on Earth?" ("Quantas Pessoas Já Viveram na Terra?"), publicada no site do Population Reference Bureau (PRB), que você pode acessar clicando aqui, até 2018 viveram no mundo 108 bilhões de humanos.

Diz o artigo em seu início (vou traduzir para o português): "O Homo sapiens "moderno" (ou seja, pessoas aproximadamente como nós hoje) caminhou pela primeira vez sobre a Terra 50.000 anos atrás. Desde então, mais de 108 bilhões de membros de nossas espécie chegaram a nascer, de acordo com estimativas do Population Reference Bureau (PRB). Dada a atual população global de 7,5 bilhões (baseada nas estimativas mais recentes do PRB em meados de 2017), isto significa que aqueles atualmente vivos representam cerca de 7 por cento do total de seres humanos que já viveram. "

Isto leva a duas reflexões. Primeira: Muita gente acha a morte injusta, um castigo, a ponto de acreditar em alguma espécie de sobrevivência pós-morte. As religiões orientais acreditam em reencarnações, crença esta "ocidentalizada" e cristianizada por Kardec. As religiões ocidentais pós-paganismo acreditam em uma ressurreição dos corpos no dia do Juízo Final. Imaginem 108 bilhões de pessoas ressuscitando em nosso limitado planeta! Onde enfiar tanta gente?


A segunda reflexão é o que denomino "paradoxo da reencarnação"As pessoas imaginam que as reencarnações são sucessivas: você nasce, vive, morre, e logo depois, ou pouco depois, ou não muito depois reencarna. Tanto é que quando morre um Dalai Lama pouco depois procura-se a alma reencarnada daquele Dalai Lama num recém-nascido. Não passaria pela cabeça de ninguém que a alma levaria cem, duzentos anos para voltar a encarnar. As pessoas que acreditam no espiritismo imaginam que encarnaram sucessivamente nas diferentes épocas da história humana: na época dos romanos, na Idade Média, no Renascimento, na era vitoriana, etc. 

Acontece que a população mundial no passado era bem menor que hoje. Segundo o PRB, em 8.000 a.C. éramos apenas uns 5 milhões. Há 2 mil anos, 300 milhões. Em 1750, a população mundial era de 795 milhões. Em 1850, 1,3 bilhão. Em 1950, 2,5 bilhões. Em 2011, quase 7 bilhões. Agora somos 7,5 bilhões. Veja bem, no passado não havia pessoas suficientes para receber todas as 7,5 bilhões de almas que existem hoje. Este é o paradoxo da reencarnação.

Convido-os a verem meu vídeo abaixo sobre este tema. E se quiserem deixem seus comentários.



Texto (exceto citação), vídeo e fotos de grafites paulistanos de Ivo Korytowski.

COMO CONHECI CASTRO ALVES de CYRO DE MATTOS

Busto de Castro Alves no Passeio Público carioca

Foi nos idos de 1953. Saltei do bonde na parada próxima ao Restaurante Cacique e Cine Guarani, com o firme propósito de conhecer aquele monumento de mais de dez metros, um homem lá no alto encimando o pedestal. Aquele homem de cabeleira negra e basta devia ser muito importante para que fosse homenageado em monumento tão grandioso.

Atravessei a rua com a luz forte do verão caindo no asfalto e me aproximei do monumento. Meu olhar curioso viu que em um dos lados estava um livro aberto com um sabre atravessado, tendo em letras douradas os versos: “Não cora o sabre do hombrear com o livro”.1 Em placa de mármore, numa das faces da base, lia-se: “A Bahia a Castro Alves.”

Aquela estátua de bronze assentada no alto representava um poeta, muito querido pelo povo baiano, estava ali na atitude de fala importante, de quem declamava, tendo a cabeça descoberta, fronte erguida, olhar perdido no infinito, chapéu mole de estudante à mão esquerda, braço direito estendido. De um lado da coluna no monumento, vi um grupo em bronze, representando um anjo em posição de voo, a levantar uma mulher escrava pelo braço, erguendo-a ao alto. E também um casal de escravos.

Quem era esse poeta que a Bahia dedicava imenso amor? Lembrei da biblioteca da agremiação estudantil no Colégio dos Irmãos Maristas. E foi lá, durante a semana, à hora do recreio, folheando o livro ABC de Castro Alves, de Jorge Amado, que fiquei conhecendo a vida e a obra daquele grande poeta, que os baianos com orgulho chamavam de gênio. 

Era um rapaz esbelto, que vivera pouco. Nasceu na fazenda Cabaceiras, próxima a Curralinhos, na Bahia, em 14 de março de 1847. Tinha grandes olhos vivos, maneiras que impressionavam a quem o assistisse declamando versos de amor, às flores e em solidariedade aos escravos. Causava admiração aos homens e arrebatava paixões às mulheres. Seu estilo contestador contra a situação da escravidão dos negros na Bahia o tornou conhecido como O Poeta dos Escravos. Além de abolicionista exaltado, foi um liberal atuante, que clamava pela instalação da República no Brasil. Teve como colega Rui Barbosa no Colégio Abílio Borges, em Salvador, e na Faculdade de Direito do Recife. Faleceu aos seis de julho de 1871, aos 24 anos, em Salvador, vítima de tuberculose. 

Depois de conhecer um pouco a vida do poeta romântico, interessei-me por sua poesia. Fui ler, um a um, os livros desse poeta, cantor do amor, da água, das pétalas, dos negros escravos e da liberdade. Publicara em vida apenas um livro: Espumas Flutuantes, em 1870. Seus outros livros, A Cachoeira de Paulo Afonso, 1876, Os Escravos, 1883, Hinos do Equador, 1921, tiveram edição póstuma. 

Na medida em que fazia a leitura duma poesia cativante e libertária, ia anotando alguns versos no caderno, que me enriqueciam a sensibilidade. 

Como esses: Senhor Deus dos desgraçados!/Dizei-me vós, Senhor Deus,/Se eu deliro... ou se é verdade/ Tanto horror perante os céus?!... / Ó mar, por que não apagas/ Co'a esponja de tuas vaga/ Do teu manto este borrão? / Astros! noites! tempestades! /Rolai das imensidades! Varrei os mares, tufão! ...

Ou esses: Oh! Bendito o que semeia/ Livros à mão cheia/ E manda o povo pensar!/O livro, caindo n'alma/ É germe – que faz a palma,/ É chuva – que faz o mar!

Ou ainda esses, escritos com graça e leveza: Prendi meus afetos, formosa Pepita.../ mas, onde?/ No tempo? No espaço? Nas névoas?/ Não rias.../ Prendi-me num laço de fita!

Perguntava-me como era que no coração de um poeta tão jovem como Castro Alves cabia tanta afetividade e solidariedade aos excluídos. Com a leitura de cada livro do poeta, minha alma foi-se impregnando da beleza e da verdade postas de maneira maior em versos comoventes, em tons vários escorridos com amor e talento raro, que só os gênios possuem. Castro Alves tornou-se em pouco tempo um ídolo para o moço do interior, desses em que a marca de uma época ou de um tema brilha com a individualidade manifestada numa espécie de criador, a permanecer sempre ante a vida que passa.


Efígie de Castro Alves na Academia Brasileira de Letras
NOTA:
"Nem cora o livro de ombrear co'o sabre.../ Nem cora o sabre de chamá-lo irmão..." São versos que estão no poema "Quem Dá aos Pobres Empresta a Deus", do livro Espumas Flutantes.  Aludem ao fato de que o saber e o sabre não devem  se  envergonhar de juntos defender os valores e interesses da nação brasileira.

FIM DO HORÁRIO DE VERÃO, de IVO KORYTOWSKI


CRÔNICA DE IVO KORYTOWSKI ESCRITA EM MARÇO DE 2001. FOTOS TIRADAS NAS PRAIAS DO LEME E COPACABANA EM 17/2/2017, VÉSPERA DO FIM DO HORÁRIO DE VERÃO DE 2016-17



Fim do horário de verão, que nos proporcionou uma hora extra de sol todos os finais de tarde. À meia-noite, os relógios devem ser atrasados para onze horas. Claro que não somos soldados prussianos que fazem tudo exatinho: deixamos pra atrasar o relógio com calma no decorrer do domingo.



Santo domingo, curtimos aquela dádiva que nos caiu do céu, aquela hora adicional (na verdade, não é dádiva, mas a devolução da hora surrupiada no início do horário de verão, mas disso a gente já esqueceu). E podemos acordar com calma e até ficar espreguiçando um tempão na cama, porque hoje temos uma hora a mais. E podemos ir à padaria como se estivéssemos indo passear, e escolher com calma dentre tantos apetitosos brioches e pãezinhos e docinhos — sem falar no queijo e presunto, ali na padaria sempre mais gostosos e cortados em fatias fininhas — porque temos uma hora a mais. E podemos passar pelo jornaleiro e ler todas as manchetes de todos os jornais pendurados do lado de fora, e comprar o jornal dominical de costume pra começar a ler no café e levar, depois, pra praia.

E podemos curtir a praia pachorrentamente, e tirar aquela soneca depois do almoço, e ouvir aquele CD de jam session que há meses a gente não tem tempo de ouvir. Arte puxa arte, e logo logo a gente tá ouvindo aquele CD dos concertos de Mozart ganho de brinde na assinatura de não sei qual revista, que quedava abandonado meses a fio a um canto. Até esquecemos de ver o Fantástico! No fim do dia, nos devaneios (ou quiçá na oração) antes de dormir, apercebemo-nos de que tivemos um domingo glorioso, repleto de pequenos deleites, como deveriam ser todos os domingos de nossa vida. Porque tivemos uma hora a mais.

E aí nos ocorre um pensamento meio que pecaminoso, logo reprimido: Deus cometeu um grave erro ao não ter criado o dia com 25 horas!






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