O sobrevivente do Holocausto Elie Wiesel, em seu livro Sinais do Êxodo, faz uma observação interessante sobre a conduta dos judeus religiosos versus seculares nos campos de extermínio. Enquanto entre os seculares "amigos e irmãos dilaceravam-se entre si por uma colherada de sopa, um instante de prazo, um casaco mais grosso" e intelectuais liberais revelavam-se uns sádicos atuando como Kapos (colaboracionistas), entre os ortodoxos a conduta era impecável, conforme revela este texto extraído do livro:
Mas os homens de convicção religiosa, os sacerdotes resistentes, souberam se manter à altura: nenhum aceitou colaborar, a fim de salvar sua pele. E isto é igualmente, e ainda mais, verdadeiro para os rabinos: nenhum, repito, nenhum consentiu em aceitar o pouco de poder a ele oferecido para viver ou viver melhor, e por mais tempo – às custas de seus companheiros, de seus irmãos de infortúnio. Pelo contrário, deram provas de uma abnegação que deixou os assassinos perplexos e, num certo sentido, estupefatos. Quanto aos hassidim, ergueram-se mais alto do que os céus por seu espírito de fé e solidariedade: suas preces comuns nos dias de ano novo, sua decisão de celebrar com alegria a festa da Lei. E tudo isto teve lugar em locais onde, querendo desumanizar suas vítimas, o assassino conseguia desumanizar a si mesmo... Ainda hoje, minha razão vacila; ela não consegue alcançar o sentido oculto, a verdade brutal daquilo que vi: de um lado uma humanidade tão pura, do outro uma humanidade tão baixa, como era possível? Invocar Deus em Birkenau, à sombra das chaminés, como era possível? Como podíamos invocar Deus sobre as ruínas de Sua criação? vocês leram certo: com alegria.

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Extraordinário
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